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Trump ataca Zohran Mamdani, muçulmano favorito à prefeitura de Nova York

26 de junho de 2025, às 12h40

Zohran Mamdani, vereador e candidato à prefeitura de Nova York, durante comício no Queens, após vencer a votação das prévias do Partido Democrata, em 24 de junho de 2025 [Michael M. Santiago/Getty Images]

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, do Partido Republicano, deflagrou um ataque racista contra Zohran Mamdani, imigrante ugandense-americano, muçulmano e vereador progressista de Nova York, após este obter uma vitória histórica nas primárias do Partido Democrata à prefeitura da maior cidade dos Estados Unidos.

Mamdani venceu a máquina conservadora democrata, sobre o ex-governador, acusado de abuso sexual, Andrew Cuomo, que recebeu apoio de quadros como o ex-presidente Bill Clinton e o ex-prefeito por três mandatos Mike Bloomberg.

A vitória de Mamdani — considerado agora favorito nas eleições à prefeitura, previstas para novembro — representa um duro golpe ao establishment democrata, bem como franco desafio às políticas supremacistas e divisionárias do governo federal.

Para Trump, em postagem em sua rede social Truth, Mamdani — cujos planos incluem habitação a custo acessível, passe livre no transporte público, proteção a comunidades vulneráveis, aumento do salário-mínimo municipal e fim da cooperação com o serviço policial de imigração trumpista, o ICE — é um “extremista e lunático comunista”. 

“Finalmente aconteceu”, lamentou-se o presidente online, “os democratas cruzaram a linha. Zohran Mandani, 100% lunático comunista, acabou de vencer as primárias e está a caminho de se tornar prefeito. Já tivemos, antes, radicais de esquerda [sic], mas isso está ficando meio ridículo”.

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Em tom racista, prosseguiu: “Ele parece TERRÍVEL, sua voz é feia e não é muito esperto. Apenas os idiotas apoiam ele [sic]”.

Segundo os resultados preliminares de quarta-feira (24), Mamdani é presumido como candidato democrata à prefeitura. Caso vença, será o primeiro muçulmano, o primeiro descendente de sul-asiáticos e o primeiro imigrante em um século a se tornar prefeito do maior colégio eleitoral dos Estados Unidos.

De acordo com o jornal The New York Times, onze candidatos competiram pela vaga do Partido Democrata, incluindo Cuomo que reconheceu a derrota horas após a votação, embora não tenha descartado uma candidatura independente.

Mamdani, nascido em Uganda, filho da cineasta indiana Mira Nair, criado em Nova York desde os sete anos de idade, superou expectativas e pesquisas, ao assegurar 43.5% dos votos nas primárias.

Mamdani, considerado socialista-democrata, é alvo de fake news, sobretudo de grupos do lobby sionista, por sua participação em manifestações contra o genocídio israelense em Gaza e um projeto de lei, de sua autoria, para proibir órgãos beneficentes de Nova York de transferirem recursos a organizações ligadas a assentamentos ilegais.

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Em 31 de outubro de 2024, após alegações facciosas de antissemitismo, Mamdani não recuou, em postagem no Twitter (X): “Sempre serei claro em minha linguagem, e com base nos fatos: Israel está cometendo genocídio na Faixa de Gaza”.

Em evento em Manhattan, neste mês de junho, Mamdani reafirmou ainda seu apoio à campanha da sociedade civil palestina de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), ao associá-lo ao “âmago de minha política, que representa a não-violência”.

Em dezembro, em entrevista com o repórter Mehdi Hasan, Mamdani prometeu acatar os mandados de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, caso o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, viaje a Nova York.

“Como prefeito, prenderei Netanyahu caso venha a Nova York”, reiterou, já candidato. “Somos uma cidade cujos valores devem seguir de acordo com a lei internacional. E é hora de nossas ações seguirem essa premissa”.

Sua promessa de campanha de ampliar a tributação a bilionários incitou ainda ataques da elite bipartidária. No entanto, empolgou o apoio de jovens e eleitores descontentes com a política conservadora americana.

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