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Ken Loach é expulso do Partido Trabalhista em recente ‘caça às bruxas’

Cineasta britânico Ken Loach [Georges Biard/Wikipedia]

Ken Loach, premiado cineasta britânico e eloquente apoiador da causa palestina, foi expulso do Partido Trabalhista do Reino Unido, conforme anunciou em sua página do Twitter no último sábado (14), sob choque e repúdio de milhares de seguidores.

“O quartel-general do partido enfim decidiu que não me adequo como membro”, relatou Loach, ao destacar que sua recusa em “renegar aqueles já expulsos” motivou sua exclusão.

Loach referiu-se assim a relatos divulgados no último mês de que o líder trabalhista Keir Starmer preparava um expurgo contra diversos grupos de apoio ao povo palestino, incluindo correligionários de destaque, como seu predecessor Jeremy Corbyn.

Nas redes sociais, Loach — atacado por associações sionistas nos últimos anos — descreveu a onda de expulsões como “caça às bruxas” de Starmer, notório apoiador de Israel.

“Tenho orgulho de permanecer ao lado de bons amigos e camaradas vitimizados pelo expurgo”, declarou o cineasta de 85 anos. “Trata-se de fato de uma caça às bruxas … Starmer e sua turma jamais conduzirão um partido do povo”.

Ken Loach anuncia sua expulsão do Partido Trabalhista britânico

Colegas e parlamentares do partido, além de outras figuras públicas, expressaram solidariedade a Loach, cujos filmes aclamados costumam abordar a pobreza e injustiça social.

“É uma vergonha que o partido receba de volta gente como Trevor Phillips, que proferiu uma torrente de comentários profundamente islamofóbicos, enquanto expulsa Ken Loach, renomado cineasta cuja arte dá voz aos oprimidos”, comentou a parlamentar Zarah Sultana.

Notícias da reintegração de Phillips, em julho último, despertaram indignação e acusações ao partido de tornar-se tolerante ao racismo endêmico contra muçulmanos.

Parlamentar Zarah Sultana rechaça expulsão de Loach do Partido Trabalhista

Yanis Varoufakis, proeminente professor de economia, também comentou o caso: “Espero que seja fake news. Caso contrário, tudo que [Starmer] conseguiu foi expulsar a alma do partido … ainda mais pobre do que sob [Tony] Blair e seus cúmplices em crimes de guerra”.

Economista Yanis Varoufakis rechaça expulsão de Loach do Partido Trabalhista

Com a retirada de forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) do território afegão e a queda de Cabul, a referência de Varoufakis ao ex-primeiro-ministro Tony Blair reflete um alerta sobre o papel do ex-líder trabalhista na invasão do Afeganistão.

Blair foi um dos principais arquitetos da “guerra ao terror” — campanha populista que delonga décadas e que produziu alguns dos maiores fracassos internacionais na história britânica.

Em defesa da intervenção militar no Afeganistão, na conferência do partido em 2001, declarou Blair: “Ao povo afegão, faço este compromisso — o conflito não será o fim. Não viraremos as costas como o mundo externo o fez muitas vezes antes”.

A menção de Blair neste contexto serve ainda de resposta ao apelo de Starmer para que seja preservado o legado do ex-premiê, que também serviu como enviado ao chamado Quarteto do Oriente Médio, criado para mediar a questão Israel-Palestina.

Blair permaneceu no cargo por oito anos, entre 2007 e 2015, em um mandato duradouro amplamente visto como um enorme fracasso.

LEIA: O lucrativo lobby de Israel

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