Portuguese / English

Middle East Near You

Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Incitação e ação apontam para um genocídio ainda em curso

Dezenas de milhares de palestinos, deslocados pelo genocídio israelense, retornam a suas casas pela via al-Rashid, após cessar-fogo, na Faixa de Gaza, em 27 de janeiro de 2025 [Stringer/Agência Anadolu]
Dezenas de milhares de palestinos, deslocados pelo genocídio israelense, retornam a suas casas pela via al-Rashid, após cessar-fogo, na Faixa de Gaza, em 27 de janeiro de 2025 [Stringer/Agência Anadolu]

O alívio sobre um cessar-fogo negociado logo se ofuscou por “coincidências”, que nos fazem questionar sobre as condições da opressão imposta, de maneira implacável, aos palestinos por Israel, Estados Unidos e a comunidade internacional. O cessar-fogo foi acordado nos últimos dias da administração americana de Joe Biden, paralelamente aos esforços do regime israelense para criminalizar a Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados (UNRWA). Como se não bastasse, logo nos primeiros dias de volta à Casa Branca, Donald Trump não hesitou em declarar sua intenção de transferir à força os palestinos de Gaza aos países árabes vizinhos.

Os palestinos precisam ainda de ajuda para responder a essa implacável conspiração contra eles.

Na terça-feira, 28 de janeiro, o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, advertiu para a iminente situação de crise que enfrentarão os palestinos carentes sob o banimento de sua organização. “Restringir nossas operações neste contexto, sem o devido processo político e enquanto a confiança na comunidade internacional permanece baixa, prejudicará o próprio cessar-fogo [e] representará uma verdadeira sabotagem à transição política e à recuperação de Gaza”, alertou Lazzarini ao Conselho de Segurança.

Lazzarini, é claro, fala dos parâmetros de consenso internacional sobre a transição — isto é, ao buscar que o movimento palestino Hamas não tenha mais poderio político sobre a administração de Gaza. Deixando de lado sua persistência sobre uma abordagem contrária à autonomia política dos palestinos, ao buscar uma solução política que configura uma imposição estrangeira, a verdade é que a proibição da UNRWA e de seus serviços, junto às intenções declaradas de Washington de transferência compulsória da população palestina, significa que não podemos falar de genocídio como algo do passado.

A incitação continua e o genocídio pode proceder de outras maneiras. Por exemplo, vá embora ou morra de fome.

Isso sem sequer mencionar o impacto que a proibição da UNRWA teria em todos os territórios palestinos ocupados sob colonização israelense. A Autoridade Palestina, por exemplo, se nega a sequer proteger os palestinos de Jenin, na Cisjordânia. Ao contrário, insiste em colaborar com forças coloniais para esmagar a resistência nos campos

A persistente fragmentação de cada uma das violações cometidas por Israel contra os palestinos precisa acabar. Há hoje um ciclo vicioso no qual a Autoridade Palestina se vê incapaz de escolher no que se concentrar. Rejeitar a criminalização da UNRWA certamente não basta, sobretudo vindo de uma entidade cuja influência é efetivamente patética, como é o caso da Autoridade. Na realidade, a Autoridade Palestina não repudia coisa alguma, pois carece até mesmo de decência básica para contestar ações de Israel que são fundamentalmente contrárias à sua própria agência política.

Sobre Trump e a transferência compulsória, celebrou o ministro extremista de Israel Bezalel Smotrich: “Quando ele quer alguma coisa, acontece”. Sua declaração não carece, porém, de precedentes práticos. Um olhar ao primeiro mandato de Trump demonstra uma série de concessões unilaterais que culminaram nos Acordos de Abraão. E mesmo que a assinatura supostamente tenha ocorrido sob condições emiradenses de que Israel desse fim a seus esforços de anexação de terras, a realidade é que estes prosseguiram, ao passo que os acordos de normalização estabeleceram um precedente grave.

Recentemente, o Grupo EDGE, companhia de defesa dos Emirados Árabes Unidos, adquiriu 30% das ações da firma militar israelense Thirdeye, em paralelo ao genocídio em Gaza.

Gaza não é prioridade alguma para os líderes globais. Isso significa que, apesar da retórica, a aliança entre Trump e Netanyahu não parece ter quaisquer adversários verdadeiramente formidáveis. Lideranças árabes e internacionais opor-se-ão nominalmente à transferência compulsória, porém não nos esqueçamos que estes mesmos não levaram um dedo para parar o genocídio. Com a ajuda humanitária sob ameaça e o deslocamento compulsório corretamente repudiado, embora por razões um tanto tortas, a sombra de mais um genocídio, pela guerra ou pela fome, paira cada vez mais perto.

LEIA: EUA e Reino Unido sabiam de plano de transferência de Gaza há 50 anos, mostram documentos

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

Categorias
ArtigoEstados UnidosIsraelONUOpiniãoOrganizações InternacionaisOriente MédioPalestina
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments