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O Irã venceu a guerra com uma resposta desafiadora — Israel perdeu

4 de julho de 2025, às 06h00

Milhares se reúnem nas praças de Teerã, em protesto aos ataques de Israel, em 20 de junho de 2025 [Fatemeh Bahrami/Agência Anadolu]

Na noite da última segunda-feira (23), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um suposto cessar-fogo entre Israel e Irã, para entrar em vigor em questão de horas.

É claro, como muito do que diz Trump, é preciso ter cautela ao assumir o anúncio, mas, ao menos por ora, parece ter atenuado o frenesi de duas semanas desde a agressão de Israel ao Estado persa. Neste entremeio, Teerã retaliou e Washington entrou na briga, com ataques a instalações nucleares, culminando em uma resposta iraniana meticulosa contra bases militares americanas na região.

Israel havia sugerido anseio por uma desescalada no fim de semana anterior. Talvez, os tomadores de decisão no Estado colonial sionista houvessem subestimado a reação ou assumido confiança excessiva nos danos impostos às capacidades militares.

Relatos surgiram de que o enviado americano Steve Witkoff estivera em contato direto com o lado iraniano durante todo o tempo.

O que transcorreu nos dias derradeiros da crise, entre Irã e Estados Unidos, aparentou ser mais uma questão de teatro do que de guerra, similar às tensões coreografadas de cinco anos atrás após o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani.

Líderes políticos em Washington aventaram alegações bombásticas sobre um suposto golpe devastador imposto às instalações nucleares de Fordow, Natans e Isfahan. Ainda assim, análises militares adotaram prudência em corroborar os danos, particularmente ao sítio de enriquecimento de urânio de Fordow, que repousa sob a montanha.

O tempo dirá, mas não parece haver entusiasmo.

Para além das distorções ocidentais

Fordow é o coração do programa nuclear iraniano, com centrífugas avançadas capazes de enriquecer urânia para além dos limites militares de 90%. O Irã já possui, estima-se, cerca de 400 kg de urânio enriquecido a 60%. Chegar aos noventa, parece iminente, no entanto, não implica imediatamente em uma bomba nuclear. Ao contrário, significa ter material para montar uma ou outra, embora o processo possa levar anos.

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Em março, a vasta comunidade de inteligência americana, por meio da diretora da CIA Tulsi Gabbard, assegurou ao Congresso que Teerã não estaria próximo de construir um armamento nuclear. Aos trancos e barrancos, a conclusão foi corroborada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

No fim de semana retrasado, ao ordenar ataques aos sítios nucleares iranianos, Trump, porém, ignorou todas essas análises. Contestado por jornalistas, seu fiel secretário de Estado, Marco Rubio, chegou a alegar irrelevância das ponderações de inteligência. Se dezenas de bilhões de dólares do contribuinte americano se destinam anualmente ao maior aparato de inteligência do planeta, parece igualmente irrelevante a seus líderes, que preferem a bel-prazer ignorar suas descobertas.

Horas após a retaliação performática de Teerã, na segunda, Trump pregou um acordo. Caso o cessar-fogo perdure e caso abra caminho um novo acordo nuclear, o presidente cantará vitória, ao promover a si mesmo, a sua desalentada base de ultradireita, como um negociador hábil e “homem da paz”.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sairá como o maior derrotado. Não conquistou, tudo indica, nem a destruição do programa nuclear iraniano tampouco sua tão desejada intervenção americana a uma confrontação prolongada em toda a região. Ao que parece, seu sonho de décadas de derrubar o regime em Teerã, seguirá assim: nada mais que um sonho.

Para além de todas as distorções da mídia ocidental, todavia, o verdadeiro vencedor — sem louros, é claro — é o aiatolá Ali Khamenei. O Irã, em último caso, resistiu à pressão conjunta e sem precedentes de Israel e Estados Unidos, demonstrou notável potencial de retaliação e impôs perdas duras aos onerosos sistemas de defesa da ocupação.

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Esta é a maior lição não somente para a região como para todo o mundo — sobretudo o Sul Global, que tanto almeja relevância. 

Quanto à Europa e às declarações absurdas de seus principais líderes, emitidas após os ataques de Israel e Estados Unidos ao Irã, estes vão parar onde merece sua hipocrisia: na lata do lixo da história.

Este artigo foi publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 26 de junho de 2025.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.