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Irlanda mostra o caminho sobre a anexação israelense da Palestina ocupada

Manifestantes exibem bandeiras palestinas em protesto contra o apartheid israelense em Belfast, Irlanda do Norte, 5 de fevereiro de 2019 [Clodagh Kilcoyne/Getty Images]
Manifestantes exibem bandeiras palestinas em protesto contra o apartheid israelense em Belfast, Irlanda do Norte, 5 de fevereiro de 2019 [Clodagh Kilcoyne/Getty Images]

No que concerne à Palestina, a República da Irlanda continua a mostrar o caminho sobre como tratar as violações israelenses da lei internacional. Uma recente moção de denúncia do partido social-democrata Sinn Fein, com o intuito de condenar a anexação de fato de terras palestinas pela ocupação, foi aprovada com unanimidade no Oireachtas, o parlamento irlandês. A decisão tornou a Irlanda o primeiro estado europeu a utilizar uma terminologia política adequada para descrever a última campanha de expropriação ilegal israelense. Não obstante, emendas à moção — incluindo a expulsão do embaixador de Israel em Dublin e apelos por sanções — ainda demandam apoio suficiente.

É claro, Israel não hesitou: “A posição reflete uma política descaradamente simplista e parcial”; A chancelaria israelense descreveu ainda a moção do Sinn Fein como “vitória de facções palestinas extremistas”.

No entanto, é justamente a dependência da narrativa israelense sobre alegações simplistas que finalmente está sob risco. Por décadas, a União Europeia reproduziu comentários generalistas das Nações Unidas sobre a Palestina. Mesmo quando o “acordo do século” ameaçou desestabilizar a zona de conforto dos diplomatas europeus — isto é, a chamada solução de dois estados —, não houve qualquer esforço real para denunciar os avanços da colonização israelense.

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De fato, a postura da Irlanda é complexa — dar o devido nome às coisas à medida que o processo colonial persevera. A expropriação tornou-se reflexo da abordagem humanitária adotada pela comunidade internacional, à medida que dissociou, com enorme habilidade e hipocrisia, os refugiados palestinos do roubo de suas terras. Com a eliminação do próprio vínculo entre a expansão dos assentamentos ilegais e o deslocamento forçado da população nativa, Israel desfruta de zero pressão política para alterar seu curso.

Manifestantes exibem bandeiras palestinas em protesto contra o apartheid israelense em Belfast, Irlanda do Norte, 5 de fevereiro de 2019 [Clodagh Kilcoyne/Getty Images]

Manifestantes exibem bandeiras palestinas em protesto contra o apartheid israelense em Belfast, Irlanda do Norte, 5 de fevereiro de 2019 [Clodagh Kilcoyne/Getty Images]

Antes da votação em Dublin, o Ministro de Relações Exteriores da Irlanda Simon Coveney observou: “A escala, ritmo e natureza estratégica das ações israelenses sobre sua expansão colonial e o intento por trás nos levou ao ponto de demandar honestidade de nossa parte, sobre o que realmente acontece em campo … Trata-se de anexação de facto”.

A moção irlandesa estabelece um precedente entre os países da União Europeia, que ainda pretende manter laços com Israel, apesar de breves notas de repúdio sobre a ocupação. A iniciativa de Dublin é notavelmente distinta da confortável retórica europeia referente à limpeza étnica no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém ocupada, por exemplo — segundo a qual, a expropriação de terras e anexação foi reduzida a “medidas que exacerbam tensões e prejudicam a viabilidade da solução de dois estados”. Que belo puxão de orelha, não acha? À medida que a campanha de expropriação do estado ocupante foi convertida em “confrontos”, segundo a narrativa convencional, a União Europeia preteriu a precisão dos fatos para encobrir na prática a política de anexação ilegal israelense. É tudo que Israel precisa e é justamente por essa razão que o estado colonial agora precisa desacreditar o recente acerto político da Irlanda, em uma tentativa de impedir que sua postura ganhe tração internacional.

O que fez Dublin é o que os palestinos tanto precisam em termos de solidariedade internacional. Esqueça a tentativa da Autoridade Palestina em assumir um protagonismo descabido, ao descrever a honestidade irlandesa como “verdade que os palestinos articulam há décadas”. É verdade, os palestinos sempre mantiveram suas denúncias sobre as perdas territoriais — ao contrário de seus líderes, que contestam a colonização e a anexação apenas quando interessa. Caso a Autoridade Palestina seja tão favorável assim à postura da Irlanda, é preciso assumir uma abordagem mais clara, ao invés de adular notas de repúdio improfícuas da Europa, que servem apenas à expropriação israelense de mais terras palestinas.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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