Com apresentação mediada pela diretora do Centro de Estudos Palestinos (CEPAL), Arlene Clemesha, os pesquisadores Nur Masalha e Ahmad Alzoubi encerraram uma semana intensiva de palestras, debates e lançamentos de livros que levaram públicos diversos a um mergulho nas raizes milenares e universais da resistência palestina que testemunhamos hoje.
![1 Autores Nur Masalha e Ahmad Alzoubi falam de seus livros lançados pela Editora MEMO, mediados pela professora Arlene Clemesha, diretora do Centro de Estudos Palestinos (CEPAL), que promove a atividade em 08 de maio de 2025, no Autidório da Casa de Cultura Japonesa, no Campus Central da USP, Cidade Universitária, em São Paulo, Brasil [Salim Hassan Hassan]](https://i0.wp.com/www.monitordooriente.com/wp-content/uploads/2025/05/1-scaled.jpg?w=456&h=257&ssl=1)
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![10 Autores Nur Masalha e Ahmad Alzoubi falam de seus livros lançados pela Editora MEMO, mediados pela professora Arlene Clemesha, diretora do Centro de Estudos Palestinos (CEPAL), que promove a atividade em 08 de maio de 2025, no Autidório da Casa de Cultura Japonesa, no Campus Central da USP, Cidade Universitária, em São Paulo, Brasil [Salim Hassan Hassan]](https://i0.wp.com/www.monitordooriente.com/wp-content/uploads/2025/05/10-scaled.jpg?w=456&h=257&ssl=1)
Toda tecnologia moderna de guerra e todo poderio econômico que sustenta o massacre sionista do último século não conseguiu demover o povo palestino da determinação de voltar à casa destruida e reconstruí-la, senão pela eliminação de vidas e aprisionamentos em massa – e isto ainda não significou entrega.
Para entender a dimensão da riqueza existencial que o povo palestino tanto defende, é importante enxergar a Palestina por um cristal de ângulos e conhecimentos legados a nós até hoje, e ele se formou ao longo de tanto tempo, que é preciso abrir uma avenida para o passado e encontrar nele a própria saga da nossa civilização. É o que faz Nur Masalha em seus livros que vão das tábuas de argilas sumérias ao jugo sionista da Palestina. É também parte da memória dos palestinos espalhados pela diáspora na América Latina, investigada pelo jornalista Ahmad Alzoubi.
Ambos cumpriram um ciclo de encontros com públicos diversos a cada dia, entre comunidade, ativistas, jornalistas, estudantes e acadêmicos, em eventos sempre abertos às pessoas que cada vez mais se interessam pelos temas da resistência Palestina.
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As palestras e debates com o público começaram na terça feira, no Espaço Cultural e Restaurante Al Janiah, que reúne tanto refugiados e militantes quanto um público de frequentadores solidário à Palestina. Prosseguiram na quarta-feira, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, com jornalistas e militantes que já se acostumaram a ter na entidade um espaço de luta contra o genocídio e denúncia dos assassinatos de jornalistas que tentam fazer a cobertura de Gaza. Finalmente. o encontro se deu no Auditório da Casa da Cultura Japonesa, promovido pelo Centro de Estudos Palestinos (CEPAL), reunindo estudantes e pesquisadores de áreas como história, antropologia, educação, e investigações específicas sobre a Palestina hoje e ontem. Na segunda-feira, o Fórum Latino Palestino promoveu um primeiro encontro de Nur Masalha com a comunidade palestina de S. Paulo no salão da Mesquita Brasil.
Gaza, centro do mundo antigo e de nossa história
São quatro mil anos de história da terra e outros tantos de produção, reprodução e compartilhamento de conhecimento e cultura. Se pensarmos que o meditarrâneo já foi o centro do mundo antigo, Gaza já foi o centro do universo, conectando Europa, África e Ásia com rotas comerciais, troca de informações, técnicas agrícolas, óleos e vinhos, filosofia, medicina e arte. A escola de Gaza trouxe ao mundo um entendimento revolucionário sobre educação: nada se aprende sem a alegria de aprender – algo que somente grandes educadores como Paulo Freire viriam a ensinar, séculos depois, e que, ainda assim, não foi aprendido pelos que tentam impor disciplina militar a crianças.
Se a filosofia helênica chega até nós através de obras preservadas, é importante aprender que muitas, na verdade, só sobreviveram através das traduções ao árabe enquanto a Europa se fechava ao conhecimento.
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O historiador Nur Masalha vai aos confins da existência palestina, com foco em registros locais e nas referências que estrangeiros fizeram à terra ao longo dos milênios. Nos encontros, foi explicado o conteúdo de cada um de seus três livros trazidos pela Editora MEMO ao Brasil, os três traduzidos por Leo Misleh ao português. O último lançamento, “Palestina através dos Milênios – Uma história das letras, aprendizado e revoluções educacionais, é fartamente dedicado ao amor da Palestina pelo conhecimento e sua transmissão. É prefaciado pelas pesquisadoras Muna Odeh e Bárbara Caramurú, que enaltecem sua pesquisa de longa duração. O livro anterior, Palestina – Quatro mil anos de história, tem prefácio no Brasil de Salem Nasser, e ele aposta que “ se alguém tivesse que escolher, com base em critérios objetivos, uma porção geográfica do mundo com possa ser vista como seu cor, não haveria qualquer excesso, qualquer absurdo, se a escolha recaísse sobre o Oriente Médio e, especificamente, sobre o Levante”.
