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Censura ocidental a críticos de Israel supera repressão chinesa, alerta Ai Weiwei

Artista e dissidente chinês Ai Weiwei, ao lado do historiador Jon Wiener, em Los Angeles, Califórnia, 2 de outubro de 2017 [Ottowoods/Wikimedia/Creative Commons 4.0]

Ai Weiwei, celebrado artista contemporâneo chinês, advertiu contra a repressão à liberdade de expressão nos países ocidentais no que se refere ao apartheid e genocídio de Israel, ao associá-la à censura imposta pelo Partido Comunista Chinês a seus dissidentes.

Ai — eloquente apoiador da causa palestina, dentre outras causas de libertação nacional — se tornou celebrado no Ocidente por criticar o governo de seu país natal. No entanto, aos 66 anos, no exílio desde 2015, diz sofrer esforços para silenciá-lo análogos à repressão chinesa.

Segundo o artista, galerias de arte em Londres e Paris cancelaram quatro exposições até então, devido a uma postagem crítica em sua página pessoal ao financiamento dos Estados Unidos à campanha militar israelense na Faixa de Gaza.

Ai descreveu a reação como “desvairada”.

“Eu cresci em um ambiente de pesada censura política”, relatou Ai em entrevista ao programa Sunday Morning, da emissora de televisão britânica Sky. “Percebo agora que, hoje, no Ocidente, vocês fazem exatamente a mesma coisa”.

O artista confirmou enxergar uma “repressão bastante preocupante” à liberdade de expressão nos países ocidentais no que diz respeito a críticas legítimas ao Estado de Israel e às suas ações armadas de expansão colonial na Palestina ocupada.

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Ao comparar a experiência com o autoritarismo em Pequim, declarou o artista: “Estou surpreso. Penso que deveríamos viver em uma pequena sociedade livre na qual todos os tipos de vozes e opiniões divergentes pudessem existir”. Todavia, há um “retrocesso no que se refere à liberdade de expressão e aos direitos humanos”.

Segundo Ai, a censura a ativistas e campanhas pró-Palestina no Ocidente se tornou “ainda mais ridícula” que a repressão imposta a figuras dissidentes no território chinês.

Ai observou que universidades e redes de imprensa nos Estados Unidos e na Europa assumiram posições de repressão cotidiana a perspectivas divergentes, sobretudo em relação ao genocídio em Gaza e à causa palestina. “Você não pode falar a verdade”, lamentou o artista.

Conforme seu alerta, trata-se ainda de uma violação da liberdade artística e de manifestação.

Em outra entrevista concedida a Amy Goodman, da rede Democracy Now, Ai reforçou paralelos entre a repressão chinesa e a censura à solidariedade palestina no Ocidente.

Ai relembrou passar 81 dias em uma prisão chinesa devido a seu ativismo, mas insistiu sentir ter o dever, como artista, de “lutar pela dignidade humana, por direitos humanos fundamentais e pela liberdade de expressão”.

Ai instou indivíduos e governos no Ocidente a “repensar seus valores” e preservar os princípios de liberdade de expressão e democracia que alegam defender.

Para ele, caso o espaço público para o diálogo continue a erodir, há um risco real de que a crise se desenvolva a uma “possível Terceira Guerra Mundial”.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, destruindo cerca de 60% da infraestrutura civil e deixando ao menos 28.340 mortos e 67.984 feridos, além de dois milhões de desabrigados.

As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.

 

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