Israel voltou a intensificar sua campanha militar contra a Síria, ao lançar ataques aéreos ao interior de Damasco e emitir ameaças contra a nova liderança do país, sob pretexto de tumultos que tomaram distritos de população drusa nesta semana.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Israel Katz, justificaram os ataques como “alerta”, a fim de dissuadir supostos danos à comunidade drusa no país, a qual retratam como aliada.
Autoridades sírias, contudo, notaram que, entre os civis mortos nesta quinta-feira (1º), havia cidadãos drusos.
Segundo as informações oficiais, confrontos tomaram as ruas de Ashrafiyat Sahnaya e Jaramana, perto de Damasco, entre terça e quarta-feira, após um áudio atribuído a um cidadão druso vazar ao público, com ofensas ao Profeta Muhammad.
Os confrontos deixaram ao menos 16 mortos, incluindo policiais.
Katz aproveitou o incidente para repetir ameaças: “Responderemos com severidade”.
Seu colega de governo, Gideon Sa’ar (Relações Exteriores), descreveu como “terrorista” o novo governo da Síria, estabelecido após a queda da ditadura sexagenária dos Assad, em dezembro passado, após 13 anos de guerra civil.
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A Síria denunciou os ataques como violação de sua soberania. O chanceler sírio Asaad al-Shaibani admitiu que o país têm questões internas ainda em aberto, mas que devem ser solucionadas via diálogo e sem intervenção estrangeira.
A Diretoria Geral de Segurança em Damasco insistiu que a paz foi retomada nas áreas afetadas, após encontros realizados entre os líderes locais. As autoridades anunciaram também planos para recolher armas em Jaramana e Ashrafiyat Sahnaya.
Segundo a rádio militar israelense, soldados drusos a serviço da ocupação apelaram ao alto-comando para “intervir” na Síria, através da fronteira.
Nesta sexta-feira (2), a Comissão Internacional Independente das Nações Unidas para a Síria advertiu que a recente onda de violência ameaça o “frágil” caminho do país a uma “paz sustentável, com respeito aos direitos”.
O órgão instou todas as partes a cessar hostilidades e promover o diálogo.
A comissão notou apreensões sobre uma escalada sectária na zona rural de Damasco, bem como na província de Suwayda, ao sul, ao alertar para graves reveses a prospectos de paz de longa data.
“Os ataques e as ameaças de maior intervenção militar de Israel — à medida que este expande sua ocupação de Golã e tenta dividir várias comunidades sírias — impõe risco de desestabilizar ainda mais o país”, reiteraram os especialistas.
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A comissão corroborou um acordo entre as lideranças comunitárias e autoridades, mas ressaltou que Damasco ainda é responsável pela proteção de civis: “O governo interino deve garantir investigações imediatas, imparciais, transparentes e independentes sobre violações e perpetradores devem ser responsabilizados”.
Ao citar confrontos na zona costeira em março, a comissão destacou que os incidentes somados confirmam uma paisagem ainda volátil.
Os bombardeios israelenses marcam a mais recente ofensiva em território sírio. Desde fevereiro, Tel Aviv intensificou ataques aéreos ao país, contudo, sem qualquer ameaça demonstrada pela gestão síria, liderada pelo presidente Ahmed al-Sharaa.
Israel ocupa ilegalmente as colinas sírias de Golã desde 1967.
Após a fuga de Bashar al-Assad de Damasco, em 8 de dezembro, o Estado israelense — no contexto do genocídio em Gaza, ainda em curso — tomou a zona neutra ao longo da fronteira, ao violar um acordo de 1974.
Tensões permanecem altas, com receios ainda prevalentes de que o genocídio em Gaza se espalhe a uma guerra regional.