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OMS desmente acusações israelenses de ‘conspirar’ com o Hamas

Embaixadora de Israel na ONU, Meirav Eilon Shahar, em 12 de dezembro de 2023 [Fabrice Coffrini/AFP via Getty Images]

A Organização Mundial da Saúde (OMS) negou as acusações postas pela ocupação israelense de que age em “conspiração” com o movimento palestino Hamas, ao advertir que alegações como essas impõem risco a suas equipes e esforços em campo.

Durante reunião da agência na sexta-feira (26), Meriav Eilon Shahar, embaixadora israelense nas Nações Unidas (ONU), insistiu na falácia de “escudos humanos” para negar que os palestinos de Gaza tenho qualquer direito a cuidados de saúde.

Conforme Shahar, ataques a instalações críticas são justificados porque o Hamas supostamente “se incorpora aos hospitais”.

Shahar afirmou haver “fatos inegáveis que a OMS escolhe ignorar uma e outra vez”, ao acusar a respeitada agência — sobretudo após a crise de covid-19 que tomou o planeta — de colaborar deliberadamente com agentes do Hamas.

“Isso não é incompetência, é conspiração”, declarou a emissária israelense.

Em postagem no Twitter (X), o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reforçou que sua agência “refuta as acusações” de “conspirar com o Hamas e de lavar as mãos para o sofrimento dos reféns mantidos em Gaza”.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 26.422 palestinos mortos e 65.087 feridos — em maioria, mulheres e crianças. Cerca de 85% da população de Gaza — dois milhões de pessoas — foram deslocadas pelos bombardeios, sob a destruição de 60% da infraestrutura civil, segundo as Nações Unidas.

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Hospitais, escolas, abrigos, mesquitas, igrejas e rotas de fuga não foram poupados.

As ações israelenses são retaliação a uma ação transfronteiriça do Hamas que capturou colonos e soldados. Desde então, segundo as informações, dezenas de prisioneiros de guerra retidos em Gaza foram mortos justamente pelos ataques indiscriminados de Israel.

O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu sofre pressão interna para firmar um novo acordo de troca de prisioneiros e libertar os reféns. Tel Aviv, porém, rejeita as demandas por um cessar-fogo abrangente, ao manter seu genocídio a Gaza.

Sobre as acusações à OMS, prosseguiu Ghebreyesus: “Tais alegações falsas são lesivas e podem pôr em perigo nossas equipes, que arriscam suas vidas para servir aos vulneráveis. Como agência das Nações Unidas, a OMS é imparcial e trabalha pela saúde e o bem-estar de todos”.

As acusações contra a OMS coincidem com uma renovada campanha de Israel para deslegitimar instituições globais, após o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, deferir como “plausível” a denúncia sul-africana de genocídio em Gaza, ao seguir com as investigações.

A corte emitiu uma medida cautelar para que a ocupação israelense deixe de obstruir o acesso humanitário a Gaza, melhore as condições e evite incorrer em atos de genocídio.

Ainda na sexta-feira, o regime colonial acusou 12 trabalhadores, entre os 30 mil funcionários da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA), de estarem envolvidos na operação do Hamas. Israel não deu detalhes tampouco provas do suposto envolvimento.

Desde então, vários países ocidentais, com destaque para Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Itália e Austrália suspenderam doações à UNRWA, apesar de a agência revogar imediatamente os contratos em questão.

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Segundo a Liga Árabe, a suspensão dos recursos “implica deixar que civis deslocados morram de fome, ao capitular ao plano israelense para eliminar sua causa de uma vez por todas”.

A UNRWA foi criada por uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1949, para conter a crise decorrente da Nakba, ou “catástrofe”, quando 800 mil palestinos foram expulsos de suas terras para dar lugar à criação do Estado de Israel, no ano anterior.

Há anos, autoridades israelenses conduzem um firme lobby internacional para fechar as portas da UNRWA — único órgão da ONU com mandato específico para prover apoio e serviços básicos aos refugiados palestinos em toda a região.

Israel, em sua campanha de propaganda de guerra, busca equiparar profissionais da ONU, assim como a população de Gaza de modo geral, a membros do Hamas, ou “terroristas”, como meio para deslegitimar esforços assistenciais e justificar suas mortes; contudo, sem provas.

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