Portuguese / English

Middle East Near You

Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Palestinos no exterior não podem ser excluídos das eleições palestinas

Entrevista com Samaan Safadi Khoury, chefe da União das Comunidades Palestinas na América Latina
Samaan Safadi Khoury [Foto arquivo pessoal]
Samaan Safadi Khoury [Foto arquivo pessoal]

Comunidades árabes e islâmicas estão espalhadas em vários continentes ao redor do mundo. As estatísticas provam que elas têm seu peso na Europa e na América, especialmente as comunidades palestinas, e essas têm conseguido formar um forte lobby e apoiar as causas árabes.

Uma das regiões do mundo mais importantes em que as comunidades árabes se espalham é o continente latino-americano, onde estão espalhadas em vários países do continente, uma das mais importantes dessas comunidades é a comunidade palestina, que tem se mostrado valiosa em muitos aspectos econômicos, campos sociais e políticos.

Nesta entrevista, o integrante do Conselho Nacional Palestino e Presidente da União Palestina na América Latina, Samaan Safadi Khoury, fala sobre a comunidade palestina e seu papel na América Latina.

LEIA: Recuperar a memória das famílias palestinas para assegurar o direito de retorno

Gostaríamos de conhecê-lo, saber como veio para a América Latina

Meu nome é Samaan Safadi Khoury, nascido no vilarejo de Aboud, em Ramallah, mas as raízes históricas de minha família vêm de Safad. Minha família deixou a aldeia de Aboud quando eu tinha cerca de dois anos para ir para Belém. Portanto, carrego uma cultura palestina diferente entre a cidade de Safad, a vila de Aboud e a cidade de Belém, tenho orgulho dessa mistura nacional palestina. Tive vários empregos na Palestina em trabalho gratuito e de educação.

Em 1980, mudei-me para El Salvador por causa das difíceis condições de vida na Palestina.

Eu pertencia a uma das organizações palestinas, mas fui destituído dessa afiliação aqui em El Salvador, e continuei a trabalhar a serviço da causa palestina em todos os níveis, seja no nível político ou cultural em termos de comunicação de nossa causa com o público. Em El Salvador, houve uma grande resposta e apoio para nós por parte de uma série de governos salvadorenhos. Digo com orgulho que tudo isso foi fruto dos esforços da comunidade palestina e de uma série de apoiadores da causa. Uma de nossas conquistas mais importantes foi o fechamento da embaixada de Israel em El Salvador em 2017, embora tenha sido reaberta depois.

Qual é a situação das comunidades palestinas na América Latina?

No que diz respeito à comunidade palestina na América Latina, ela é grande e está espalhada por todos os países do continente americano, por exemplo, há entre 400 e 500 mil palestinos no Chile, cerca de 200 mil em Honduras, mais de 150 mil na Colômbia, e mais de 150 mil palestinos também estão em El Salvador, Essas comunidades, seja no Chile, El Salvador, Honduras ou Colômbia, são muito importantes, altamente integradas e em permanente desenvolvimento da sociedade, seja nos planos político, econômico, social ou artístico . Também quero destacar que essas comunidades contribuem muito para a produção nacional desses países, por exemplo, considera-se que 44% da produção nacional estejam em mãos de árabes palestinos. A comunidade palestina ali é uma das maiores da América Latina. A maioria é de imigrantes da cidade palestina de Belém.

Quais são as principais dificuldades e desafios que os palestinos enfrentam na América Latina? E qual  a natureza das relações entre a Palestina e os países da América Latina?

Os imigrantes árabes em geral, e os palestinos em particular, no início de sua migração para a América Latina, foram submetidos a muitas perseguições, sendo chamados de “Turku”, em referência aos passaportes que carregavam quando vieram para este continente antes a Primeira Guerra Mundial, e o propósito deste rótulo era desrespeitá-los e marginaliza-los  também, mas com o passar do tempo, essas comunidades puderam provar seu valor fortemente, e a comunidade palestina conseguiu entregar dois presidentes da República Salvadorenha, ambos são de origem palestina da cidade de Belém.

