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Nem a Lua escapa da propaganda Israel-Brasil

Foto: Leonardo Marques - ASCOM/MCTI
Foto: Leonardo Marques - ASCOM/MCTI

A cada semana uma ação midiática diferente para desviar a atenção do apartheid israelense e do fracasso da campanha de vacinação brasileira, em meio ao sucateamento de seu sistema de ciência, tecnologia e inovação. Mas desta vez a propaganda foi longe: nem a Lua escapou.

No dia 18 de fevereiro, o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, se reuniu com o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes, para selar nada menos que parceria para o envio de satélites conjuntamente e em até cinco anos pousar na Lua “com as duas bandeiras” – a sionista e a brasileira.

O anúncio da cooperação científica e tecnológica é resultado de um dos seis acordos firmados por Bolsonaro quando de sua visita a Israel em 31 de março de 2019. Sobre isso, o governo federal anunciou à época em seu site: “Essa cooperação permitirá ao Brasil se aproximar ainda mais do seleto grupo dos países que melhor aplicam a ciência, a tecnologia e a inovação na produção de potencial econômico e na melhoria da qualidade de vida para a população.”

Um escárnio. Em meio à pandemia, o mesmo governo que divulga a intenção de alcançar a Lua cortou, em 2020, 15% dos investimentos em pesquisa, segundo notícia publicada no último dia 5 de fevereiro no site da Academia Brasileira de Ciências (ABC) em que a comunidade científica protesta contra proposta de Bolsonaro de novo contingenciamento no orçamento do MCTI neste ano.

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“O desmonte do sistema se estende a agências de fomento à pesquisa […]”, revela o texto, que detalha: “A Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] terá 1,2 bilhão de reais a menos do que teve em 2019. Já o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] terá apenas 18% do que dispunha no mesmo ano. O FNDCT [Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] corre o risco de perder 4,8 bilhões de reais este ano, desviados da sua função primordial para aumentar a Reserva de Contingência Financeira. No ano passado já foram retirados deste fundo 4,3 bilhões de reais com a mesma finalidade.”

E complementa: “Além disso, a proposta do governo prevê um corte de 68,9% nos benefícios fiscais para a importação de equipamentos e insumos destinados à pesquisa científica.” Na mesma notícia, o professor Renato Cordeiro, pesquisador emérito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e membro da ABC, salienta que “essa redução vai prejudicar fortemente as investigações dos laboratórios e instituições que estão na linha de frente do combate ao covid-19”. E explica: “Sequenciamentos do genoma do SARS-CoV-2, fabricação e pesquisas com novas vacinas e medicamentos exigem modernização constante de equipamentos e compra de insumos que não são encontrados no Brasil.”

O projeto

Enquanto faltam investimentos e sobram mortes por Covid-19 no País, Marcos Pontes saúda a “cooperação bilateral” com o apartheid. O objeto dessa parceria é o projeto sionista Beresheet Gênesis, cuja sonda em 2019 colidiu com a Lua, infectando-a, conforme publicado no portal Tecmundo, com milhares de organismos terrestres. Lixo espacial para ninguém botar defeito.

O Beresheet é uma iniciativa desenvolvida pela empresa privada israelense SpaceIL em cooperação com a Israel Aerospace Industries (IAI) e a agência espacial sionista. Como denunciado pela campanha por embargo militar a Israel, a IAI é uma das principais companhias nesse segmento, especializada no desenvolvimento e produção de sistemas militares e comerciais aeroespaciais e de defesa – ou seja, usados na contínua limpeza étnica do povo palestino e apartheid. A campanha denuncia que o Estado sionista não só tem participação em empresas como a IAI, mas apoia as do setor privado, que complementam sua indústria armamentista.

A IAI, como amplamente denunciado, fornece equipamentos utilizados na construção do muro do apartheid na Cisjordânia, Palestina ocupada, e sistemas de vigilância, assim como drones usados nos massacres em Gaza.

Por suas violações aos direitos humanos fundamentais dos palestinos, a IAI, juntamente com a Elbit Systems, teve que se retirar da principal convenção internacional da indústria aeroespacial em Toulose, sul da França, em 2012, em meio a fortes protestos à entrada do evento, organizados pelo BDS Sudoeste França. Este denunciava à época o uso de drones da companhia nos massacres perpetrados por Israel em 2008-2009. A ação ocorreu na esteira do lançamento em 2011 da campanha por embargo militar ao apartheid sionista pelo Comitê Nacional Palestino por BDS.

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O Brasil segue na contramão disso, como não poderia deixar de ser, já que Bolsonaro é representante explícito, sem máscaras, do sionismo e seu porta-voz na cadeira do Planalto. O projeto espacial em que aposta suas fichas é parte desse esforço, que se conjuga com sua tática diversionista adotada desde o início de seu governo. E intensificada para desviar a atenção sobre sua responsabilidade criminosa pelas 250 mil mortes por Covid-19 no Brasil, ante a falta de investimentos em ciência, tecnologia e inovação.

O projeto objeto da parceria já deu mostras que está fadado ao fracasso. Mas nem Israel nem Bolsonaro ou Pontes estão com a cabeça no mundo da Lua. Até lá, pretendem usar e abusar de suas falsas promessas de alcançar o espaço para encobrir o apartheid sionista e a tragédia brasileira. Mas a queda há de ser equivalente a tombo da Lua à Terra.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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