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Começa o segundo mandato de Trump: A nova política externa do Império

Presidente dos EUA Donald Trump deixa evento de posse, junto da esposa, Melania, na Igreja de St. John, em Washington DC, em 20 de janeiro de 2025 [Scott Olson/Getty Images]
Presidente dos EUA Donald Trump deixa evento de posse, junto da esposa, Melania, na Igreja de St. John, em Washington DC, em 20 de janeiro de 2025 [Scott Olson/Getty Images]

Nesta segunda-feira, 20 de janeiro de 2025, Donald Trump assumiu posse como o 47º presidente dos Estados Unidos e apenas o segundo a servir dois mandatos não-consecutivos, após Grover Cleveland, no fim do século XIX.

A maneira incomum pela qual Trump chegou a seu segundo mandato não deveria surpreender, dada que toda sua carreira política abunda em bizarrices. Trump conquistou seu primeiro mandato sem vencer o voto popular — algo já estranho; não tinha absolutamente nenhuma experiência política quando assumiu o cargo mais alto da vida política — também estranho; então, dependeu da família, genros, amigos, magnatas e militantes da mídia populista contemporânea, como Steve Bannon, para alicerçar seu governo — até então, também incomum.

Seus quatro anos de mandato foram marcados por crise após crise, à medida que figuras próximas caíam em desgraça como maçãs podres, muitas vezes defenestradas, substituídas então por alguém de um calibre não muito diferente.

A segunda chance de Trump

À medida que Trump inicia seu segundo mandato, contudo, parece mais preparado para encarar a tarefa. Diferente de sua estreia na política, Trump começou a aventar candidatos aos mais variados cargos quase imediatamente após vencer as eleições de novembro. Mais de cem decretos executivos foram planejados logo para o seu primeiro dia de volta à Casa Branca. Além disso, Trump consolidou controle sobre o Partido Republicano e deve mobilizar asseclas no Congresso a favor de sua agenda.

Ou ainda “agenda” — todos sabem que Trump muda de ideia muito rapidamente e tende a estabelecer suas tarefas com tuítes publicados pela manhã, na rede de seu agora melhor amigo, Elon Musk. Seu balneário de Mar-a-Lago, no estado da Flórida, funcionará agora como uma espécie de “Casa Branca no Sul”, ao assumir a aura da mansão do Grande Gatsby, onde “se dispensa a luz da lua por mariposas casuais”. Musk, neste contexto, deve assumir o papel de Klipspringer — frequentador das festas e eventos, residente não declarado deste palácio trumpista.

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Tuitando éditos imperiais

Diversas personalidades da política e dos negócios internacionais tentam agora se conectar com a “corte real” de Trump em Mar-a-Lago, em busca de uma audiência com o novo imperador. Mesmo que páginas editoriais em todo o mundo se preencham de comentários sobre a natureza “extraordinária” ou “anormal” dos encontros, nada disso é novidade. Trata-se somente da nudez do Império Americano, com uma retórica profundamente ideologizante agora abandonada.

Trump é o resultado natural de tendências sociopolíticas de longuíssima data nos Estados Unidos. Podemos traçar seu comportamento diretamente a uma genealogia de muitas décadas, através de personagens como Sarah Palin, Newt Gingrich e Rush Limbaugh, Dan Quayle e David Duke, até chegar a Ronald Reagan e a emergência nacional de Richard Nixon, após a Segunda Guerra Mundial, junto ao senador demagogo Joseph McCarthy, na mesma época.

Por exemplo, a política externa americana após a Segunda Guerra Mundial se conduziu de maneira particularmente meticulosa, a fim de não perturbar sensibilidades ainda recentes das nações estrangeiras. Apesar de nenhuma nação pós-guerra usufruir, mesmo que remotamente, dos mesmos poderes que os Estados Unidos, seu secretário de Estado, George Marshall, anunciou seu plano — que mais tarde carregaria seu nome — durante um comunicado à imprensa que, habitualmente, seria ignorado pelas manchetes. O presidente Harry Truman, Marshall e outros oficiais americanos compreenderam, na época, que caso simplesmente exigissem dos governos europeus que agissem de certo modo ou mesmo oferecessem ajuda em certo tom, a percepção seria de subjugação e condescendência. Naturalmente, os interesses dos Estados Unidos seriam preservados pelo Plano Marshall, no entanto, sob um verniz essencial de possibilidade de escolha.

Hoje, ao contrário, Trump proclama decisões via tuítes, tiradas do nada, ao prometer anexar o Canadá, comprar a Groenlândia ou se reapropriar do Canal do Panamá, além de ameaças de que “levará o inferno” a Gaza caso não houvesse um acordo. Neste entremeio, o Congresso majoritariamente republicano corre para aprovar toda a legislação necessária para auxiliar Trump. Podemos imaginar que certos imperadores romanos veriam a atual conjuntura com alguma inveja.

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Quo Vadis, política externa trumpista?

Caso comparemos o comportamento de Trump desde o dia das eleições à política externa que adotou em seu primeiro mandato, haverá poucas diferenças a olho nu. Trump ainda enxerga a China como uma ameaça aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos, mas mantém uma postura passiva frente a Moscou; Trump ainda vê outros países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) como chupins da abundância americana; ainda é abertamente xenófobo e injurioso às mais diversas comunidades globais. Trump, como se não bastasse, ainda acredita que impor tarifas de importação é a melhor solução aos percalços da economia americana.

A única surpresa é o aparente abandono que Trump demonstrou ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu — sobretudo após anos proclamando ser seu “amigo íntimo” e professando admiração pelo sionismo, incluindo ao se cercar de figuras profundamente ideológicas sobre a questão — como é o caso do senador republicano da Flórida, Marco Rubio. Foi a impulsividade de Trump que o levou a detratar Netanyahu? No momento, é difícil saber — precisaremos aguardar as interações entre Tel Aviv e Washington nos próximos meses para saber como agirá este novo Trump na região ampla do Mediterrâneo Oriental.

Trump já despontou com uma retórica antiguerra ainda mais expressiva do que em seu primeiro mandato. Para além de um cessar-fogo na Faixa de Gaza, o novo presidente já declarou diversas vezes esperar encerrar o conflito na Ucrânia. No entanto, se o incumbente russo Vladimir Putin manterá sua amizade com Trump ou se o mandatário ucraniano Volodymyr Zelenskyy será persuadido a aceitar concessões, são coisas que ainda permanecem incertas.

Portanto, a resposta à pergunta “quo vadis” (“aonde vai?”) a política externa de Trump é mais provavelmente: bagunça.  Trump seguirá atrás de qualquer coisa que acredite agradar sua base, não importa nem mesmo a hora do dia. Para além de seu jargão Make America Great Again (MAGA), Trump não tem ideologia, plataforma ou mesmo compromisso com a política externa. Sua aparente maturidade decorre apenas de uma percepção vaga do que beneficia o país em certa conjuntura.

Marco Rubio como procônsul global

Durante sua sabatina no Senado em 15 de janeiro, Marco Rubio garantiu que o presidente Trump embasará sua política externa em três pontos: “A América estará mais segura?”; “A América será mais forte?”; e “A América será mais próspera?”. Segundo Rubio, que ascendeu a secretário de Estado, esta é a essência da política de “America First” — isto é, “América em primeiro lugar” — de Donald Trump.

Rubio, no entanto, enfatizou outra diretriz essencial: que o presidente estabelecerá a política externa e o Departamento de Estado apenas a implementará.

Aguardamos no Twitter para ver onde os caprichos de Trump vão nos levar.

https://www.instagram.com/monitordooriente/reel/DEPaBYsAZNR/

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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