Quanto às relações entre a Palestina e os países da América Latina, está bom agora, mas variam de um estado para outro, de acordo com a orientação política de cada país, seja de direita ou de esquerda. Mas nas nossas relações com os países da América Latina estamos nos distanciando do partidarismo, porque a causa palestina é uma questão de justiça humana, uma causa de direito e de legitimidade, e isso é o que qualquer sistema político, seja de direita ou de esquerda, como devemos saber. No entanto, é necessário destacar que a direita é hostil à causa palestina e aos palestinos, e encontramos um bom apoio político dos partidos e governos de esquerda.

LEIA: O desafio crucial da unidade palestina

A cena palestina está à beira de uma nova virada, representada pelas suas eleições. Qual é a posição das comunidades palestinas no exterior neste processo?

Na verdade, nós, como palestinos, precisamos dessas eleições porque elas vão injetar sangue novo na cena palestina, também na Organização para a Libertação da Palestina (OLP), mas na minha opinião essas eleições deveriam ter começado com o Conselho Palestino porque representa todos os palestinos dentro e fora da Palestina, e depois fazer as legislativas e presidenciais.

Como palestinos do exterior, estamos preocupados com as eleições para o Conselho Nacional e as eleições presidenciais palestinas. Quanto às eleições da Autoridade Palestina dentro das fronteiras de 1967, não temos nada a ver com isso, mas infelizmente, o povo palestino disperso no Líbano, Jordânia, Europa, América e no resto dos continentes será privado do direito de voto, Eles representam 51% do povo palestino, além dos palestinos nas terras de 1948, é isso que compete ao presidente palestino Mahmoud Abbas. Somos parte deste povo palestino e nossa voz deve ser ouvida, e a Autoridade Palestina não pode nos privar de nosso direito, que está afirmado na constituição e na Carta Nacional Palestina.

Ainda há esperança de que os palestinos no exterior não sejam excluídos das eleições?

A OLP é a legítima representante dos palestinos, quanto à autoridade, ela não pode nos impedir de participar da escolha de nossos representantes na diáspora e  participar de nossa autodeterminação. Além disso, temos a capacidade de enfrentar essa exclusão e encontrar a melhor maneira de aumentar a unidade e as reuniões em um nível palestino global. Representamos 51% do povo palestino e somos mais de 7 milhões. A autoridade deve saber que temos o direito de votar, e escolher quem nos representa, especialmente por ter sido ilegal por mais de 15 anos.

Além disso, gostaria de enfatizar o documento palestino emitido por uma série de líderes do povo palestino fora da Palestina,  afirmando que os palestinos no exterior não podem ser marginalizados, e que clamando pelo início dos preparativos para as eleições para o Conselho Nacional Palestino por meio do Comitê Central de Eleições, com a participação de palestinos no exterior para supervisionar a tomada de providências. O documento também pede o início da preparação da infraestrutura legal, institucional, profissional e técnica necessária para construir um registro eleitoral para palestinos no exterior; Baseia-se em todos os que acreditam na necessidade de representação e participação na tomada de decisões, influenciando os rumos da questão palestina, e preparando as percepções necessárias para superar possíveis obstáculos políticos e técnicos, incluindo os mecanismos eletrônicos.

O que o senhor diria aos palestinos na América Latina em geral e no Brasil em particular?

Apelo a cada um para preservar suas constantes palestinas, como o direito de retornar à Palestina, e fazer tudo o que puder para alcançar os mais altos escalões no país onde vive, a fim de contribuir para a sua reconstrução e progresso. Nós, como palestinos, alcançamos conquistas históricas na construção de estados e na ajuda a estabelece-los e promovê-los.

Saúdo também todos os cidadãos da América Latina e do Brasil em particular. Agradeço ao povo brasileiro pelo seu apoio permanente à causa palestina e peço que mantenham este apoio, porque a questão da Palestina é uma causa humanitária e justa, e o povo brasileiro só pode representar justiça.

LEIA: Com todas as diferenças, nos unimos pela Palestina

Categorias
América LatinaÁsia & AméricasBrasilChileColômbiaEl SalvadorEntrevistasHondurasIsraelOriente MédioPalestina
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments