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MEMO conversa com Girrad Mahmoud Sammour

Presidente da ANAJI fala sobre o combate à intolerância religiosa no Brasil

Em entrevista ao Monitor do Oriente Médio, o presidente da Associação Nacional dos Juristas Islâmicos (ANAJI), Girrad Mahmoud Sammour, explicou a natureza do trabalho da entidade no Brasil e como contribui para o combate à intolerância religiosa.  Sammour é advogado, pós-graduado em processo civil e, além da ANAJI, preside a Mesquita de Barretos, no interior de São Paulo. Conhecida liderança da comunidade muçulmana brasileira, trabalha há 16 anos em iniciativas de diálogos e esclarecimentos sobre o Islam na mídia, redes sociais e entre autoridades brasileiras e internacionais.

Sammour contou que a ideia de montar um grupo de juristas muçulmanos veio do sheikh Jihad Hammadeh, hoje conselheiro religioso da ANAJI, em virtude de surgimento no Brasil de diversos casos de intolerancia, discriminação e discursos de ódio.  A entidade tem legitimidade para propor ações civis públicas, agindo judicialmente em defesa dos muçulmanos.

Além das medidas jurídicas, também se dedicam a um trabalho preventivo de conscientização da população a respeito do Islã e de outras religiões, através de palestras e artigos. Seu objetivo de defender a liberdade religiosa não se restringe apenas a casos relacionados ao islamismo, eles se unem também a outras religiões na defesa e respeito a todas.  “O islã ensina que devemos respeitar quaisquer credo. Não há obrigatoriedade das pessoas serem muçulmanas, então nós temos como propósito o diálogo. É como o versículo do alcorão: ‘Deus nos criou em povos, tribos e nações para nos conhecermos uns aos outros’. ‘Conhecermos uns aos outros’ é sobre o diálogo, é nós trocarmos informações e vermos o que o outro precisa. Porque quando nós necessitarmos, eles estarão lá também para nos auxiliar.”, explicou Girrad Sammour.

Segundo uma pesquisa publicada em 2015 e conduzida pelo centro de pesquisas americano Pew Research Center, o islamismo é a religião que mais cresce no planeta. A pesquisa diz que se o ritmo de crescimento se manter, os muçulmanos irão superar os cristãos como grupo religioso mais numeroso.

O islamismo é a religião que mais cresce no planeta. Até o final deste século, se o ritmo de crescimento se mantiver, os muçulmanos irão superar os cristãos como o maior grupo religioso. Para Sammour, o motivo desse crescimento é o maior acesso à informações corretas acerca da religião e que quanto mais a religião sobre ataques, mais as pessoas passam a ter informações sobre e adentrar à religião. “Fora do Brasil, o Islã cresce de forma exponencial por conta do conhecimento. As pessoas têm acesso ao conhecimento. As pessoas têm acesso às informações. Não é porque a mídia colocou uma imagem deturpada – como quando colocam ‘muçulmanos terroristas’ -, sempre generalizando e colocando todos no mesmo pacote. As pessoas lá pesquisam, procuram nas fontes verdadeiras, procuram o que é o Islã e por isso ele cresce. Isso tem acontecido aqui no Brasil também, porque as pessoas estão tendo mais acesso à informação.”

Ele também comentou os casos de preconceito religioso no país. Para ele, existe muita islamofobia no Brasil, principalmente em relação às mulheres. “As vezes é uma islamofobia disfarçada, não é direta,  como também existe em outras religiões, principalmente as de matrizes africanas”.  Para ele, é importante que os líderes religiosos estejam atentos e de prontidão para lidarem com estes casos. É necessário difundir o conhecimento verdadeiro acerca do Islã, religião que é fundamentalmente contrária a qualquer ato de violência ou discriminação.

A ANAJI se dedica ao combate a esse preconceito através de orientação aos denunciantes e ações administrativas, evitando a judicialização. Nos casos envolvendo a mídia, buscam o direito de resposta a fim de rebater as informações deturpadas. Em casos de sites e redes sociais que hospedam conteúdos contrários à religião, os juristas entram em contato com o pedido de exclusão, eles recorrem aos meios jurídicos cabíveis apenas em casos de não cumprimento.

“Evitamos a judicialização de todos os casos, porque é muita coisa. As pessoas desconhecem o tanto de casos que existem e que já existiam antes da ANAJI. Já existiam milhares de vídeos e sites difamando o Islã; depois  da constituição da ANAJI que isso começou a ser enviado, antes não havia  uma entidade representativa específica jurídica que fizesse este trabalho. Hoje, estamos gradativamente excluindo aquilo que não é compatível – que afronta e que é discurso de ódio. E também aproveitando o espaço daquele jornal, daquele blog, para termos o direito de resposta, para que as pessoas que acompanham aquele canal tenham a informação verdadeira da religião”, diz Girrad.

No dia 21 de janeiro, Dia de Combate à Intolerância Religiosa no Brasil, a associação lançará a cartilha da ANAJI, para que todos tenham acesso às formas rápidas de procedimento em casos de discurso de ódio e intolerância religiosa. Denúncias podem ser feitas pelo email [email protected].

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