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Ex-prisioneiro palestino recorda o papel do xadrez para sua sobrevivência

Palestinos jogam xadrez em 18 de outubro de 2007 [Marwan Naamani/AFP via Getty Images]

Em quase uma década e meia de detenção nas cadeias da ocupação israelense, o chef palestino Hassan Shtayeh passou muitas e muitas horas jogando xadrez e organizando torneios, segundo entrevista concedida à agência de notícias Anadolu.

Shtayeh é jogador profissional e desenvolveu um estilo criativo, adotado mesmo nos momentos mais difíceis. Shtayeh foi preso pela primeira vez em 1987 sob detenção administrativa – isto é, sem julgamento ou sequer acusação.

Em 1995, Shtayeh foi interrogado e posto sob confinamento solitário na penitenciária de Ashkelon, onde se dedicou ao xadrez.

Sentado em café na cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, Shtayeh – agora com 55 anos – recordou como produziu seu próprio tabuleiro com cinzas de cigarro, pão dormido e forro de colchão.

“Passei 97 dias sob interrogatório”, declarou o ex-prisioneiro. “Como um homem que joga todos os dias, decidi criar meu próprio tabuleiro, o que ajudou a me manter são”.

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Sobre o colchão duro, Shtayeh usou cinzas de cigarro para as casas no tabuleiro e pão para suas peças, também marcadas com os restos de tabaco.

Shtayeh descreve o jogo como símbolo da vontade humana para vencer, seja em uma partida no parque ou na luta de todo um povo por sua liberdade.

Devido à árdua intervenção do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na Palestina, os presos palestinos nas cadeias de Israel têm acesso a tabuleiros de xadrez ao menos uma vez por ano, além de outros jogos para estímulo físico ou mental.

Contudo, segundo o ex-prisioneiro Hadi Tarshah, não há tabuleiros suficientes.

Apesar disso, os detentos organizam campeonatos anuais, além de torneios durante feriados nacionais para comemorar a luta ainda em curso contra a ocupação.

A vida dos prisioneiros palestinos nas cadeias de Israel

Segundo Shtayeh, os vencedores de cada bloco visitam a próxima ala para prosseguir com a competição – todavia, não sem empecilhos impostos pelos carcereiros sionistas.

“A forma de ganhar cada mero direito é pela luta, seja pela greve de fome ou outros métodos, e isso inclui o direito de organizarmos campeonatos de xadrez em toda a prisão e permitir aos vencedores que se movam pela instalação para jogar entre si”, insistiu Shtayeh.

No penitenciária israelense de Majdo – a 125 km ao norte de Jerusalém ocupada –, o chef palestino venceu os torneios de 1992 e 1995.

Memórias das noites de xadrez

Em liberdade, Shtayeh ainda se encontra com amigos que costumavam jogar xadrez com ele para sobreviver ao cárcere e rememora dias e noites de jogatina.

Shtayeh aludiu ao ex-prisioneiro Omar Barghouthi, que faleceu em 2021. Ambos disputaram diversas partidas ao longo dos anos, sob detenção administrativa.

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“Omar era um jogador professional e não era nada fácil encontrar um jogador tão excelente, então estávamos sempre competindo”, recordou Shtayeh. “Disputamos torneios oficiais em 1995 e 2002, além de partidas regulares todas as noites”.

“Quando o via distante, sabia que estava pensando no lado de fora, então pedia para começarmos um jogo e superarmos juntos a dor da saudade”.

Dia Internacional do Xadrez

Em 2019, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 20 de julho como Dia Internacional do Xadrez. Segundo a decisão que consagrou o esporte: “O xadrez é um jogo internacional que promove justiça, inclusão e respeito mútuo … e pode contribuir a uma atmosfera de tolerância e compreensão entre povos e nações”.

O xadrez também é inserido nas propostas da Agenda para Desenvolvimento Sustentável de 2030, como meio de fortalecer a educação e fomentar a igualdade de gênero.

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