Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), advertiu que a escalada entre Israel e Irã, em seu quarto dia consecutivo, representa grave perigo à diplomacia e segurança do setor atômico na região, reportou a rede Al Jazeera.
Durante sessão de emergência do Conselho de Governadores da AIEA — órgão da ONU —, nesta segunda-feira (16), em Viena, Grossi insistiu que a região vive uma conjuntura crítica, ao pedir máximo comedimento das partes.
“A escalada militar ameaça vidas, aumenta chances de contaminação radiológica, com consequências graves para pessoas e o meio-ambiente, e adia o trabalho indispensável a uma solução diplomática para garantias de longo prazo para que Teerã não obtenha uma arma nuclear”, comentou Grossi.
A escalada israelense, desde sexta-feira (13), com resposta iraniana, pôs em suspenso conversas para reaver o acordo nuclear Irã—Estados Unidos, revogado unilateralmente pelo presidente americano Donald Trump em 2018.
Trump, firme aliado de Israel, repetiu ameaças, caso o lado iraniano não se apresente à mesa de negociações, ao pedir evacuação da capital iraniana, Teerã — com 10 milhões de pessoas. Contudo, nega envolvimento nos ataques de Israel.
Danos e riscos nucleares
Grossi submeteu uma atualização técnica sobre o status das instalações nucleares do Irã, após os bombardeios ilegais de Israel.
LEIA: Irã condiciona negociações a fim dos ataques de Israel
A usina de Natanz, maior instalação iraniana de enriquecimento de urânio, foi uma das localidades atingidas na sexta-feira. Grossi apontou danos nos equipamentos por falta de energia, embora os andares subterrâneos permaneçam ilesos.
Segundo o oficial, os níveis de radiação ao redor do local seguem normais, por ora, sem evidência de contaminação.
“Os níveis de radioatividade fora da usina de Natanz continuam inalterados e em níveis normais, ao indicar que não há qualquer impacto radiológico para a população ou para o meio-ambiente no presente incidente”, observou.
Outras quatro instalações nucleares, na província de Isfahan, foram danificadas. O sítio de enriquecimento de Fordow, a usina de energia atômica de Bushehr e um reator em construção não foram, porém, danificados.
Equipes da AIEA estão em campo, prontas para retomar seu monitoramento conforme normalização do contexto de segurança, explicou Grossi.
O governo iraniano, com o apoio da população — unida na noção de defesa nacional, apesar de diferenças políticas —, avalia uma posição linha-dura. Conforme relatos, um projeto de lei deve tramitar em breve no parlamento para que Teerã deixe o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.
Esmaeil Baghaei, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Irã, informou que a proposta está ainda em seus estágios preliminares e demanda coordenação.
Teerã insiste, porém, que seus objetivos nucleares são absolutamente civis.
LEIA: Israel ataca prédio da televisão estatal iraniana, estima-se mortos e feridos