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Corte do financiamento à UNRWA pode ser permanente, admite gestão Biden

Sede da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) na Cidade de Gaza, destruída pelos bombardeios de Israel, em 11 de fevereiro de 2024 [Karam Hassan/Agência Anadolu]
Sede da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) na Cidade de Gaza, destruída pelos bombardeios de Israel, em 11 de fevereiro de 2024 [Karam Hassan/Agência Anadolu]

Autoridades nos Estados Unidos se preparam para aceitar que a interrupção no envio de recursos à Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), com base em uma campanha de desinformação de Israel, se torne permanente, segundo informações da agência de notícias Reuters.

De acordo com relatos, a perpetuação da crise deve incorrer da oposição no Congresso, embora o governo do presidente democrata Joe Biden, em campanha à reeleição, alegue ser indispensável o trabalho humanitário da agência.

Os Estados Unidos encabeçaram uma dezena de países em um novo corte de doações à UNRWA, em janeiro, após Israel acusar 12 trabalhadores da agência — de um contingente de 30 mil pessoas — de participar da ação do Hamas de 7 de outubro.

Os cortes americanos prevaleceram desde então, apesar de Israel não emitir quaisquer detalhes ou evidências para suas acusações.

A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou, no entanto, uma investigação sobre o caso e exonerou diversos funcionários da agência. Em resposta, Suécia e Canadá prometeram a retomada das remessas.

LEIA: Diante de fome em Gaza, Suécia retoma financiamento a UNRWA

Os Estados Unidos era o maior doador da UNRWA até então, com cerca de US$300 a US$400 milhões anuais. Washington insiste em ver os resultados do inquérito, junto de “medidas corretivas”, antes de retomar seu financiamento à agência.

Caso a pausa seja suspensa, apenas US$300 mil remanescentes de um fundo pré-aprovado serão encaminhados à UNRWA. O restante exigirá aprovação do Congresso, tomado por oposição bipartidária aos trabalhos da agência, em claro viés antipalestino.

Um projeto de lei enviado ao Congresso, com apoio da gestão Biden, prevê assistência militar a Israel e Ucrânia, com uma provisão suplementar que obstrui o financiamento à UNRWA.

Oficiais americanos alegam reconhecer o “papel crítico” da agência em distribuir assistência dentro de Gaza densamente povoada, assolada pela fome após mais de cinco meses de agressão israelense. Contudo, buscam se abster das responsabilidades.

“Temos de nos planejar para o fato de que o Congresso torne a pausa permanente”, comentou Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado, à imprensa nesta terça-feira (12).

Segundo o governo democrata, Washington trabalha com parceiros em campo, como Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Programa Alimentar Mundial (PAM), para enviar socorro. No entanto, admite que a UNRWA é “difícil de substituir”.

“Há organizações proporcionando alguma assistência, mas este é o papel para o qual a UNRWA está equipada, diferente de todos os outros, devido a seu trabalho duradouro, suas redes efetivas de distribuição e sua história em Gaza”, observou Miller.

Alguns senadores democratas, como Chris Van Hollen (Maryland), junto de deputados progressistas, opõem-se à perpetuação dos cortes à UNRWA. Republicanos, no entanto, que detêm maioria na Câmara, rejeitam massivamente o trabalho da agência.

O deputado republicano Brian Mast, presidente do Subcomitê de Supervisão para Assuntos Externos, insiste que a UNRWA é uma “fachada, pura e simplesmente”.

“Ela se disfarça de entidade assistencial enquanto constroi uma infraestrutura de apoio ao Hamas. Ela literalmente [sic] canaliza dólares do contribuinte americano ao terrorismo [sic]”, argumentou o parlamentar trumpista, sem fornecer quaisquer evidências.

Mast, ex-sargento americano, tornou-se conhecido por vestir um uniforme do exército israelense em solenidades no plenário. Em 2015, voluntariou-se às tropas ocupantes. Em novembro de 2023, negou a existência de “palestinos inocentes”, ao caracterizar todos os civis de Gaza, incluindo crianças, como “nazistas”.

A UNRWA foi estabelecida em 1949, pouco após a Nakba, ou “catástrofe”, quando foi criado o Estado de Israel mediante limpeza étnica, por meio da expulsão deliberada de 800 mil palestinos de suas terras ancestrais e da destruição de 500 cidades e aldeias.

A UNRWA atende 5.9 milhões de descendentes dos refugiados da Nakba, nos territórios palestinos ocupados da Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental, além dos campos densamente povoados nos países vizinhos.

Em Gaza, a agência da ONU administra escolas, clínicas e serviços sociais, além de distribuir ajuda humanitária.

Segundo William Deere, diretor da UNRWA em Washington, recursos americanos são um terço do orçamento. “Será dificílimo de superar. Lembre-se que a UNRWA é mais que Gaza. São serviços de saúde e educação. Jerusalém, Cisjordânia, Síria, Líbano e Jordânia”.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 30 mil mortos, 70 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Dois terços das vítimas são mulheres e crianças.

As ações são retaliação a uma operação do Hamas que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.

No entanto, reportagens investigativas do jornal israelense Haaretz mostraram que parte considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de líderes militares para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.

Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

 LEIA: A história registrará que Israel cometeu um holocausto

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Palestina: quatro mil anos de história
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