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Financiamento de Biden ao massacre de palestinos por Israel não pode ser justificado, jamais

Tão dura é a afirmação dos EUA sobre o “direito de defesa” de Israel, que o presidente Joe Biden aprovou um acordo de armas de US$ 735 milhões para o estado colonial ocupante, no auge de sua mais recente ofensiva militar contra os palestinos na Faixa de Gaza. A venda está relacionada a bombas de precisão, uma tecnologia da qual Israel se gaba, mas nunca realmente acerta em Gaza. A infraestrutura civil sempre figura no topo da lista de alvos, com os “danos colaterais” resultantes de centenas de crianças, mulheres e homens palestinos mortos e feridos.

Não há diferença na abordagem de Biden em comparação com a de seu antecessor Donald Trump, exceto que o primeiro procura justificar suas ações – e inação em termos de proteção de civis inocentes e seus direitos – citando a “solução” de dois Estados. Embora morta na praia, a solução “dois Estados” enfatiza a retórica dos direitos humanos, mas é uma armação para a aniquilação dos direitos palestinos, que agrada a Washington. Tendo em mente que os US$ 3,8 bilhões de ajuda que os EUA pagam a Israel todos os anos não dependem do estado de ocupação melhorar seu terrível registro de direitos humanos, a mais recente grandeza de Biden fortalece a falsa narrativa de “segurança” e “autodefesa” de Israel, bem como sua capacidade de agir com impunidade. Isso nunca pode ser justificado.

O crescente escrutínio do Congresso dos EUA provocou ontem uma resposta não-comprometedora de Biden, que expressou “apoio a um cessar-fogo”, mas, mais uma vez, pontificou sobre o “direito” de Israel de se defender. Não houve um desafio ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que declarou que o bombardeio a Gaza continuará com “força total” e que “levará tempo”. Enquanto isso, pela terceira vez, os EUA bloquearam uma resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo.

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De acordo com o Departamento de Estado dos EUA, o acordo de armas não está relacionado com o atual bombardeio de Gaza. No entanto, a ocasião em que se deu significa claramente a aprovação dos EUA ao massacre em curso de civis palestinos. Além disso, a venda reforça o fato de que a abordagem de Biden aos palestinos está enraizada na correlação desigual entre a proteção dos direitos humanos e a violação dos direitos humanos. Embora ele tenha restaurado um fragmento da ajuda humanitária americana ao povo palestino – do qual Israel oportunamente reclamou – a entidade colonizadora ocupante foi compensada acima e além do que é destinado aos palestinos.

Não há direitos humanos em Gaza [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Não há direitos humanos em Gaza [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]Há pouca chance de oposição coletiva à venda de armas dos EUA, embora alguns legisladores democratas tenham argumentado que concordar com o acordo sem insistir em um cessar-fogo levará Israel a agressão adicional. No entanto, são essas meias medidas,  tomadas da política de dois Estados, que também contribuíram para todos os ataques israelenses contra os palestinos nos últimos trinta anos. Sem, no mínimo, o apoio ao direito do povo palestino à legítima luta anticolonial, a ajuda desproporcional dos EUA concedida a Israel não pode enfrentar uma condenação efetiva. Mesmo que exista oposição à venda de armas no Congresso, não há vozes pedindo uma alternativa ao compromisso de dois Estados, que ainda deixa os palestinos vulneráveis a todas as formas de violência israelense.

Resumindo, o governo Biden, como seus antecessores, está financiando a marca israelense de excepcionalismo e política de ocupação colonial. O último acordo de armas é ainda mais feio diante do bombardeio de Gaza, porque demonstra claramente o conluio EUA-Israel contra palestinos. Se o acordo tivesse acontecido numa época em que o mundo estivesse desatendo às violações normalizadas de Israel, o acordo de US$ 735 milhões teria passado relativamente despercebido.

Aqui reside o perigo de mudar o foco para a violência de  Israel apenas quando o Estado ultrapassa os limites do que os políticos e a mídia concordam que é aceitável. A agressão de Israel é inerente e forma a base do projeto de ocupação colonial, que foi fundado no terrorismo e tem aterrorizado os palestinos desde então, para manter sob controle suas terras. Enquanto a consciência gerada pela bem divulgada violência israelense não abranger também a realidade cotidiana da opressão enfrentada pelos palestinos, o conluio EUA-Israel continuará a ser aceito pela comunidade internacional.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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