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Capa da Time com Khamenei sugere mudança no regime

Com edição intitulada ‘O novo Oriente Médio’, a revista americana Time trouxe na capa um retrato de Khamenei, como um cartaz sendo arrancado da parede

25 de junho de 2025, às 06h00

Capa da revista Time retrata o Supremo Líder do Irã, aiatolá Ali Khamenei, em 19 de junho de 2025 [Middle East Eye via X/Reprodução]

A mais recente capa da revista Time, retratando o Supremo Líder do Irã, aiatolá Ali Khamenei, incitou críticas nas redes sociais. Usuários acusam a publicação de manufaturar apoio a uma mudança de regime após os ataques de Israel ao país na semana passada.

Publicada na rede social X (Twitter) na quinta-feira (19), a capa mostra um pôster rasgado de Khamenei com a manchete “O Novo Oriente Médio”.

“A imprensa ocidental está preparando o terreno para a agressão contra o Irã”, denunciou um usuário. “O que chamam de ‘Novo Oriente Médio’ são Estados fragmentados e falidos, cujos recursos e povos eles acham ter o direito de explorar”.

“Nem fez uma semana e já tem um ‘Novo Oriente Médio’? Como assim? Perdi um cessar-fogo, o colapso de um regime ou uma revolução?”, questionou outro.

Muitos fizeram paralelos com a capa da Time de março de 2003, publicada semanas antes da invasão dos Estados Unidos ao Iraque. Naquela edição, um homem pinta com tinta branca por cima de um pôster do presidente iraquiano Saddam Hussein, capturado pelas tropas americanas após a invasão, que mergulhou o país em anos de caos e violência.

Para além do título — “Vida após Saddam” —, a edição de março de 2003 promoveu um artigo sobre “o plano de alto risco do presidente [George W.] Bush para ocupar o Iraque e reconstruir o Oriente Médio”.

“Não estamos exagerando quando dizemos se tratar da mesma cartilha”, alertou um usuário no antigo Twitter.

Israel lançou seus ataques não-provocados na sexta-feira, 13 de junho, sob a alegação de que o Irã estaria prestes a construir uma bomba nuclear. Teerã nega as acusações, posição sustentada pelas avaliações mais recentes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e mesmo pela inteligência americana.

Os ataques escalaram desde então a uma troca de foguetes Teerã–Tel Aviv.

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A agressão israelense resultou na morte de generais e cientistas nucleares, mas também atingiu edifícios residenciais, hospitais, infraestrutura civil e mesmo a sede da televisão estatal iraniana. Centenas foram mortos em uma operação militar vista por muitos como uma intervenção estrangeira por golpe de Estado.

O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, insistiu que Khamenei “não pode mais existir”, enquanto seu chefe, o primeiro-ministro e foragido internacional Benjamin Netanyahu prometeu fazer Teerã “pagar o preço” por sua retaliação.

Em entrevista à emissora americana ABC, na segunda-feira (16), Netanyahu foi questionado sobre rumores de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vetou um plano israelense para assassinar Khamenei.

“Isso não vai escalar o conflito, isso vai acabar com o conflito”, retrucou Netanyahu, ao contestar a suposta rejeição de Trump. “Faremos o que for preciso”.

Trump, porém, parece pisar em ovos. Apesar de anuência aos ataques israelenses ao Irã, e mesmo um subsequente ataque americano a instalações nucleares iranianas, fontes indicam dúvidas, sem que tenha tomado qualquer decisão. 

Artigo publicado originalmente em inglês na rede Middle East Eye, em 20 de junho de 2025

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.