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Londres pagou suposta propina a Arábia Saudita para assegurar venda de armas

Grafite de Mohammed Bin Salman, príncipe herdeiro saudita, entre o Presidente dos EUA Donald Trump e da ex-premiê britânica Theresa May, no contexto da guerra do Iêmen, em Belfast, Irlanda do Norte, 29 de outubro de 2019 [Kaveh Kazemi/Getty Images]

O governo britânico aprovou suposta propina equivalente a £60 milhões (US$74 milhões) à Arábia Saudita como parte de um enorme acordo militar, no decorrer de décadas, e tentou encobrir os pagamentos por meio de um arranjo descrito como “fraude”.

A denúncia foi encaminhada ao Tribunal de Southwark Crown nesta segunda-feira (9).

O esquema envolvia o pagamento de propina a oficiais sauditas por meio de empreiteiras particulares para assegurar a venda de armamentos.

O processo refere-se a serviços de comunicação adquiridos pela Guarda Nacional Saudita. Os produtos foram entregues através da extinta empreiteira britânica GPT, antiga subsidiária da corporação Airbus.

Segundo a corregedoria responsável pela investigação, milhões de dólares foram desviados a membros da nobreza saudita, para asseverar que a GPT fosse contemplada com os contratos lucrativos então assinados com as Forças Armadas da monarquia árabe.

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A GPT, no entanto, insiste não ter ciência que os pagamentos equivaliam a propina.

Jeffrey Cook, ex-diretor executivo da empresa, e John Mason, ex-agente financeiro de duas subempreiteiras da GPT, são acusados de remeter £9.7 milhões (US$11.9 milhões) a oficiais sauditas, entre 2007 e 2012.

O arranjo estrutural para omitir o crime, todavia, parece remeter aos anos 1970. Conforme a denúncia, a “fraude” arquitetada possibilitou a membros da família real saudita e agentes do governo britânico que “negassem qualquer conhecimento sobre os pagamentos”.

Ian Winter, advogado de defesa de Cook, afirmou à corte que parte da quantia foi enviada ao então príncipe Abdullah, mais tarde coroado rei. Abdullah faleceu em 2015, sucedido por seu irmão mais novo, Salman Bin Abdulaziz al-Saud.

Winter afirmou aos juízes que os documentos internos arquivados por ambas as partes lhes permitiram negar e encobrir a propina. Desta maneira, o Ministério da Defesa não somente “aquiesceu ou tolerou os pagamentos … mas efetivamente os solicitou”.

Segundo Winter, membros da Guarda Nacional Saudita deixaram “absolutamente claro” nas negociações que a propina era parte do acordo. “Era, portanto, um requerimento contratual que os pagamentos fossem realizados dessa forma ou o contrato seria concedido a qualquer outra parte disposta a pagá-los”.

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“Tanto o príncipe Abdullah quanto Londres queriam um meio de preservar os pagamentos e negar seu envolvimento, ao utilizar uma empreiteira particular”, acrescentou o advogado. O papel foi então assumido pela GPT nos últimos anos.

Winter argumentou que o papel de seus clientes foi “imaterial”. Após a dissolução da empresa, o Ministério da Defesa trabalhou então para reformar o esquema de propina à Arábia Saudita, por meio de contas offshore.

A corregedoria deu início às investigações sobre a GPT em 2012, após a delação de partes interessadas. O processo continua até hoje.

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