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Hipocrisia dos governos da União Europeia alimenta sofrimento em Gaza

Países precisam ir além da retórica e exercer pressão real por cessar-fogo e ajuda à população

19 de junho de 2025, às 09h51

Forças israelenses atacam palestinos famintos que se aglomeram no centro de ajuda criado pela Fundação de Assistência Humanitária de Gaza, liderada pelos EUA e por Israel, na Estrada Costeira, na área de Sudaniya, para receber pacotes de alimentos no norte da Cidade de Gaza, Gaza, em 17 de junho de 2025. [Saeed MMT/Agência Anadolu]

A hipocrisia e a inação da União Europeia e de seus Estados-Membros têm permitido que Israel continue livremente o massacre de palestinos em Gaza com total impunidade, afirmou Médicos Sem Fronteiras (MSF) em uma entrevista coletiva realizada hoje (16/06) em Bruxelas

MSF apela para que a ajuda humanitária imparcial e baseada em necessidades reais seja facilitada em larga escala para a Faixa de Gaza, que os civis sejam protegidos e que um cessar-fogo sustentado e imediato seja restabelecido. Os governos europeus devem agir com firmeza para que isso possa acontecer o quanto antes.

A guerra em Gaza é uma das mais hediondas, mortais e implacáveis já travadas contra um povo em nosso tempo. É um massacre orquestrado do povo palestino. É uma limpeza étnica intencional.”

-Christopher Lockyear, secretário-geral de MSF

Há mais de 20 meses, as autoridades e forças israelenses têm conduzido uma ação militar brutal, incluindo deslocamentos forçados em larga escala e limpeza étnica, contra os palestinos em Gaza.

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Diariamente, nossas equipes têm testemunhado padrões consistentes com genocídio, por meio de ações deliberadas das forças israelenses – incluindo assassinatos em massa, destruição de infraestrutura civil vital e bloqueios que sufocam o acesso a alimentos, água, medicamentos e outros suprimentos humanitários essenciais.

Crianças palestinas seguram panelas vazias em uma cozinha comunitária. Norte de Gaza, fevreiro de 2025. ©Nour Alsaqqa/MSF

Israel está sistematicamente destruindo as condições necessárias para a vida palestina. Casas, hospitais, mercados, redes de água, estradas e redes elétricas de Gaza foram destruídos não por negligência, mas por intenção deliberada.

A União Europeia (UE) e os governos europeus possuem os meios políticos, econômicos e diplomáticos para exercer pressão real para que Israel cesse os ataques e abra as passagens de fronteira de Gaza para permitir o fluxo de ajuda humanitária sem impedimentos. Esses não são instrumentos teóricos – eles podem ser mobilizados de forma eficaz para defender o direito internacional e proteger os civis.

No entanto, até o momento, a UE e seus Estados-Membros parecem ter abdicado da liderança política que permitiria tomar essa atitude. Pior ainda, declarações recentes feitas por Estados europeus, criticando a condução da guerra, deixam ainda mais clara sua hipocrisia, pois eles continuam fornecendo as armas usadas para matar, mutilar e queimar pessoas que acabam em nossos hospitais.

Publicado originalmente em Médicos Sem Fronteiras – MSF