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Laços obscuros entre Israel e extrema-direita criam crise diplomática nos Balcãs

Protesto contra uma missa em memória de colaboracionistas croatas do Nazismo, mortos por tropas comunistas após a Segunda Guerra Mundial, em Sarajevo, capital da Bósnia e Herzegovina, em 16 de maio de 2020 [Elvis Barukcic/AFP via Getty Images]

Israel busca desesperadamente salvar sua reputação nos Balcãs, após seu embaixador declarar apoio a uma emenda da lei eleitoral da Bósnia e Herzegovina em favor de partidos de extrema-direita, muito embora prejudique comunidades judaicas e a maioria islâmica no país.

A extrema-direita bosniana insiste em celebrar o regime fascista croata instaurado durante a Segunda Guerra Mundial. Autoridades de então cooperaram com a Alemanha Nazista, o que resultou na morte de dezenas de milhares de cidadãos judeus.

A chancelaria israelense “repreendeu” o embaixador Noah Gal Gendler na quarta-feira (24), duas semanas após o jornal Haaretz vazar detalhes de um memorando no qual o diplomata expressa apoio ao projeto ultranacionalista – rechaçado pelo governo local.

Yair Lapid – que acumula os cargos de premiê em exercício e chanceler de Israel – promulgou uma moção de censura contra o Gal Gendler, ao descrever sua postura como “ponto baixo na diplomacia israelense”.

O editorial do Haaretz acusou o regime israelense de trabalhar contra os interesses da minoria judaica nos Balcãs, sem mencionar os muçulmanos bosnianos vítimas de genocídio perpetrado pelos mesmos nacionalistas de extrema-direita.

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O artigo expressou alarde sobre o “grotesco romance” de Tel Aviv com movimentos políticos reacionários, ultranacionalistas, islamofóbicos e mesmo antissemitas na Europa e em todo o mundo – incluindo figuras neonazistas.

O memorando a favor da reforma eleitoral na Bósnia também foi condenado por judeus do estado balcânico. O chefe da comunidade, Jakob Finci, denunciou a ingerência de Israel nos interesses domésticos de outro país e acusou a embaixada de atuar em apoio a um partido político de caráter étnico-croata que emergiu no país.

Em e-mail ao Haaretz, Finci declarou “choque” sobre o suporte do embaixador sionista a um plano que minimiza a representação política de judeus, ciganos e outras minorias. A maioria islâmica se juntou ao coro de repúdio frente à política de ultradireita.

O Haaretz citou ainda a “história complicada” de Israel junto dos entes nacionalistas que atuam nos Balcãs. Segundo informações, o estado sionista vendeu armas a forças sérvias responsáveis pelo massacre da comunidade islâmica da Bósnia.

Detalhes sobre o papel israelense no genocídio bósnio permanecem sob segredo de estado, de modo que a publicação de tais documentos pode prejudicar gravemente as relações de política externa entre Tel Aviv e países da Europa.

Dezenas de milhares de muçulmanos foram chacinados por nacionalistas sérvios, na primeira metade da década de 1990, naquilo que é considerado o pior ato de genocídio no continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial

“A embaixada israelense trabalha contra os interesses e desejos da comunidade judaica local, colabora com populistas de extrema-direita e aliena amigos muçulmanos”, insistiu o Haaretz. “Tais atos deveriam incitar alertas sobre a política externa israelense, ao menos enquanto se aproxima a próxima eleição presidencial dos Estados Unidos”.

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Sobre a reprimenda ao embaixador israelense, comentou a Ministra de Relações Exteriores da Bósnia e Herzegovina Bisera Turkovic: “Agradecemos a censura e as ações do premiê de Israel, Yair Lapid, sobre políticas que discriminam qualquer minoria de nosso país – seja por sua etnia ou religião –, ao impedí-las de exercer cargos de destaque no governo”.

“O povo judeu é parte integral do tecido secular que constitui a Bósnia e agiu como um dos maiores apoiadores de nossa independência, em nosso momento mais difícil”, acrescentou Turcovic. “Toda e qualquer exclusão do povo judeu é inaceitável”.

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