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Artista argelino constrói memorial aos refugiados mortos no Mediterrâneo

Artista argelino Rachid al-Qurashi em seu ‘Jardin d’Afrique’, ou Jardim da África, um cemitério memorial para os refugiados mortos no Mar Mediterrâneo, na cidade portuária de Zarziz, sul da Tunísia, perto da fronteira líbia, 1° de junho de 2021 [Fathi Nasri/AFP via Getty Images]

O artista argelino Rashid al-Qurashi projetou um cemitério memorial na cidade portuária de Zarzis, no sul da Tunísia, para o enterro simbólico de refugiados que perderam suas vidas no Mar Mediterrâneo, em busca de uma vida melhor na Europa.

Qurashi comentou a história de sua obra, denominada “Jardin d’Afrique” — o Jardim da África.

Conforme o relato, a ideia foi de sua filha, após ler um artigo sobre as dificuldades funerárias enfrentadas pelos refugiados em Zarzis, em meados de 2018.

Pai e filha então viajaram à cidade para testemunhar os desafios mencionados. Quando chegaram, descobriram que o cemitério destinado aos refugiados ficava dentro de um aterro sanitário; segundo ambos, uma imagem devastadora.

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Hoje, o Jardim da África cobre 2.500 metros quadrados, cercado por muros. Os túmulos são decorados com flores e sinais em tributo, incluindo nome e data de óbito.

O artista também construiu locais de orações para refugiados de diferentes religiões.

“Há corpos de muçulmanos, cristãos e budistas neste cemitério”, observou Qurashi. “Por exemplo, alguns refugiados que faleceram eram bengalis. Durante a obra, prometi a Deus que todos os sepulcros seriam tratados iguais. Agora, não há diferença”.

Qurashi destacou que, entre seus objetivos, também está fornecer a famílias de desaparecidos uma chance de encontrar seus entes queridos.

“Também queremos ter a oportunidade de conhecer quem são os parentes e amigos dos desaparecidos”, acrescentou o artista. “Apenas dez pessoas foram identificadas até então neste vasto cemitério; ainda assim, é um avanço positivo”.

‘Jardin d’Afrique’, ou Jardim da África, cemitério memorial para os refugiados mortos no Mar Mediterrâneo, na cidade portuária de Zarziz, sul da Tunísia, perto da fronteira líbia, 1° de junho de 2021 [Fathi Nasri/AFP via Getty Images]

Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, com uma criança refugiada, ao lado do artista argelino Rashid al-Qurashi, durante visita ao Jardin d’Afrique, ou Jardim da África, em Zarzis, Tunísia, 9 de junho de 2021 [Fathi Nasri/AFP via Getty Images]

‘Jardin d’Afrique’, ou Jardim da África, cemitério memorial para os refugiados mortos no Mar Mediterrâneo, na cidade portuária de Zarziz, sul da Tunísia, perto da fronteira líbia, 1° de junho de 2021 [Fathi Nasri/AFP via Getty Images]

Sobre as razões pessoais que o levaram ao projeto, recordou Qurashi: “Meu irmão mais velho também se afogou no Mediterrâneo, há muitos anos. Jamais encontramos seu corpo”.

“Minha mãe ainda perguntava dele em seu leito de morte”, prosseguiu. “Perder um filho é difícil demais para uma mãe e não ter onde enterrá-lo aprofunda essa dor”.

O artista argelino — cujo trabalho já foi exposto nos Estados Unidos e Grã Bretanha, entre outros — descreveu seu Jardim da África como um primeiro palácio mundano, para que os refugiados possam repousar com dignidade antes de seus palácios pós-vida.

“Busquei construir seus palácios na terra”, reafirmou.

A migração irregular ao continente europeu continua, sobretudo por crises socioeconômicas e humanitárias na região.

Ao menos quinhentas pessoas morreram no Mediterrâneo, segundo Carlotta Sami, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

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