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Gaza: Calor de 40ºC e falta de água ameaçam ainda mais a vida dos deslocados

25 de abril de 2024, às 12h21

Uma vista aérea de um acampamento estabelecido por palestinos que foram expulsos de suas casas devido aos ataques israelenses em Deir al-Balah, Gaza, em 24 de abril de 2024. [Ashraf Amra/Agência Anadolu]

A cidade de Rafah, em Gaza, se tornou uma paisagem repleta de abrigos improvisados e lixo acumulado, onde as pessoas vivenciam diariamente uma “sensação de perda e medo” enquanto buscam por água, comida e segurança.

As afirmações foram feitas nesta quinta-feira pela Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, que relatou que as pessoas no enclave são “perseguidas por fome, doenças e morte”.

Calor insuportável e acesso limitado à água

Mais de 1,5 milhão de palestinos deslocados vivem em condições precárias em Rafah, onde o risco de propagação de doenças é elevado. De acordo com a Unrwa, as taxas de diarreia e surtos de hepatite A são alarmantes.

Além disso, com a chegada do verão, as temperaturas dentro dos abrigos improvisados estão se tornando insuportáveis. A agência da ONU alerta que o acesso à água doce é muito limitado, tornando o clima quente uma ameaça ainda maior à saúde.

Com temperaturas que chegam a cerca de 40ºC e a maioria dos deslocados vivendo com suas famílias inteiras em tendas de plástico, as condições estão se tornando “extremamente duras”.

As condições insalubres em abrigos e outras áreas estão a contribuir directamente para a crise humanitária em Gaza [Abed Zagout/Unicef e Pnud]

O acesso à água, que muitas vezes é salgada, requer ficar horas em filas e o mesmo ocorre para a utilização de banheiros.

Bens essenciais “definham em armazéns”

Segundo a relatora especial da ONU para o Território Palestino Ocupado, Francesca Albanese, a apenas 50 quilômetros da Faixa de Gaza, ajuda e bens cruciais para a manutenção da vida, incluindo “equipamento de dessalinização de água, kits de primeiros socorros, cilindros de oxigênio e banheiros portáteis, pagos pelos contribuintes de todo o mundo, definham em armazéns”.

Ela afirmou que o bloqueio dos itens essenciais é imposto por Israel “sob o pretexto de uso por combatentes.”

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Francesca Albanese disse nesta quinta-feira que a situação em Gaza é pior do que a avaliada anteriormente, com implicações graves e multifacetadas a longo prazo.

Falando do Cairo, ela declarou que “o ritmo e a intensidade com que esta violência se espalhou pelo resto do território ocupado confirma que nenhum palestino está seguro sob o controle irrestrito de Israel”.

Ações de Israel “justificam pedido de sanções”

Após visitas ao Egito e à Jordânia, Albanese afirmou que a maioria das vítimas que conheceu sofreram ferimentos catastróficos, testemunharam a morte de familiares e experimentaram os efeitos da destruição da infraestrutura de saúde de Gaza por Israel.

A relatora especial ressaltou que os atos ocorreram mesmo depois da decisão emitida pela Corte Internacional de Justiça, CIJ, em 26 de janeiro, ordenando a Israel que evitasse o genocídio em Gaza.

Segundo ela, “as medidas humanitárias implementadas até agora, como lançamentos aéreos e corredores marítimos, “são um mero paliativo para o que é desesperadamente necessário e legalmente devido”.

A especialista considera que estas medidas são “inadequadas para aliviar a catástrofe humanitária que o ataque de Israel criou”. Para Albanese, “Israel renegou as suas obrigações internacionais a um ponto que justifica um pedido de sanções”.

A relatora especial adicionou ainda que os “horrores que as pessoas viram em Gaza são indescritíveis”, mas que sua visita também confirmou o “agravamento da situação na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental”.

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Ela mencionou o aumento das restrições e dos abusos, as detenções arbitrárias e as execuções extrajudiciais cometidas tanto por soldados israelenses como por habitantes dos assentamentos armados.

Publicado originalmente em ONU News