Primeira produção em árabe da Netflix é perseguida no Egito por ‘ofender a sociedade’

O parlamentar egípcio Mostafa Bakry registrou uma queixa contra a obra de ficção Perfect Strangers, primeiro filme em árabe produzido pelo Netflix, sob pretexto de que o conteúdo “ofende a maioria da sociedade do Egito”.

Bakry demandou boicote à gigante do streaming devido a um personagem homossexual e um relato de adultério. Na comédia, sete amigos se sentam juntos e concordam em compartilhar publicamente mensagens e telefonemas que recebem ao longo do jantar.

Estrelando em Perfect Strangers (em árabe, Ashab wala A’azz) está Mona Zaki, atriz egípcia criticada em seu país por participar de peças que supostamente “contrariam valores morais”.

A obra é uma coprodução entre Egito, Líbano e Emirados Árabes Unidos e remake do filme italiano Perfetti sconosciuti, de Paolo Genovese, lançado em 2016.

Segundo o advogado egípcio Ayman Mahfouz, o filme é parte de um complô estrangeiro, liderado por Zaki, para “sabotar” a comunidade árabe. Mahfouz registrou um pedido judicial para remover o título do Netflix e ameaçou processar o Ministério da Cultura para fazê-lo.

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O Egito tem histórico de perseguição contra a comunidade LGBT. Em 2020, a ativista homossexual Sara Hegazy cometeu suicídio, três anos após ser presa e torturada por supostamente filiar-se a um grupo ilegal e promover a “devassidão sexual”.

Dois anos atrás, autoridades detiveram um homem que acompanhava uma testemunha do infame caso de estupro coletivo do Hotel Fairmont; segundo relatos, o motivo da prisão foi a orientação sexual do rapaz.

Além disso, diversas meninas e mulheres influencers foram presas no país por “ofender a moral pública”, ao passo que o regime militar de Abdel Fattah el-Sisi passou a utilizar tais alegações para reprimir todos os setores da sociedade, incluindo postagens nas redes sociais.

A conhecida dançarina Sama el-Masry, a atriz Rania Youssef e influencers da rede TikTok — que tornaram-se conhecidas como “meninas do TikTok” — foram todas perseguidas sob acusações similares, incluindo promover a “prostituição” nas plataformas digitais.

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