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Blinken retorna ao Oriente Médio, tensões com Israel ganham destaque

Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reúne-se com premiê israelense Benjamin Netanyahu, em Jerusalém ocupada, em 7 de fevereiro de 2024 [Divulgação/Agência Anadolu]

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, chegou à Arábia Saudita nesta quarta-feira (20), em uma nova turnê no Oriente Médio, para tentar conquistar um cessar-fogo na Faixa de Gaza, em meio a uma crise de relações públicas em seu país e no exterior e persistente negativa israelense sobre os apelos de Washington.

As informações são da agência de notícias Reuters.

Em Gaza, esperanças de um cessar-fogo às vésperas do Ramadã, nos quase seis meses de genocídio, foram devastadas pela obstinação israelense, há algumas semanas.

Neste entremeio, uma crise de fome tomou conta de Gaza, enquanto Israel voltava a atacar o Hospital al-Shifa, na cidade homônima, maior complexo de saúde do enclave sitiado.

Blinken deve reunir-se com o príncipe herdeiro e governante de facto da Arábia Saudita,

Mohammed Bin Salman, e então viajar ao Egito, nesta quinta-feira (21), e a Israel novamente, no dia seguinte. Segundo o Departamento de Estado, Blinken decidiu visitar o país aliado somente após chegar na Arábia Saudita; contudo, sem explicação para a omissão de Israel no itinerário inicial.

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Na quinta-feira, o premiê israelense Benjamin Netanyahu voltou a rechaçar apelos do presidente americano Joe Biden para derrogar seus planos de invasão por terra à cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, que abriga hoje 1,5 milhão de refugiados.

Netanyahu afirmou no Knesset (parlamento) ter deixado “absolutamente claro” a Biden, durante telefonema, sua “determinação em exterminar os batalhões presentes em Rafah, e que não há maneira de fazê-lo sem uma operação por terra”. No entanto, novamente não apresentou provas sobre a suposta presença militar em Rafah.

A cidade na fronteira com o Egito, originalmente com 300 mil habitantes, abriga hoje mais da metade da população de Gaza, deslocada pela varredura israelense na direção norte-sul, apreensiva transferência compulsória ao deserto do Sinai, objetivo de guerra denunciado por analistas e proclamado abertamente por lideranças sionistas.

Washington insiste que uma invasão por terra seria um “erro”, deixando enormes civis.

Biden sofre crise interna, em plena campanha eleitoral na qual deverá voltar a concorrer com seu o ex-presidente republicano, Donald Trump. Eleitores progressistas — essenciais a sua vitória em 2020 — citam o genocídio em Gaza como razão para se abster do voto.

Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado, disse que um dos objetivos de Blinken é discutir “como derrotar o Hamas” com os líderes em Israel. “Inclusive em Rafah, de modo a proteger a população civil, preservar a entrega humanitária e avançar nos objetivos de segurança do Estado israelense”.

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Apesar de Israel alegar ter planos para evacuar os palestinos em Rafah a “ilhas humanitárias”, as famílias deslocadas não têm, na prática, lugar para ir.

Tensões públicas entre Tel Aviv e Washington são raríssimas desde a criação de Israel em maio de 1948, mediante limpeza étnica, na ocasião da Nakba, ou “catástrofe” palestina.

Na semana passada, o senador Chuck Schumer, conhecido apoiador de Israel e líder do Partido Democrata na Câmara, reivindicou eleições antecipadas para substituir Netanyahu. O presidente americano saudou sua fala; o premiê israelense a condenou.

Netanyahu parece cada vez mais comprometido com opositores políticos de Biden, ao comparecer a entrevistas na rede de extrema-direita Fox News. Uma fonte alegou que o premiê espera conversar por videoconferência com senadores republicanos nesta semana.

Israel negou sucessivas propostas de cessar-fogo apresentadas pelos mediadores internacionais — Estados Unidos, Egito e Catar —, aprovadas pelo Hamas. Washington buscou adotar uma trégua de seis semanas, incluindo troca de prisioneiros; contudo, sem aval.

Segundo Osama Hamdan, oficial do Hamas em Beirute, Israel rejeitou elementos do acordo com os quais havia concordado previamente, sugerindo sabotá-lo.

O Índice de Fome Global alertou nesta semana que um milhão de pessoas estão sob risco de inanição, caso não haja um cessar-fogo. Conforme observadores — incluindo o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell — a fome é usada como arma de guerra pelas autoridades ocupantes.

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Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do movimento Hamas que capturou colonos e soldados. De acordo com o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.

No entanto, reportagens do jornal israelense Haaretz revelaram que uma parte considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de líderes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.

Em Gaza, são 31.923 palestinos mortos e 74.096 feridos, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de pessoas desabrigadas pelas ações de Israel.

Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, emitida em 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto contra a Faixa de Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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