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Votação sobre acordos entre Brasil e Israel é adiada por pelo menos duas semanas

Presidente da CREDN na Câmara dos Deputados, Aécio Neves, durante reunião deliberativa, Brasília, 28 de abril de 2021 [Gustavo Sales/Câmara dos Deputados]
Presidente da CREDN na Câmara dos Deputados, Aécio Neves, durante reunião deliberativa, Brasília, 28 de abril de 2021 [Gustavo Sales/Câmara dos Deputados]

A votação prevista para esta quarta-feira (12) dos acordos de cooperação entre Brasil e Israel, assinados em 2019, foi adiada por pelo menos mais duas semanas na Comissão das Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados. O deputado Glauber Braga, do PSOL, solicitou a retirada dos itens da pauta do dia sob ameaça de obstrução total da reunião. O único deputado contrário ao adiamento foi Eduardo Bolsonaro, mas precisou ceder.

A comissão votaria os acordos de cooperação entre Brasil e Israel em Ciência e Tecnologia e em questões relacionadas à Defesa, ambos assinados em 31 de março de 2019 durante a visita do presidente Jair Bolsonaro à Jerusalém.

“Mataram dez crianças palestinas, votar estes itens na pauta de hoje é a demonstração da completa insensibilidade da Comissão de Relações Exteriores com o que está sofrendo o povo palestino neste momento”, disse o deputado Glauber Braga.

O presidente da reunião, deputado Aécio Neves, afirmou que concordaria com a retirada dos temas, caso não houvesse objeções dos outros parlamentares, em benefício do “avanço em outros temas menos polêmicos”.

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“Compreendo que, coincidentemente nesta semana, nós temos o agravamento da situação em países que estariam sob objeto de deliberação. O acordo que seria discutido nessa reunião envolve países que estão vivendo conflitos graves nesses últimos dias”, disse Aécio.

A deputada Perpétua Almeida afirmou que também solicitou a retirada dos itens da pauta em uma mensagem enviada na noite anterior. “Eu considero muito importante esses acordos internacionais, mas acho que a gente vive um momento muito delicado nas relações mundiais”, disse ela. “Eu penso que a gente poderia retirar, para que essa situação não atrapalhe nenhum acordo com nenhum país. Não só especificamente com Israel, mas debater esse assunto nesse momento nos obrigará a debater o que está acontecendo nesse momento em Tel Aviv e Faixa de Gaza”.

O deputado Arlindo Chinaglia propôs que até a votação dos acordos seja feita uma audiência pública ou um debate prévio na própria comissão, “para que cada um tenha mais e maiores elementos” na hora da votação.

Eduardo Bolsonaro foi o único contrário à proposta de retirada dos itens, afirmando que era manobra da oposição e que não havia garantias de que o tema retornaria à comissão depois sem novas obstruções. Ele alegou que neste momento Israel sofria com “uma chuva de mísseis por parte de terroristas” e que não podiam “jogar o jogo desses terroristas”. “O que eles mais querem é travar a relação de Israel com o resto do mundo”, disse, “não faz sentido postergarmos ainda mais por um mero preconceito”. E afirmou que isso seria “punir Israel duas vezes”.

Glauber Braga insistiu no adiamento da pauta, lembrando que dez crianças palestinas foram mortas e votar os itens na pauta de hoje seria “a demonstração da completa insensibilidade da Comissão de Relações Exteriores com o que está sofrendo o povo palestino neste momento”.

“É inconcebivel que a Comissão de Relações Exteriores, no momento em que Israel disfere um ataque brutal contra o povo palestino, mata dez crianças, venha a deliberar sobre um acordo que foi formulado pelo governo de Jair Bolsonaro, que se isola inclusive no cenário internacional, não tendo o apoio da maioria dos países do mundo, para tocar uma política fundamentalista até então de acordo com o governo de Donald Trump”, disse Braga.  “A comissão de relações exteriores tem a obrigação de se posicionar e colocar limites ao que é a representação dessa linha de orientação genocida. Não dá que o filho do presidente da república queira mandar na Comissão de Relações Exteriores”.

“Nós vamos continuar aceitando o apartheid imposto por Israel em relação ao povo palestino? Nós vamos naturalizar a morte de dez crianças, como aconteceu nos últimos dias nos ataques articulados por Netanyahu? Nós vamos aceitar que o filho do presidente da República, no seu delírio internacional, venha a pautar a linha de orientação da comissão de relações exteriores?”, afirmou o parlamentar.

Ontem, Eduardo Bolsonaro enviou um requerimento à CREDN solicitando que aprovassem uma moção de repúdio ao Hamas, chamado por ele de “terroristas”. No texto ele afirma que foi o Hamas que “estimulou” o “acirramento dos confrontos em Jerusalém Oriental”, quando colonos e forças policiais israelenses invadiram e atacaram religiosos na Mesquita de Al-Aqsa.

“Insuflados por radicais palestinos, os eventos acabaram resultando em uma onda de violência que persiste na cidade e que levou o Hamas a aproveitar-se para retomar os ataques com mísseis contra cidades israelenses”, disse ele. Nas redes sociais, o filho de Netanyahu, Yair Netanyahu, agradeceu em português ao deputado pelo requerimento.

O texto, entretanto, foi entregue após o prazo máximo e não poderia ser discutido na reunião do dia.

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