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Arquiteto da normalização insiste nos ‘objetivos’ da aproximação israelo-saudita

Bandeiras de Israel e Arábia Saudita

Meir Ben-Shabbat, ex-assessor de Segurança Nacional de Israel, considera a normalização de relações entre Israel e Arábia Saudita como “um objetivo importante; entretanto, não a todo custo”. Segundo Ben-Shabbat, não obstante, “as práticas israelenses sobre os palestinos não determinam a posição saudita”.

Ben-Shabbat – presidente do Instituto de Segurança Nacional e Estratégia Sionista (Misgav) – é um dos arquitetos dos Acordos de Abraão, que estabeleceram laços entre a ocupação, por um lado, e Bahrein, Marrocos e Emirados Árabes Unidos, por outro.

Em artigo publicado nesta sexta-feira (30), comentou Ben-Shabbat: “A normalização de laços entre Israel e Arábia Saudita é um claro interesse americano e ocidental, pelo qual Estados Unidos poderão distanciar o país do eixo sino-russo-iraniano, ao angariar pontos necessários para assumir seu lugar na demarcação da Nova Ordem Mundial”.

Nas últimas semanas, enviados americanos reafirmaram seu desejo de aproximar ambos os países, após o premiê israelense Benjamin Netanyahu descrever o eventual acordo como um objetivo estratégico de sua gestão.

Em mais de uma ocasião, no entanto, a monarquia condicionou a normalização com Israel a uma solução política à questão palestina.

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Na quarta-feira (28), em discurso ao Conselho de Relações Exteriores de Nova York, Antony Blinken, secretário de Estado dos Estados Unidos, advertiu que tensões persistentes não são de interesse recíproco no Oriente Médio.

Segundo Blinken, Israel e Arábia Saudita “estão interessados no prospecto da normalização”, mas têm ciência de que chegar a um acordo é “incrivelmente desafiador”.

“Não é algo que acontece do dia para a noite”, prosseguiu Blinken, “mas é uma possibilidade real e estamos trabalhando nisso”.

Neste contexto, a imprensa israelense reportou nesta semana que a escalada na Cisjordânia torna difícil qualquer progresso entre o regime ocupante e a monarquia.

Conforme Ben-Shabbat: “Não podemos subestimar o impacto da realidade de segurança na Judéia e Samaria [Cisjordânia; sic] sobre os contatos correntes para expandir a normalização na região. A sensibilidade sobre a posição das ruas é alta e a maioria dos líderes prefere não contrapor a opinião pública”.

“As imagens que temos da Judéia e Samaria [sic] dão munição à propaganda [sic] de partidos islâmicos, organizações pró-Palestina e partidos anti-Israel”, acrescentou.

Ben-Shabbat citou Blinken ao reconhecer os obstáculos: “Se há um incêndio no quintal, será muito mais difícil, senão impossível, aprofundar os acordos existentes e mesmo expandi-los para incluir possivelmente a Arábia Saudita”.

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Ainda assim, o militante sionista criticou a política externa do atual governo na Casa Branca: “Mesmo antes da escalada, desde que Joe Biden chegou ao poder, nenhum avanço tangível foi feito no campo da normalização. Washington manifestou desejo de aproveitar o impulso dos primeiros acordos; contudo, com resultados mínimos”.

Para Ben-Shabbat, “a normalização carrega o potencial de tornar a Arábia Saudita um centro logístico internacional, ao conectar Europa, África e Ásia e revolucionar o mercado global. Do ponto de vista israelense, a normalização é importante, mas não a todo custo”.

“Fazer concessões sobre o Irã e a proliferação nuclear no Oriente Médio ou sobre a pauta de segurança na arena palestina é um preço alto demais, mesmo que seja em troca de tamanha conquista”, concluiu o comentarista.

A Arábia Saudita – superpotência regional e lar dos dois maiores santuários islâmicos – resistiu à pressão americana para encerrar gerações de não-reconhecimento do Estado de Israel, apesar de seus vizinhos, Emirados Árabes Unidos e Bahrein, acatarem os apelos.

Riad condiciona a normalização com Israel ao estabelecimento de um Estado palestino. Não obstante, pressões para firmar laços com a ocupação voltaram à tona após o reino retomar relações com o Irã, em abril deste ano, antigo arqui-inimigo de Israel.

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