Um novo estudo revelou que ao menos 75.200 palestinos foram mortos em atos diretos de violência israelense em Gaza, entre outubro de 2023 e janeiro de 2025, além de 8.540 fatalidades indiretas — como fome, doença e colapso do sistema de saúde — elevando as baixas do genocídio a quase 84 mil pessoas.
Trata-se de um índice 40% maior do que a mortalidade reportada oficialmente pelo Ministério da Saúde de Gaza para o mesmo período, em torno de 45.650 mortes — atualizada, em junho, para 56 mil mortos.
O estudo — Mortes violentas e não-violentas em Gaza: Novas evidências — apresenta resultados de uma pesquisa de larga escala do Gaza Mortality Survey (GMS), ao compor a estimativa mais abrangente e cientificamente embasada sobre as baixas da guerra até então.
A pesquisa foi conduzida por um coletivo acadêmico internacional, incluindo: Michael Spagat, da Universidade de Londres; Jon Pedersen, (independente), Khalil Shikaki (Centro Palestino para Política e Pesquisa), Michael Robbins (Princeton), Eran Bendavid (Stanford), Havard Hegre (Instituto de Pesquisa de Paz de Oslo) e Debarati Guha-Sapir (Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica).
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Com base em entrevistas em campo, o estudo selecionou randomicamente duas mil famílias em Gaza, com uma amostra estimada de 9.729 indivíduos. Dados foram complicados entre 30 de dezembro de 2024 e 5 de janeiro de 2025, sob condições contínuas de violência extrema, deslocamento e cerco.
O Centro Palestino para Política e Pesquisa comandou o trabalho de campo.
A pesquisa descobriu que 56.2% das mortes violentas incidiu sobre mulheres, crianças e idosos, ao corroborar a proporção noticiada pelo Ministério da Saúde e desmentir a propaganda israelense de que este inflou as baixas civis.
Por contraste, o estudo revelou que o Ministério da Saúde subnotificou as mortes em números absolutos, com índices oficiais mesmo abaixo da margem de erro, mensurada em 5%. Nesta estimativa, o mínimo de 63.600 mortes é ainda consideravelmente inferior — 17 mil pessoas — do que o total avaliado pelo ministério.
Os pesquisadores assumiram passos adicionais para mitigar eventuais vieses e tomar em conta o deslocamento em massa da população de Gaza, incluindo faixas estatísticas que considerem distribuições demográficas e rastreamento de telefones móveis e atualizações ao vivo para verificação. O estudo também buscou retificar áreas submetidas a condições extremas e falta de acesso, como norte de Gaza e Rafah.
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Mortes consideradas não-violentas, sobretudo doenças, fome e falta de cuidados médicos, costumam ser descartadas nas baixas de conflito. A pesquisa, no entanto, prevê precedente em tais estimativas fundamentadas. Conforme o relatório, trata-se de “excessos”, isto é, fatalidades que não ocorreriam em tempos de paz.
Crianças são as mais afetadas: entre as 357 nascidas desde a deflagração do genocídio, ao menos quatro morreram sob tais circunstâncias — proporção que indica extrema vulnerabilidade neonatal.
Os autores ressaltaram que os resultados contradizem narrativas negacionistas, sobre as baixas palestinas. A pesquisa demonstra falta total de evidências de qualquer hipérbole nos números oficiais, à medida que — diametralmente oposto — demonstra números conservadores.
Além disso, o perfil demográfico dos mortos — em grande maioria, civis — suporta descobertas abrangentes de diversas organizações de direitos humanos, de que a campanha israelense em Gaza alvejou sobretudo não-combatentes.
A pesquisa se soma à coletânea de provas de genocídio no inquérito em curso do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, onde o Estado israelense segue no banco dos réus, desde janeiro de 2024. Para os autores, o estudo se agrega a alicerces para reconhecimento histórico e responsabilização dos perpetradores.