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Líbia e Turquia: Consórcio pioneiro em energia renovável

Usina de energia solar Aydem, maior usina híbrida da Turquia, em Usak, 8 de junho de 2024 [Hakan Nural/Anadolu via Getty Images]
Usina de energia solar Aydem, maior usina híbrida da Turquia, em Usak, 8 de junho de 2024 [Hakan Nural/Anadolu via Getty Images]

Localizada no coração do Norte da África, a Líbia encontra-se em uma encruzilhada histórica. Há muito conhecida por suas reservas de petróleo, o país agora enfrenta uma crescente demanda por eletricidade que exige uma transição para energias renováveis. É aqui que a Turquia entra em cena, com um setor de energia renovável em expansão e uma história de parcerias tecnológicas e de investimento sólidas. Tais ambições compartilhadas por Líbia e Turquia não são apenas oportunas, como são cruciais para construir um consórcio pioneiro de energia renovável.

Uma parceria estratégica para avanços tecnológicos

A dependência da Líbia em relação ao petróleo é uma faca de dois gumes. As receitas do petróleo impulsionaram o crescimento econômico, mas as flutuações dos mercados globais e a pressão da pauta ambiental tornaram a diversificação algo cada vez mais urgente. A Turquia se tornou, portanto, um parceiro significativo, graças às suas tecnologias avançadas em energias renováveis, após investir pesadamente em energia solar e eólica nos últimos anos e assumir certa liderança regional em termos de política externa, como aponta Francesco Siccardi. Com a ajuda do know-how tecnológico da Turquia, a Líbia pode acelerar sua transição para a sustentabilidade energética.

Quando me encontrei recentemente com empresários de petróleo líbios e funcionários do governo em Doha, no Catar, testemunhei um consenso de que o Estado norte-africano precisava urgentemente de diversificação, se não em princípio, pelo menos na prática. Oficiais, no entanto, se mostram otimistas com o papel prospectivo da Turquia em tamanha transição, ao apontar para a cooperação bem-sucedida em diversas outras esferas como prova da viabilidade de sua parceria.

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Busca de investimentos e implicações econômicas

Financeiramente, a transição para energias renováveis representa um enorme investimento. Porém, a determinação turca em desenvolver suas trocas econômicas pode ajudar a mitigar parte do ônus. Isso inclui um importante passo à frente com a assinatura do “Acordo de Investimento em Energia Renovável Líbia—Turquia” no final de 2024. O acordo especifica investimentos conjuntos em fazendas solares e turbinas eólicas, apoiados por bancos estatais e investidores privados da Turquia. É por razões como essas que economistas, como a Dra. Leyla Özkan, da Global Energy Investments, afirmam que é crucial manter acordos bilaterais como este, para mitigar riscos financeiros e assegurar fluxos continuados de investimento estrangeiro.

Além disso, tamanho consórcio poderia fomentar a criação de empregos e o desenvolvimento de uma indústria nacional da Líbia. A abordagem não somente permite a construção eficaz de usinas, mas também facilita a transferência de conhecimento para engenheiros e técnicos líbios a partir da Turquia, resultando em uma força de trabalho bem capacidade que pode manter e expandir a infraestrutura de energia renovável no país norte-africano.

Triunfo para o meio-ambiente e a sociedade

A transição para energias renováveis não é meramente uma necessidade econômica, mas também ambiental e social. Como aponta Cathy Lee, em relatório intitulado “Desenvolvimento Sustentável no Norte da África”, do Fundo das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), a Líbia tem um potencial inexplorado para geração de energia renovável, graças à abundância de luz solar e recursos eólicos. Aproveitar esses recursos pode ajudar o país a reduzir consideravelmente sua pegada de carbono e progredir rumo às metas climáticas globais.

Tais iniciativas não apenas garantirão energia, mas também reduzirão a dependência de combustíveis fósseis. Tamanha transição deve estabilizar os custos de energia, mas também melhorar sua acessibilidade, sobretudo em áreas remotas onde as estruturas de energia convencionais são pouco desenvolvidas. Quando conversei com comunidades locais, havia uma sensação palpável de esperança de que a energia renovável pudesse abordar as desigualdades existentes na distribuição de recursos, para melhorar a qualidade de vida.

Desafios e jornada à frente

No entanto, há desafios a serem superados. A situação política na Líbia é instável, projetos de longo prazo permanecem ameaçados, e é importante garantir estímulos políticos vindos do governo em todos os momentos. Além disso, a transição para energias renováveis apresenta desafios em termos de integração, ao exigir grandes atualizações de infraestrutura e expertise técnica.

Os exemplos da experiência da Turquia em gerenciamento de projetos de energia em grande escala — como discutido em “Um caminho para a transição energética na Turquia” — podem servir de roteiro para superar esses obstáculos. Navegar pela complexa paisagem sociopolítica da Líbia exigirá que o novo consórcio assuma princípios de governança transparente, engajamento das partes interessadas e gerenciamento adaptativo de projetos.

Reflexão: Construir pontes entre petróleo e energia renovável

Depois de conversar com comerciantes de petróleo e funcionários do governo, pude ver em primeira mão como a atitude em relação à energia renovável mudou. Conversas com líderes do setor indicam uma crescente percepção de que o petróleo não será único em sustentar o futuro da Líbia. O entusiasmo pela participação da Turquia fala por si, pois muitos veem o país como pioneiro na modernização e no fortalecimento econômico.

“Diversificar nosso portfólio de energia não é apenas sobre fontes renováveis; é sobre proteger nosso futuro contra a imprevisibilidade dos mercados de petróleo”, comentou um empresário de petróleo na Líbia. Tais avanços, caso se materializem, deve projetar uma nova face para a Líbia, mais pragmática, equilibrando sua herança petrolífera e uma nova agenda revitalizante e deveras visionária em energias renováveis.

Adiante, um futuro sinergético

Como conclusão, a formação de um Consórcio de Energia Renovável Líbia—Turquia promete transformar o cenário energético da Líbia, ao combinar recursos naturais abundantes no país com o know-how tecnológico e as capacidades de investimento da Turquia.

Parcerias internacionais — como descrevi no livro “Renascimento da Energia Inteligente” — dependem de objetivos comuns, confiança e disposição das partes para adaptação ao longo do percurso. A parceria entre Líbia e Turquia me parece um exemplo fantástico de tais princípios, para garantir um futuro próspero e sustentável a toda a região. Em meio às ambições de desenvolvimento da Líbia, a Turquia, com sua experiência, pode ser a chave para desbloquear o potencial de atender à crescente demanda por eletricidade do país, ao mesmo tempo em que apoia a sustentabilidade ambiental global.

Essa parceria não é apenas um investimento estratégico; é um compromisso com uma Líbia resiliente e sustentável. Assim, enquanto o mundo tenta lidar com a necessidade de soluções de energia renovável, talvez o Consórcio Líbia—Turquia seja precisamente um exemplo de como a cooperação internacional pode funcionar e de que, se as alianças certas forem forjadas, é possível até mesmo para países com séculos de dependência mudar de rumo em direção a um horizonte cada vez mais verde e sustentável.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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