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Ministros da União Europeia sugerem ‘consequências’ a Israel

23 de janeiro de 2024, às 15h30

Encontro de ministros de Relações Exteriores da União Europeia na sede do bloco em Bruxelas, na Bélgica, em 22 de janeiro de 2024 [Dursun Aydemir/Agência Anadolu]

Uma reunião de ministros de Relações Exteriores dos países-membros da União Europeia, nesta segunda-feira (22), somou pedidos pelo estabelecimento de um Estado palestino, como a única solução à guerra israelense em curso contra a Faixa de Gaza, a fim de assegurar na região.

O encontro foi marcado por divergências, porém por uma demonstração de força de vozes cada vez mais críticas às transgressões israelenses.

Na semana passada, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou abertamente seu repúdio a qualquer Estado palestino, ao desprezar, portanto, a proposta de dois Estados. No fim de semana, Netanyahu dobrou a aposta, ao afirmar que Israel deve controlar “toda a área a oeste do rio Jordão” — isto é, desde a fronteira com a Jordânia ao Mar Mediterrâneo, cobrindo toda a Palestina histórica.

Na reunião em Bruxelas, muitos dos ministros europeus condenaram as falas de Netanyahu, ao insistir que a única forma de obter paz na região é abrir caminho a um Estado palestino.

O ministro de Relações Exteriores da França, Stephane Sejourne, declarou a jornalistas: “As falas de Netanyahu são preocupantes. Haverá necessidade de um Estado palestino com garantias de segurança a todos os envolvidos”.

Sua homóloga belga, Hadja Lahbib, enfatizou:

“Gaza vive uma situação de extrema urgência. Há risco de fome generalizada. Há risco de epidemias. A violência tem de parar”.

Mesmo emissários de Estados resolutos em seu apoio a Israel declararam apreensão. A ministra alemã, Annalena Baerbock, alertou: “Os palestinos só podem viver com dignidade, segurança e liberdade caso Israel tenha segurança. É por isso que a solução de dois Estados é a única solução possível e aqueles que a rejeitam não apresentaram nenhuma alternativa”.

O ministro de Relações Exteriores da Áustria, Alexander Schallenberg, denunciou as declarações do premiê israelense por sua “miopia”, ao ecoar Berlim na ideia de “solução única”. Segundo o chanceler, “nem israelenses, nem palestinos vão desaparecer, ambos terão de viver lado a lado em sua região”.

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Parte da discussão foi pedir a Tel Aviv respostas sobre o futuro de Gaza após a guerra, incluindo a presença dos ministros de Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, e da Autoridade Palestina (AP), Riyad al-Maliki.

Katz insistiu na transferência compulsória dos 2.4 milhões de palestinos de Gaza — medida que configura crime de genocídio e limpeza étnica. O oficial israelense propôs a criação de uma ilha artificial no Mediterrâneo e uma ferrovia entre Oriente Médio e Índia, sob olhares descontentes do chefe de política externa da Europa, Josep Borrell.

Borrell subiu o tom na última semana, ao expressar apreensão de que a continuidade da guerra em Gaza leve a uma deflagração do conflito, comparando o momento histórico com os períodos que precederam as Guerras Mundiais.

“Penso que o ministro [Katz] poderia usar melhor seu tempo e comentar mais sobre as mortes de Gaza”, criticou Borrell. Sobre a concessão dos dois Estados, acrescentou: “Não fomos capazes de fazê-lo mudar de ideia, mas sequer esperávamos isso”.

Antes do encontro, o jornal Financial Times reportou que membros da União Europeia instaram colegas de bloco a impor “consequências” a Israel, caso persista em rejeitar as negociações por um Estado palestino.

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Um memorando circulou nas capitais antes da reunião, orientando a inclusão de demandas por “um Estado palestino independente vivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, com normalização de laços e desenvolvimento em cooperação econômica e de segurança”.

Desde então, as ações israelenses resultaram em crises internas e diplomáticas em todo mundo. Governos europeus que insistiram no apoio a Israel, como França e Alemanha, vivem protestos pró-Palestina que desafiam a censura e as restrições às liberdades políticas.

Em escala global, uma denúncia da África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), contra o crime de genocídio israelense perpetrado em Gaza, pôs o Sul Global contra Estados Unidos e Europa. Berlim, no entanto, foi o único governo a formalizar sua defesa na corte.

As audiências foram realizadas em 11 e 12 de janeiro, na expectativa de um veredito favorável a uma medida cautelar que peça cessar-fogo imediato em Gaza. Brasil e outros países declararam apoio aos esforços sul-africanos.

Israel mantém ataques implacáveis contra a Faixa de Gaza sitiada desde 7 de outubro, deixando 25 mil mortos, 60 mil feridos e dois milhões de desabrigados. A grande maioria das vítimas são mulheres e crianças.