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Haverá “paz duradoura” entre Israel e palestinos?

Menino palestino e soldado israelense. Em setembro de 2012 [Palestine Solidarity Project]

Confrontos entre israelenses e palestinos não são novidade. São episódios que vêm ocorrendo desde que as milícias sionistas deram início à Nakba em 1948, com a expulsão violenta de mais de 750 mil palestinos e a destruição de mais de 140 vilas e aldeias, para, com essa limpeza étnica, dar lugar aos judeus askenazes, kazares e sefarditas, deslocados da Europa para a Palestina Histórica.

Os episódios dos confrontos diretos de maio de 2021, entre as forças da resistência palestina e Israel, reacenderam o debate sobre a legitimidade de cada um e sobre a eficácia de um acordo de paz duradoura entre as duas partes. Como costumeiro, a mídia hegemônica alardeou fartamente a cantilena do “direito de Israel a se defender”, enquanto continua tratando as forças da resistência, em especial o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), como responsáveis por agressões e prática de “terrorismo”.

Em janeiro de 2020, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um arranjo sem a participação dos palestinos, que seria o “acordo do século”, uma iniciativa unilateral, proveniente de pressão do lobby judeu dos EUA, visando a continuação das anexações de territórios palestinos, o reconhecimento e a legalização dos crimes que o estado judeu vem praticando desde 1948. Aquilo que parecia ser uma alternativa para a “paz duradoura” era, na verdade, um plano macabro para acabar com a Palestina como nação.

O plano colonialista não terminou após a autoproclamação do “Estado judeu” e nem com o massacre perpetrado durante a chamada Guerra dos Seis Dias, com a ocupação da Faixa de Gaza, do Sinai (Egito) e das Colinas de Golã (Síria). “Israel” continua executando o processo de judaização completa da Palestina em todos os campos, adotando legislações como a Lei Básica do Estado-Nação, aprovada pelo Knesset em 19 de julho de 2018, por meio da qual passou a ser legalmente um Estado exclusivo para judeus.

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Como se vê, o objetivo da ocupação israelense é a completa destruição da Palestina para que haja finalmente o estabelecimento do Estado de supremacia judaica nos territórios ocupados, sem fronteiras definidas e em permanente expansão, transformando o que sobrar da Palestina em pequenas ilhas de terra, como se fosse um miniestado, pulverizado, cercado e sufocado pelo ocupante por todos os lados.

O novo Programa do Hamas, aprovado em 2017 e denominado Documento Geral de Princípios e Políticas, assevera que o estabelecimento do chamado “Estado de Israel” com base em decisões unilaterais é completamente “ilegal, transgride o inalienável direito do povo palestino e vai contra sua vontade e a vontade da Nação”, por se tratar de uma violação dos direitos humanos e do direito à autodeterminação.

O Hamas tem declarado que não reconhecerá Israel nem nada do que aconteceu na Palestina em termos de ocupação, como a construção de assentamentos coloniais, a judaização de lugares históricos e sagrados e a mudança nas características ou falsificação de fatos históricos e culturais, por entender que os direitos dos palestinos sobre sua terra e seus lugares jamais caducarão.

O Programa do Hamas, embora rejeite uma solução duradoura que não seja a libertação da Palestina “do rio ao mar”, sem comprometer sua rejeição a “Israel” e sem abandonar qualquer direito dos palestinos, concorda com o estabelecimento de um Estado palestino ao longo das fronteiras de 4 de junho de 1967, tendo Jerusalém como sua capital e o retorno dos refugiados e deslocados de seus lares, dos quais foram expulsos desde 1948.

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A liderança do Hamas tem declarado que acredita e se empenha pelo restabelecimento das relações e ações conjuntas das organizações palestinas, baseadas no pluralismo, na democracia, na parceria nacional, na aceitação do outro e na adoção do diálogo, objetivando reforçar a unidade para atender às aspirações do povo palestino, como ocorreu no histórico encontro de 5 de setembro de 2020, quando as principais forças palestinas se reuniram para uma iniciativa conjunta de contestação da ocupação israelense.

Apesar de que alguns insistam na tese da suposta tentativa do Hamas de deslegitimar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o movimento evidencia o reconhecimento dessa organização em seu programa, afirmando que ela é uma referência para o povo palestino que precisa ser preservada, desenvolvida e reconstruída em bases democráticas dentro e fora da Palestina, de maneira a assegurar a participação de todas as forças que lutam para resguardar os direitos dos palestinos.

Enquanto palestinos buscam soluções para pôr fim ao apartheid colonial do “estado judeu”, os líderes sionistas negam, por todos os meios, os mais elementares direitos dos palestinos, como é possível constatar nas declarações do atual premier, Naftali Bennett, que disse em 2018 que “não daria um centímetro de terras para os árabes” e declarou à revista americana The New Yorker em 2013: “Farei tudo o que estiver ao meu alcance para que eles nunca tenham seu próprio Estado”.

É por essas e outras que palestinos não confiam nos sionistas. Isso porque eles não cumprem acordos, como os Acordos de Oslo, que viraram letra morta sem o reconhecimento do direito à existência do Estado palestino. Após Oslo, “Israel” acelerou a expansão da ocupação, a criação de assentamentos coloniais judaicos, o confisco de terras e a criação de quotas para exportações ao mercado israelense e controle na importação de máquinas e ferramentas agrícolas, que acabaram por arruinar a agricultura palestina.

Apesar disso, ainda há quem advogue o reconhecimento de “Israel” por parte da resistência palestina como pré-condição para a existência de “acordos de paz duradouros” ou para que “normalizações” se efetivem, quando é sabido da ineficácia desse arranjo pela simples constatação de que “Israel” não vai parar a ocupação numa mesa de negociações. Essa retórica serve aos interesses da ocupação israelense, que sabe sobre a sua incapacidade de vencer novas batalhas contra a resistência palestina.

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Aceitar a realidade do ocupante é aniquilar o sonho de liberdade e libertação e trair os mártires e os que lutaram longa e duramente por liberdade, autodeterminação e dignidade. Isso seria trair os princípios da legítima resistência por todos os meios para alcançar o que está consagrado no direito internacional e na Carta das Nações Unidas.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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