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Príncipe Charles exerce papel de ‘comerciante de armas de alto nível’

Príncipe Charles encontra-se com o Presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas em Belém, Cisjordânia ocupada, 24 de janeiro de 2020 [Issam Rimawi/Agência Anadolu]
Príncipe Charles encontra-se com o Presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas em Belém, Cisjordânia ocupada, 24 de janeiro de 2020 [Issam Rimawi/Agência Anadolu]

O Príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, exerce o papel de “comerciante de alto nível” para as exportações de armas do Reino Unido, fortalecendo a posição de regimes autocráticos do Golfo, denunciou uma nova reportagem da rede Declassified UK.

O website de jornalismo investigativo divulgou dois artigos sobre o relacionamento entre a Casa de Windsor e a realeza árabe.

Segundo as informações, na última década, somente Charles encontrou-se 95 vezes com as famílias que governam o Oriente Médio, entre um total de 217 reuniões de membros da coroa britânica com representantes árabes.

As viagens diplomáticas de Charles à região foram feitas a pedido da Secretaria de Relações Exteriores do Reino Unido e ajudaram a cimentar alianças controversas com regimes não-democráticos, além de um comércio de armas estimado em £14.5 bilhões.

O verdadeiro propósito de tais visitas é mantido em segredo pelo Palácio de Buckingham, reiterou o website. Apesar da coroa britânica alegar eventos culturais, a maioria dos encontros ocorre com comandantes militares, chefes de inteligência e oficiais de segurança doméstica.

A reportagem cataloga as reuniões do príncipe em Londres com nobres do Golfo e muitas de suas viagens internacionais ao Oriente Médio, ao longo da última década, mesmo diante de um contexto de instabilidade, guerra e repressão contra ativistas pró-democracia na região.

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Detalhes sobre o conteúdo das reuniões de Charles com a aristocracia árabe são desconhecidos, mas ocasionalmente antecedem anúncios de vendas multibilionárias de armas por corporações britânicas, como a BAE Systems, observou a série investigativa.

As visitas do Príncipe de Gales também coincidem com eventos de escalada na repressão contra manifestações pró-democracia no Oriente Médio, à medida que a situação de direitos humanos em muitos estados do Golfo deteriora-se dramaticamente.

O mais recente encontro entre a Casa de Windsor e a realeza árabe ocorreu em dezembro, quando o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed Bin Zayed, visitou Charles e o Primeiro-Ministro Boris Johnson em Londres.

A reunião ocorreu apesar de críticas contundentes de experts da ONU sobre a condução de forças dos Emirados Árabes Unidos à guerra do Iêmen. “Civis no Iêmen não morrem de fome, são forçados à fome pela partes em conflito”, alertaram os especialistas.

Um porta-voz da Secretaria de Relações Exteriores do Reino Unidos afirmou à rede Declassified: “Visitas de oficiais da coroa são conduzidas por membros da Família Real a pedido do governo, para conceder apoio a interesses britânicos em todo o mundo”.

Um porta-voz da coroa confirmou: “Todas as visitas ao exterior do Príncipe de Gales são realizadas a pedido do governo de Sua Majestade … Os destinos são divulgados com antecedência e a imprensa internacional é convidada a cobrir os eventos em detalhes”.

O representante de Charles reiterou ainda que todas as decisões relacionadas às viagens são feitas em consideração de disponibilidade, custos e segurança à sua equipe. “Os custos são publicados anualmente como parte do Relatório Anual de Soberania”.

Nesta semana, em resposta a um documento do governo que demonstrou o aumento nas exportações militares do Reino Unido à Arábia Saudita, a organização humanitária Oxfam alertou que o Reino Unido efetivamente prolonga a guerra no Iêmen.

Londres recusa-se consistentemente a interromper a venda de armas a Riad, em contraponto a aliados ocidentais, como os Estados Unidos, que suspenderam as exportações do tipo sob receios concernentes à guerra no Iêmen e reiterados abusos de direitos humanos.

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