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Copa do Mundo no Catar: xenofobia, racismo e islamofobia

Manifestantes seguram uma placa que diz "Islamofobia não é liberdade" do lado de fora da Embaixada da França em Londres, em 25 de agosto de 2016 [Justin Tallis/AFP via Getty Images]

A Copa do Mundo é o maior evento esportivo do mundo e a sua realização a cada quatro anos dá grande visibilidade ao país sede, mostrando ao mundo sua história e cultura. No entanto, o Catar vem sendo alvo de duras críticas por não respeitar os direitos humanos, em especial das mulheres e da comunidade LGBTQIA+.

Entrevistamos no JTT – A Manhã com Dignidade Sayid Tenório, muçulmano de orientação Xiita, vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Sayid aponta que a cobertura da Copa no Catar tem sido hipócrita por parte dos meios de comunicação da Europa, Estado Unidos e até do Brasil, que com uma roupagem de defesa dos direitos humanos “estão dando um show de xenofobia, racismo e islamofobia”. Dá o exemplo da primeira entrevista realizada com o técnico da seleção iraniana, em que só foram dirigidas perguntas sobre o uso do véu e os conflitos no Irã, ao invés das perguntas habituais feitas às demais seleções, sobre a equipe, sua capacidade técnica, expectativas, etc.

Há, segundo Sayid, uma dupla moral, enquanto se ataca o Catar, países como a França, Inglaterra, Suíça, EUA não sofrem esse tipo de pressão quando a copa é realizada em seus países. “Ninguém perguntou para o técnico da França sobre as políticas xenófobas e islamofóbicas adotadas no seu país, que persegue as mulheres muçulmanas e tenta impedir o uso do véu. Não se perguntou ao técnico dos EUA sobre as milhares de mortes que seu exército praticou na Líbia, no Iraque, no Afeganistão e nos mais de 56 países que o imperialismo estadunidense invadiu e saqueou desde a Segunda Guerra Mundial”, diz Sayid.

LEIA: Catar está sujeito a campanha ‘excessiva’ de críticas à Copa do Mundo, diz chefe do futebol francês

Como muçulmano, Sayid afirma que a religião islâmica “valoriza e respeita a dignidade, a tolerância e os direitos das pessoas e as responsabilidade inerentes à cada um de nós, independente de nacionalidade, cor e ideologia política (…) Como muçulmano eu fico bastante incomodado com o que tenho visto nessa copa, a hipocrisia, a dupla moral, esses “justiceiros europeus” que dizem que as mulheres são oprimidas e os homossexuais perseguidos, etc. Mas não falam uma palavra sequer sobre os crimes do apartheid israelense, que já prendeu mais de 50 mil crianças palestinas desde 1967″.

A Copa do Mundo no Catar não está servindo para mostrar a cultura islâmica, mas para comparações descabidas a respeito da prática islâmica. Ao fim da entrevista Sayid frisa uma questão central: “A violência não é um atributo do Catar e dos países islâmicos” e dá o exemplo do grau altíssimo de violência contra a mulher e a comunidade LGBTQIA+ no Brasil.

Publicado originalmente em DESACATO

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