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À véspera de protestos, Brasil estuda medidas para romper relações com Israel

13 de junho de 2025, às 13h19

Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República, em Brasília [Roque de Sá/Agência Brasil]

O governo brasileiro do presidente Luíz Inácio Lula da Silva estuda medidas para romper relações militares com Israel, em resposta às violações na Faixa de Gaza, classificadas pelo Executivo como um genocídio do povo palestino.

A informação foi confirmada pela Assessoria Especial da Presidência, reportou a Agência Brasil. O assessor-chefe, Celso Amorim, reiterou que é preciso tomar medidas coerentes com os princípios humanitários.

“Pessoalmente, acredito que a escalada dos massacres em Gaza, que constituem verdadeiro genocídio com milhares de civis mortos, incluindo crianças, é algo que não pode ser minimizado. O Brasil precisa, inclusive, por meio das medidas apropriadas, ser coerente com os princípios humanitários e de direito internacional que sempre defendeu”, afirmou Amorim.

Nesta semana, o assessor especial recebeu um grupo de 20 parlamentares e lideranças que elucidaram ao Planalto as razões legítimas para a ruptura de relações diplomáticas e comerciais com o Estado da ocupação.

No início deste ano, sob protestos, o governo recuou na compra de blindados israelenses que estava prevista pelo Ministério da Defesa.

Membros do governo, no entanto, insistem que uma ruptura diplomática seria “delicada e complexa”, ao prejudicar tanto colonos israelo-brasileiros como supostamente palestinos radicados nas terras ocupadas, subjugados a comunicação via Tel Aviv.

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Para o governo, porém, o rompimento de relações militares, com suspensão de contratos e cooperação no setor, é uma possibilidade, como uma resposta adequada à escalada em Gaza e a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia — ilegais segundo a lei internacional.

Pressão social e política

Ao sair da reunião com Amorim, a deputada Natália Bonavides (PT—RN), que articulou o encontro, explicou que o governo estuda as medidas e pode anunciar ações relacionadas ao tema “nos próximos dias”. 

“Simplesmente, um extermínio que está sendo televisionado”, comentou Bonavides nas redes sociais. “O Brasil tem tido um papel importante nesse tema ao longo da história. E o presidente Lula, inclusive, vem denunciando o genocídio desde o início. Viemos pedir que o Brasil tome medidas efetivas, adote sanções, respaldadas pelo direito internacional. Se naturalizamos a barbárie, a maldade no mundo não tem limites”.

Nesta semana, o sequestro do ativista brasileiro Thiago Ávila, a bordo do veleiro Madleen, em águas internacionais, reacendeu apelos pela ruptura de relações Brasil—Israel, como fizeram países como Bolívia, Colômbia, África do Sul, entre outros.

Ativistas brasileiros — incluindo Ávila, regresso nesta manhã, após quatro dias de prisão e dois dias na solitária — pressionam por uma postura mais proativa do governo Lula, frente às violações cometidas por Tel Aviv e à catástrofe humanitária em Gaza.

Federações de petroleiros, de sua parte, solicitaram da companhia estatal Petrobras que pare de vender petróleo a Israel, utilizado em tanques e armamentos israelenses.

Em carta conjunta, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) destacaram urgência de “total embargo global de energia e armas para frear o genocídio, além de desmantelar o apartheid e a ocupação ilegal por Israel”.

Para as entidades, “exigir a responsabilização por crimes de guerra e impor sanções não é apenas um dever moral, como responsabilidade legal de todos os Estados”.

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A campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) — iniciativa da sociedade civil palestina, nos moldes da luta antiapartheid na África do Sul — pede há anos ações contra a ocupação ilegal israelense da Cisjordânia e o cerco Gaza, imposto desde 2007.

Na semana passada, Lula se mostrou comovido ao reconhecer novamente o “genocídio premeditado” em Gaza, em evento em Paris, ao lado do presidente francês Emmanuel Macron. No entanto, não anunciou medidas até então.

Neste domingo (15), o Brasil se une à Marcha Global para Gaza, com atos convocados em todo o país. Em São Paulo, a concentração ocorre na Praça Roosevelt, às 11 horas, com o mote “Basta de genocídio na Palestina! Lula, rompa com Israel, já!”.

 

No mesmo dia, a caravana homônima, com 50 mil pessoas, dentre as quais brasileiros, deve se aproximar do lado egípcio da fronteira de Rafah, no extremo sul de Gaza, a fim de romper o cerco ilegal.

O exército israelense mantém fechamento absoluto de Gaza há ao menos três meses, à medida que os 2.4 milhões de palestinos radicados no enclave vivem uma catástrofe de fome, segundo copiosos alertas internacionais.

O genocídio conduzido por Israel contra os palestinos — assim investigado pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia — deixou ao menos 55 mil mortos, 125 mil feridos e 11 mil desaparecidos até então, sobretudo mulheres e crianças.

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