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Ministros da União Europeia sugerem ‘consequências’ a Israel

Encontro de ministros de Relações Exteriores da União Europeia na sede do bloco em Bruxelas, na Bélgica, em 22 de janeiro de 2024 [Dursun Aydemir/Agência Anadolu]

Uma reunião de ministros de Relações Exteriores dos países-membros da União Europeia, nesta segunda-feira (22), somou pedidos pelo estabelecimento de um Estado palestino, como a única solução à guerra israelense em curso contra a Faixa de Gaza, a fim de assegurar na região.

O encontro foi marcado por divergências, porém por uma demonstração de força de vozes cada vez mais críticas às transgressões israelenses.

Na semana passada, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou abertamente seu repúdio a qualquer Estado palestino, ao desprezar, portanto, a proposta de dois Estados. No fim de semana, Netanyahu dobrou a aposta, ao afirmar que Israel deve controlar “toda a área a oeste do rio Jordão” — isto é, desde a fronteira com a Jordânia ao Mar Mediterrâneo, cobrindo toda a Palestina histórica.

Na reunião em Bruxelas, muitos dos ministros europeus condenaram as falas de Netanyahu, ao insistir que a única forma de obter paz na região é abrir caminho a um Estado palestino.

O ministro de Relações Exteriores da França, Stephane Sejourne, declarou a jornalistas: “As falas de Netanyahu são preocupantes. Haverá necessidade de um Estado palestino com garantias de segurança a todos os envolvidos”.

Sua homóloga belga, Hadja Lahbib, enfatizou:

“Gaza vive uma situação de extrema urgência. Há risco de fome generalizada. Há risco de epidemias. A violência tem de parar”.

Mesmo emissários de Estados resolutos em seu apoio a Israel declararam apreensão. A ministra alemã, Annalena Baerbock, alertou: “Os palestinos só podem viver com dignidade, segurança e liberdade caso Israel tenha segurança. É por isso que a solução de dois Estados é a única solução possível e aqueles que a rejeitam não apresentaram nenhuma alternativa”.

O ministro de Relações Exteriores da Áustria, Alexander Schallenberg, denunciou as declarações do premiê israelense por sua “miopia”, ao ecoar Berlim na ideia de “solução única”. Segundo o chanceler, “nem israelenses, nem palestinos vão desaparecer, ambos terão de viver lado a lado em sua região”.

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Parte da discussão foi pedir a Tel Aviv respostas sobre o futuro de Gaza após a guerra, incluindo a presença dos ministros de Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, e da Autoridade Palestina (AP), Riyad al-Maliki.

Katz insistiu na transferência compulsória dos 2.4 milhões de palestinos de Gaza — medida que configura crime de genocídio e limpeza étnica. O oficial israelense propôs a criação de uma ilha artificial no Mediterrâneo e uma ferrovia entre Oriente Médio e Índia, sob olhares descontentes do chefe de política externa da Europa, Josep Borrell.

Borrell subiu o tom na última semana, ao expressar apreensão de que a continuidade da guerra em Gaza leve a uma deflagração do conflito, comparando o momento histórico com os períodos que precederam as Guerras Mundiais.

“Penso que o ministro [Katz] poderia usar melhor seu tempo e comentar mais sobre as mortes de Gaza”, criticou Borrell. Sobre a concessão dos dois Estados, acrescentou: “Não fomos capazes de fazê-lo mudar de ideia, mas sequer esperávamos isso”.

Antes do encontro, o jornal Financial Times reportou que membros da União Europeia instaram colegas de bloco a impor “consequências” a Israel, caso persista em rejeitar as negociações por um Estado palestino.

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Um memorando circulou nas capitais antes da reunião, orientando a inclusão de demandas por “um Estado palestino independente vivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, com normalização de laços e desenvolvimento em cooperação econômica e de segurança”.

Desde então, as ações israelenses resultaram em crises internas e diplomáticas em todo mundo. Governos europeus que insistiram no apoio a Israel, como França e Alemanha, vivem protestos pró-Palestina que desafiam a censura e as restrições às liberdades políticas.

Em escala global, uma denúncia da África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), contra o crime de genocídio israelense perpetrado em Gaza, pôs o Sul Global contra Estados Unidos e Europa. Berlim, no entanto, foi o único governo a formalizar sua defesa na corte.

As audiências foram realizadas em 11 e 12 de janeiro, na expectativa de um veredito favorável a uma medida cautelar que peça cessar-fogo imediato em Gaza. Brasil e outros países declararam apoio aos esforços sul-africanos.

Israel mantém ataques implacáveis contra a Faixa de Gaza sitiada desde 7 de outubro, deixando 25 mil mortos, 60 mil feridos e dois milhões de desabrigados. A grande maioria das vítimas são mulheres e crianças.

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