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Viagem de Gantz a Washington expõe fissuras no governo em Israel

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante reunião de gabinete em Tel Aviv, em 17 de dezembro de 2023 [Menahem Kahana/AFP via Getty Images]

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, está supostamente “furioso” pela visita de seu ministro do gabinete de guerra e contumaz adversário, Benny Gantz, aos Estados Unidos, episódio que parece acentuar fissuras em Tel Aviv após cinco meses de genocídio em Gaza.

Gantz — ex-comandante máximo do exército israelense — disputou sucessivas eleições contra Netanyahu; porém, foi integrado ao gabinete de guerra após a deflagração da campanha militar contra o enclave palestino.

Gantz chegou a Washington nesta segunda-feira (5), onde se reuniu com a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, e o assessor de Segurança Nacional, Jake Sullivan.

Sua agenda desta terça-feira (5) inclui ainda o secretário de Estado, Antony Blinken, responsável pela pasta de política externa.

Uma fonte israelense, em condição de anonimato, disse à rede de notícias Associated Press que a visita de Gantz tem intuito de fortalecer laços e mobilizar apoio à guerra, além de pressionar pela soltura dos cidadãos israelenses em custódia do Hamas.

Netanyahu é alvo de protestos domésticos por não priorizar os reféns em Gaza; entretanto, réu por corrupção, insiste no conflito por receios do colapso de seu governo.

LEIA: Consciente e inconcebível: Israel mata Gaza de fome

Outra fonte israelense, do partido Likud — chefiado por Netanyahu — destacou que a visita foi planejada sem autorização do premiê. Conforme o relato, Netanyahu teve uma “conversa dura” com Gantz, para lhe assegurar que “há apenas um primeiro-ministro”.

As repercussões da viagem dão novo enfoque à crise interna israelense. Discussões acaloradas entre membros do governo se tornaram cada vez mais comuns, seja sobre o curso da guerra, o futuro de Gaza ou a cooperação internacional dadas as reivindicações por cessar-fogo.

Conforme a Casa Branca, Harris, de sua parte, reiterou o apoio de seu país a Israel; no entanto, “expressou profunda apreensão sobre as condições humanitárias em Gaza”, ao pedir a Gantz maior fluxo assistencial.

Segundo o comunicado, Harris enfatizou a importância de se firmar um acordo pela soltura dos prisioneiros de guerra israelenses em custódia do Hamas, em troca de uma “trégua imediata de seis semanas”.

Washington — junto a Egito e Catar — insiste na urgência de um cessar-fogo antes do mês islâmico do Ramadã, com início na próxima semana. Negociações de última hora, realizadas no Cairo, contudo, ocorrem sob a ausência israelense.

“Harris instou Israel a tomar medidas adicionais em cooperação com os Estados Unidos e outros parceiros internacionais para aumentar o fluxo de assistência humanitária a Gaza e garantir sua distribuição segura aos necessitados”, destacou a nota.

A viagem de Gantz coincide com pesquisas que mostram derrota do incumbente democrata Joe Biden a seu antecessor republicano Donald Trump, nas eleições de novembro. Manifestações de massa tomam os Estados Unidos, à medida que protestos nos eventos e comícios democratas se tornaram frequentes.

Eleitores progressistas — cruciais à vitória democrata em 2020 — citam o apoio “incondicional” de Biden ao genocídio em Gaza como razão para sua abstenção.

Neste contexto, Harris tomou a dianteira da matéria. No domingo (3), a vice-presidente, em ato no Alabama em memória de ativistas por direitos civis, caracterizou as condições em Gaza como “desumanas”, ao pedir um cessar-fogo.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas, que capturou colonos e soldados. Conforme o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas foram mortas na ocasião e outras 253 foram tomadas de reféns.

Contudo, desde então, reportagens investigativas do jornal israelense Haaretz confirmaram que grande parte das fatalidades incorreu de “fogo amigo”, sob ordens militares gravadas para que tanques e helicópteros disparassem contra os reféns.

Em Gaza, mais de 30 mil pessoas foram mortas pelos ataques israelenses, além de 70 mil feridos e dois milhões de desabrigados, em meio à destruição de 70% da infraestrutura civil. Hospitais, escolas, zonas residenciais, abrigos e rotas de fuga não foram poupados.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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