Raza Kazim, professor do curso de matemática da Universidade de Middlesex, no Reino Unido, foi absolvido de uma potencial ação disciplinar sob difamações feitas pelo controverso grupo antipalestino Campanha Contra o Antissemitismo (CAA).
O caso foi descrito como último exemplo da ameaça imposta à liberdade de expressão pela definição de antissemitismo da Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA).
Kazim foi informado de eventual ação disciplinar por discriminação antijudaica, conforme o conceito estabelecido pela IHRA. Middlesex é uma das diversas universidades britânicas a adotá-lo, apesar de refutado por acadêmicos, advogados e grupos de direitos humanos.
A IHRA associa críticas fundamentadas e o boicote legítimo a Israel com o antissemitismo.
Em recente campanha em defesa da liberdade de expressão, mais de duzentos especialistas propuseram uma noção distinta de antissemitismo, para proteger o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) e outras ações dos esforços repressivos do lobby sionista.
Iniciativas para suprimir a crítica a Israel via adoção do conceito da IHRA ganharam tração à medida que a prática de apartheid e racismo institucionalizado pela ocupação israelense tornou-se incontestável perante a opinião pública.
Em abril, a organização internacional Human Rights Watch (HRW) juntou-se a outros grupos de destaque para declarar que Israel efetivamente comete crimes de apartheid e perseguição étnica nos territórios palestinos ocupados — incluindo durante a Nakba, em 1948.
Ainda antes do novo relatório do HRW, a ong de direitos humanos israelense B’Tselem denunciou Israel como estado de apartheid — “que promove e perpetua a supremacia judaica em todo o território entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão”.
Em consonância com um relatório das Nações Unidas de 2017, que concluiu que Israel exerce apartheid contra os palestinos, a B’Tselem desmentiu a falácia de que a ocupação representa uma democracia dentro da Linha Verde, determinada pelo armistício de 1949.
Em busca de ação disciplinar contra Kazim, a CAA o denunciou por antissemitismo com base em seu perfil no WhatsApp: “O mundo parou o nazismo, parou o apartheid. Deve agora parar o sionismo. O legado dos assentamentos coloniais é uma civilização de morte”.
A CAA — que monitora a adoção do conceito da IHRA nas universidades britânicas — condenou os comentários de Kazim por vincular o sionismo com o nazismo. Seu envolvimento com um grupo de solidariedade ao povo palestino também foi mencionado.
Após inquérito interno, entretanto, a Universidade de Middlesex concluiu que o controverso código não foi violado e optou por não tomar qualquer ação punitiva.
“Fico feliz que limites foram determinados e que posso continuar a fazer meu trabalho. Esta decisão é um grande alívio para mim e minha família”, declarou Kazim.
Em 2020, o status da CAA como fundação beneficente foi refutado pelo grupo Jewish Voice for Labour (JVL), entre outros, em carta ao comitê responsável do parlamento britânico.
Ao citar “ataques difamatórios” contra o ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn, as organizações judaicas argumentaram que a CAA mantém um caráter “partidário”, em contravenção da legislatura, segundo a qual órgãos beneficentes não podem intervir politicamente.
A Jewish Voice for Labour prosseguiu ao descrever a iniciativa sionista como “organização altamente política e partidária que não faz jus ao status de fundação beneficente” e, portanto, viola prerrogativas de isenção tributária sob tal distinção.
Representantes da Campanha Contra o Antissemitismo negam as acusações e insistem tratar-se de “uma agência beneficente apartidária dedicada a combater o antissemitismo em toda a sociedade, incluindo todos os partidos políticos, sem propensão ou temor”.