Organizações progressistas judaicas se recusaram a apoiar uma declaração conjunta da Conferência de Presidentes das Organizações Judaicas nos Estados Unidos, em favor da agressão israelense ao Irã da última semana.
Sua recusa ressaltou as crescentes divisões políticas na comunidade judaica americana, sobretudo em pautas como militarismo, diplomacia e papel de Washington na política externa do Oriente Médio.
Segundo o jornal israelense Haaretz, apesar da assinatura de quase 50 grupos judaicos, à declaração supracitada, diversas instituições de destaque, como o Conselho Nacional de Mulheres Judias, a Associação Hebraica de Apoio ao Imigrante e o chamado coletivo Nova Narrativa Judaica, negaram apoio.
O Nova Narrativa Judaica, por exemplo, é uma aliança recente entre o grupo Ameinu — ligado historicamente ao “sionismo de esquerda”, do Partido Trabalhista de Israel — e a organização conhecida como Americans for Peace Now.
A Conferência de Presidentes, que afirma se tratar de uma frente ampla “embasada no consenso”, representa, por sua vez, sionistas americanos de campos políticos distintos, com base em um suposto apoio às “ações defensivas contra a infraestrutura nuclear e militar” do Irã.
Divergências internas, no entanto, vieram à tona, com denúncias de um tom belicista e mesmo apoio implícito ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
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Conforme o comunicado original, “as ações do presidente e sua gestão, durante a crise, ajudam a proteger vidas civis, ampliar dissuasão e reforçar as capacidades de Israel em confrontar uma das maiores ameaças que já enfrentou”.
A carta seguiu ao incitar intervenção estrangeira contra o Irã, ao acusar o Estado persa de “incitar o antissemitismo e alimentar o terrorismo [sic]”. O documento coincide com lobby sionista imposto a deputados americanos e declarações ambíguas de Trump, que pediu duas semanas para avaliar sua entrada na guerra.
Notavelmente, a Conferência Central de Rabinos da América, maior órgão do judaísmo reformista no país, rejeitou assinatura, contrário à União do Judaísmo Reformista, que compartilha do mesmo movimento.
Hadar Susskind, presidente da Nova Narrativa Judaica, justificou a recusa: “Divergimos de grande parte do que foi dito. Concordamos que o Irã não pode ter armas nucleares. Mas atacá-lo, no máximo, adiaria isso. E muito provavelmente reunirá apoio a políticos linha-dura. Diplomacia e não bombas é que já se mostrou bem-sucedido”.
Em contraste, coletivos crescentes de judeus antissionistas nos Estados Unidos — como o Jewish Voice for Peace (JVP) — buscam romper com a ideologia colonial, incluindo o suposto “sionismo de esquerda”, ao denunciar o genocídio israelense em Gaza.
Enquanto cidades americanas são tomadas por protestos de massa contra as políticas supremacistas de Trump, tensões perduram no Oriente Médio, após o regime de Israel sabotar negociações nucleares com ataques não-provocados ao Irã.
O governo iraniano insiste que sua pesquisa nuclear tem objetivos civis, em oposição à admissão israelense de que detém uma bomba atômica, incluindo ameaças.
Desde sexta-feira (13), Teerã e Tel Aviv trocam disparos, no que sugere uma guerra de atrito que pode engolfar a região. Trump, por sua vez, ainda oscila sobre se envolver no conflito, em detrimento da rejeição majoritária do público americano.
Não há, no entanto, indicativos de desescalada até então.
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