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Venda britânica de armas à Arábia Saudita é o triplo do estimado

Protesto contra a venda de armas à Arábia Saudita, em Londres, Reino Unido, 7 de março de 2018 [Tolga Almen/AFP/Getty Images]

O papel britânico em alimentar a guerra saudita no Iêmen é muito maior do que estimado, segundo um novo relatório da Campanha Contra o Comércio de Armas (CAAT).

Segundo a organização sediada em Londres, o volume de itens militares vendido à monarquia nos últimos seis anos é o triplo do valor divulgado, o que efetivamente sustentou uma das piores crises humanitárias do mundo desde a Segunda Guerra Mundial.

Em 2015, o Iêmen foi tragado por guerra civil, após o presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado saudita, ser expulso da capital Sanaa por rebeldes houthis, ligados ao Irã. Riad compôs então uma coalizão de nove países da região contra os houthis.

Os esforços de guerra da monarquia receberam apoio concreto dos Estados Unidos e Reino Unido, através do comércio de armas, sob uma série de acordos então contestados.

O recente relatório da CAAT descobriu que a maioria das vendas a Riad ocorreram sob o chamado sistema de “licença aberta”, que omite o valor real das exportações.

Calcula-se que mais de £20 bilhões (US$27 bilhões) em equipamentos e serviços militares foram vendidos aos sauditas desde 2015, quase três vezes mais do que o valor publicado de £6.7 bilhões (US$9.25 bilhões) pelo Departamento de Comércio Internacional.

Diferente dos Padrões Individuais de Exportação (SIEL), sobre as quais costuma se basear o comércio internacional, o sistema de licença aberta permite a venda irrestrita de armas sobre um período pré-determinado ou mesmo indefinido, sem registro oficial.

A maioria dos mísseis, bombas, componentes de aviões de guerra e serviços concernentes  exportados à Arábia Saudita foram autorizados sob “licença aberta”.

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Pesquisadores do CAAT analisaram relatórios anuais da BAE Systems, gigante britânica de armas, que demonstraram que a corporação sozinha foi responsável por £17.5 bilhões (US$24.1 bilhões) das vendas do país europeu ao exército saudita.

Katie Fallon, coordenadora parlamentar da CAAT, comentou: “O uso de licença aberta encobre a verdadeira extensão do comércio militar do Reino Unido e torna impossível saber a quantidade de armas distribuídas ao redor do mundo”.

“Jatos de guerra de fabricação britânica têm um impacto devastador no Iêmen”, reiterou Fallon. “Que o valor total de tais vendas possa ser muito maior do que o reportado evidencia o papel central que empresas e o governo do país exerceram na guerra”.

“É preciso haver transparência absoluta sobre quais armamentos foram exportados e em quais quantidades”, acrescentou Fallon. “Grande parte da indústria militar atua em segredo e é assim que gostam de agir os traficantes de armas”.

“Enquanto mantido o uso generalizado de tal mecanismo para exportação, a verdadeira natureza e volume do comércio britânico de armas permanecerá longe do escrutínio e, portanto, sem qualquer controle substancial”, concluiu.

Em 2019, o governo britânico foi alertado pela Corte de Recursos para suspender a venda de armas à monarquia, após um juiz decretar que não houve “análise conclusiva sobre violações da lei humanitária internacional da coalizão saudita durante a guerra no Iêmen”.

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