O livro que precede esses dois volumes, Expulsão dos Palestinos – O Conceito De Transferência No Pensamento Político Sionista 1882-1948 , foi escrito há 30 anos pelo jovem pesquisador, e no entanto é assustadoramente atual. Nur é palestino nascido no norte da Galileia, onde aprendeu hebraico e pesquisou em universidade israelense. Foi lá que, durante a primeira Intifada Palestina, ele decidiu investigar o processo do sionismo anterior à Nakba de 1948. Esses documentos sionistas mostraram que, desde a escolha da Palestina como futuro lar judaico, os planos da imigração eram de expulsão dos palestinos, forçando sua transferência para outros países e constituindo sobre a terra um Estado judeu. O livro de Nur de ontem explica a intencionalidade do genocídio de hoje.
Da expulsão forçada para a diáspora na América Latina
A expulsão violenta ocorrida na Nakba de 1948 e no êxodo forçado pela Naksa de 1967 trouxe levas de palestinos para a América Latina – parte com a intenção de chegar aos Estados Unidos e ficando aqui por engano, parte em busca do apoio das primeiras famílias que migraram na época do Império Otomano. E são as descendências dessa imigração que Ahmad Alzoubi investigou em seu doutorado feito na Universidade Metodista de S.Paulo. O livro “Diáspora Palestina na América Latina – Estudos de mídia e identidade, prefaciado pelo diretor internacional do Monitor do Oriente Médio, Daud Abdullah, trata da preservação da identidade e dos laços palestinos por filhos e netos de palestinos que hoje vivem no Brasil, Chile, Argentina, Honduras e El Salvador. Nesses países, ele observa que muitos pertencem à elite política e econômica e têm posições pró-direita em vários assuntos, mas com poucas exceções – como é o caso do presidente de El Salvador, Naybi Bukele, de extrema direita – todos sempre estão ligados à causa Palestina e grande parte mantém inclusive seus canais de ajuda e comunicação com as famílias alargadas – geração atual de parentes que permaneceram na Palestina.
Alzoubi, em sua pesquisa, tem foco na comunicação – em como os palestinos-latino-americanos se informam e dialogam com a atualidade palestina. E, infelizmente, constata que isso não se dá pelas mídias nos países pesquisados, pelo fato de que elas repetem o antigo problema denunciado pelo Relatório MacBride em 1980 – denúncia tão grave que levou ao fim da própria Comissão MacBride: a mídia concentrada nas potências do hemisfério norte orienta a mídia e a narrativa nos países do sul. “A extrema necessidade de quebrar esse monopólio não pode ser subestimada”, alerta Daud Abdullah em seu prefácio.
Fontes preciosas para escapar dos mitos e distorções
A realidade encontrada pela diáspora na midia árabe contrasta com a cobertura da Palestina na grande mídia ocidental – focada em fatos isolados, descontextualizados da história e relativizando o atual genocídio. Qualquer possibilidade de reverter essa narrativa, em favor dos fatos investigados, é destruída preventivamente por Israel ao promover a maior matança de jornalistas em guerra que se tem na história. Os casos foram relembrados pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas, Thiago Tanji, que mediou o debate com um público composto por vários profissionais de mídia, a maioria atuando na mídia pública e alternativa.
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Como pesquisador em Jornalismo Humanitário e de Paz (Grupo HumanizaCom/ UMESP), Alzoubi aponta que a mídia pode e deve “desempenhar um papel fundamental na defesa dos direitos humanos e da justiça social”, conforme assegura o diretor do Centro de Estudos Árabes da Universidade do Chile, Kamal Andrés Cumsille Marzouka, que apresenta o livro.
Nur Masalha alerta que as omissões sobre a Palestina se espalham por outros tipos de mídia, gerando o apagamento que se constata nos mapas e nas livrarias. Seu livro sobre os documentos sionistas que pregam limpeza étnica foi escrito há três décadas, mas só agora chega ao Brasil, e por uma editora dedicada à cobertura do Oriente Médio e comprometida com a divulgação da causa pela libertação da Palestina.
As obras apresentadas e debatidas esta semana em S.Paulo são essenciais para quem busca se desprender das amarras narrativas impostas à imprensa e ao debate público, viajar pela história palestina e pela própria história da humanidade, e enxergar a Palestina que resiste à sua volta, aqui mesmo, na América Latina.
Mais uma vez, a Palestina se relaciona com o resto do mundo colocando em questão os princípios das instituições internacionais criadas no pós-guerra e que, em tese, deveriam assegurar a paz e a segurança dos povos contra ocupações coloniais e genocídios. Não é só o passado civilizatório que comungamos, por exemplo, através do alfabeto e das matemáticas. Também o que estamos fazendo e faremos diante do genocídio será parte da história, não apenas da Palestina, mas da nossa.