Enquanto a guerra lançada por Israel contra o Irã incendeia o Oriente Médio, a economia global oscila à beira de uma crise sem precedentes. Os ataques de Israel à infraestrutura essencial do Irã e as respostas retaliatórias de Teerã abalaram os mercados de energia e soaram o alarme para as economias dos EUA, Israel e do mundo em geral. O Estreito de Ormuz — por onde passam 20% do petróleo mundial e um quarto do gás natural liquefeito — está sob ameaça de fechamento, e a mera possibilidade de tal cenário elevou os preços da energia a níveis catastróficos. Para os Estados Unidos — já sobrecarregados com uma dívida de US$ 37 trilhões, inflação crônica e fadiga generalizada devido a envolvimentos estrangeiros — um envolvimento em larga escala neste conflito pode significar suicídio econômico e geopolítico.
Choque implacável nos mercados de energia
Acima de tudo, a guerra Irã-Israel colocou em risco os mercados globais de energia. O Estreito de Ormuz, por onde passam diariamente 20 milhões de barris de petróleo — um quinto do suprimento global — e um quarto do GNL global, agora enfrenta uma crise devido às ameaças iranianas de fechamento. Ataques israelenses à infraestrutura petrolífera iraniana, incluindo a Ilha de Kharg — responsável por mais de 90% das exportações de petróleo do Irã — interromperam o fornecimento global. Segundo a Bloomberg, os preços do petróleo Brent subiram de US$ 72 no início de junho de 2025 para US$ 78 por barril, e analistas do Goldman Sachs alertam que o fechamento de Ormuz pode elevar os preços para US$ 150 ou até mais.
Para os EUA, tal choque do petróleo teria consequências devastadoras. Cada aumento de US$ 10 no preço do petróleo eleva a inflação ao consumidor em 0,5%. Se os preços atingirem US$ 130 por barril, a inflação nos EUA poderá saltar para 5,5%, forçando o Federal Reserve (Fed) a aumentar as taxas de juros — uma medida que pode prejudicar a frágil recuperação econômica. Os preços da gasolina, atualmente em torno de US$ 4 por galão, podem subir para US$ 7 ou mais, colocando uma pressão insuportável sobre as famílias americanas que já enfrentam altos custos de vida. A Clear View Energy Partners estima que esse aumento de preço poderia adicionar até US$ 2.500 por ano às despesas com combustível das famílias. Setores-chave como transporte, indústria e agricultura enfrentariam custos crescentes, ameaçando o crescimento econômico de 2% previsto pelo FMI para 2025.
Israel também não está imune a esse choque energético. O fechamento dos campos de gás Leviathan e Karish — que fornecem dois terços do gás do país — forçou Israel a recorrer a combustíveis mais caros, como carvão e óleo combustível. Isso aumentou os custos domésticos de energia e interrompeu as exportações de gás para o Egito e a Jordânia, reduzindo a receita de Israel em moeda estrangeira.
Consequências globais: Inflação, recessão e colapso da cadeia de suprimentos
A guerra Irã-Israel ameaça a economia global com o aumento dos preços da energia, interrupções na cadeia de suprimentos e pressões inflacionárias. Os preços mais altos do petróleo elevam os custos de produção em setores críticos como petroquímicos, plásticos e agricultura, elevando os preços dos bens de consumo em todo o mundo. Países asiáticos como Índia, Japão e Coreia do Sul — que dependem fortemente de importações de petróleo — enfrentam esses choques com reservas limitadas e crescente pressão cambial. Na Europa, que recorreu ao GNL do Golfo após o corte do gás russo, a interrupção no Estreito de Ormuz pode fazer os preços da energia dispararem e empurrar economias já lentas para a recessão.
Os mercados financeiros globais também estão tremendo. Após os ataques iniciais de Israel em 13 de junho de 2025, o índice S&P 500 dos EUA caiu 2% e o STOXX 600 da Europa caiu 1,8%. A Capital Economics prevê que uma guerra regional mais ampla poderia reduzir o crescimento global em 0,4% e aumentar a inflação em 1,5%, empurrando o mundo para uma “estagflação” semelhante à da década de 1970. Ataques intensificados por aliados iranianos, como os houthis no Mar Vermelho, aumentaram os custos do seguro marítimo em até 30%, interrompendo as cadeias de suprimentos globais. Para os EUA — altamente dependentes de importações asiáticas — isso significa preços mais altos e escassez de bens essenciais.
Israel também enfrenta uma crise econômica interna cada vez mais profunda. Conforme apurou o Monitor do Oriente Médio, a guerra está custando ao país US$ 200 milhões por dia — o equivalente a 5% do seu PIB em 2025. O economista israelense Yaakov Sheinin alertou que um conflito prolongado com o Irã poderia eliminar 20% do PIB de Israel e levar o país a uma crise financeira generalizada.
Riscos estratégicos para os Estados Unidos
O envolvimento total dos EUA nesta guerra acarreta riscos econômicos e geopolíticos sem precedentes. Com US$ 37 trilhões em dívida nacional e um déficit anual de US$ 1,8 trilhão, os EUA não podem se dar ao luxo de outra guerra no Oriente Médio. A experiência do Iraque — que custou mais de US$ 2 trilhões — mostra como tais intervenções drenam os recursos nacionais. O general Douglas Macgregor alertou que a defesa contra os drones iranianos de US$ 20.000 com mísseis Patriot de US$ 4 milhões esgotaria rapidamente o orçamento militar dos EUA. Além disso, os 40.000 soldados americanos estacionados no Golfo Pérsico são vulneráveis a ataques de mísseis iranianos, com risco de pesadas perdas humanas e financeiras.
Geopoliticamente, a intervenção americana ameaça suas alianças globais. Os países europeus, que apoiam a diplomacia nuclear com o Irã, provavelmente se oporão a ações militares unilaterais dos EUA. China e Rússia — ambas diplomaticamente alinhadas com o Irã — poderiam explorar o caos para expandir sua influência no Oriente Médio, enfraquecendo ainda mais a posição global dos Estados Unidos. Kyle Rodda, analista de mercados financeiros, disse à Al Jazeera que uma grande guerra poderia comprometer a rivalidade estratégica entre EUA e China, desviando recursos americanos para o Oriente Médio.
Internamente, o apoio público à intervenção militar é baixo. Uma pesquisa da YouGov realizada em junho de 2025 mostrou que uma clara maioria dos americanos se opõe ao envolvimento na guerra Irã-Israel, com apenas uma pequena minoria a favor. O aumento dos preços da gasolina e a inflação podem alimentar o descontentamento público e a instabilidade política, especialmente com a aproximação das eleições de meio de mandato de 2026.
Uma guerra que pode destruir a economia global
A guerra Irã-Israel é uma ameaça existencial para as economias dos EUA, de Israel e do mundo. Choques do petróleo, inflação crescente e interrupções na cadeia de suprimentos são apenas parte das consequências. Para os Estados Unidos, entrar nesta guerra significaria preços exorbitantes da gasolina, recessão econômica e uma posição global enfraquecida — tudo isso enquanto seu público e aliados se opõem a tal medida. Israel enfrenta custos financeiros e econômicos devastadores que podem paralisar sua economia. A diplomacia, por mais difícil que seja, continua sendo a única maneira de evitar esta tempestade econômica. Os Estados Unidos precisam aprender com seus erros passados no Iraque e no Afeganistão e exercer moderação, abrindo caminho para as negociações. O mundo está à beira de um precipício — e somente a sabedoria diplomática pode tirá-lo da beira do precipício.
LEIA: Quanto mais Israel mata, mais o Ocidente o retrata como vítima
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.