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Adeus Ryan… ele nos lembrou de nossa humanidade e depois foi embora…

O menino marroquino Rayan, resgatado sem vida após cinco dias no fundo do poço onde caiu [Twitter/Reprodução]

A tristeza prevaleceu no Marrocos, na região árabe e também no mundo desde a noite de sábado, após o anúncio da morte da criança Rayan (5 anos), que definhou em um poço profundo na vila de Igran, na província de Chefchaouen, no norte do Marrocos, por cerca de 100 horas.

A internet, buscadores como o Google, as redes sociais e sites de notícias em árabe e inglês se transformaram em um grande livro de condolências para a criança falecida que, no fundo da terra, conseguiu unir os corações árabes e quem quer que tenha acompanhado seus últimos cinco dias de vida, sob a palavra “humanidade”.  Ela aparece depois de anos de conflitos políticos, econômicos e ideológicos que nos separaram.

   Algumas reflexões nas mensagens que Ryan fez circular entre os árabes durante seus cinco dias no poço falam disso:

  • Não seria mais fácil para os sentimentos da nação árabe, aliás da humanidade, se unirem, não fossem os regimes ditatoriais?
  • Essa grande preocupação é o princípio da alma humana que se desvia do que lhe é original
  • O evento da queda de Rayan pode  ser transitório, mas despertou a nação na esperança de que ela olhe para seus problemas e tente tratá-los. É um convite para fortalecer os laços humanos do mundo único árabe, como um corpo que se esgotou pelas diferenças e racismo odioso que o colonizador estrangeiro introduziu.
  • A mídia árabe agora olha para Rayan com humanidade. Mas é ela que direciona e influencia todos os aspectos da vida, política, social, econômica e outras que o mundo enfrenta hoje..
  • Um convite para procurar entre nós outros Rayan que neste momento precisam de alguém para tratar suas feridas e dores
  • Que Deus reavive a esperança em uma nação que perdeu milhares de crianças, mas não perdeu o sentimento humano original

“Caímos no poço de ditaduras corruptas de longa data, então nos revoltamos, agarrando-nos ao sonho, firmeza e dizendo que a luz está lá no fim do túnel. Nos unimos como Rayan nos uniu em sua provação, e nos agarramos a uma chance de sobrevivência, e tivemos o sucesso das revoluções da Primavera Árabe, para que chegasse o momento de inalar a liberdade e sairmos do poço. No auge do êxtase com a vitória e a alegria da salvação, tudo acabou e virou de cabeça para baixo.”

O luto prevaleceu nas redes sociais globais, expressando seu pesar pela morte da criança, que provocou grande comoção. O mundo acompanhou sua história, momento a momento, desde sua queda no poço até seu difícil resgate.

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A atriz e cantora canadense Jill Hennessy disse:

A Embaixada do Estados Unidos da América em Rabat também comentou:

O presidente francês Emmanuel Macron escreveu:

O cartunista brasileiro Carlos Latuff manifestou com

A eurodeputada Asita Kanko expressou os seus sentimentos:

As mídias globais, assim como as latino-americanas, noticiaram o drama e a comoção do povo durante o esforço de resgate e o anúncio da morte.

O papa Francisco  lembrou dele em suas orações de domingo, lamentou sua morte e agradeceu ao povo do Marrocos. “Todo um povo se uniu para salvar Rayan. Todo o povo esteve ali, trabalhando, para salvar uma criança. Obrigado a este povo, por esse testemunho”.

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E de novo estamos às voltas com o sentimento de urgência para resgatar outro menino, a criança síria Fawaz Muhammad al-Qatifan das mãos de seus sequestradores, que postaram  um vídeo mostrando a tortura brutal  a que o estão submetendo para pressionar os pais  a pagar por seu  resgate. Como diz um dos muitos posts desesperados na internet:  perdemos Rayan, mas ainda é preciso correr para salvar Fawaz Muhammad al-Qatifan

Ryan e agora Fawaz não são os primeiros a provar o sentimento autêntico da nação árabe de leste a oeste, e revelar sua solidariedade e a certeza de que a consciência coletiva da nação está sempre presente, assim como os sentimentos humanos daqueles que transcendem o egoísmo nacionalista para olhar para a humanidade dos povos irmãos e se unir para socorrê-los do poço das ditaduras, ocupações  e colonialismos.

Rayan e seus irmãos   Muhammad Al-Durra, Hamza Al-Khatib, Aylan Kurdi  e Omran Daqneesh , que partiram cedo magoando o coração dos que não puderam proteger suas vidas,  continuarão sendo uma forte presença na unificação do mundo árabe.

Não nos esquecemos dos filhos da Síria, Iêmen, Líbia, Gaza e Iraque. E que um dia alguém poderá bater à nossa porta.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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