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Ocupação, apartheid e lutas Palestinas por justiça são debatidas no Fórum Social Mundial

Um menino palestino segura uma bandeira palestina, 29 de dezembro de 2017 [Ali Jadallah / Agência Anadolu
Menino palestino segura uma bandeira palestina, 29 de dezembro de 2017 [Ali Jadallah / Agência Anadolu

No último domingo (24) o Monitor do Oriente Médio organizou o painel “Ocupação, Apartheid e Lutas Palestinas por Justiça” no Fórum Social Mundial de 2021.  O webinar discutiu os processos de normalização com Israel com os países árabes, a situação do povo de Jerusalém sob a política de ocupação,  a expansão dos assentamentos na palestina ocupada e a vida dos palestinos refugiados.

O diretor do Memo, Daud Abdullah, discursou sobre a sua percepção acerca dos acordos de normalização e suas consequências, acreditando que a tendência é agravar as tensões e não instalar a paz.

“O Oriente Médio é, sem dúvida, uma das áreas mais voláteis e instáveis do mundo.  Regimes autocráticos, instituições governamentais frágeis, rivalidades interestaduais e guerras frequentes fizeram do Oriente Médio um teatro de constantes convulsões que levaram à proliferação nuclear e à migração em massa. Atualmente, há uma predisposição ao acúmulo de armas, por isso, a tendência da normalização das relações com Israel não irá inaugurar, a meu ver, uma era de paz. Pelo contrário, pode agravar as tensões e até mesmo alimentar o conflito em toda a região.”, ele explica.

Abdullah acredita que a “velha ordem” que dominou a região por décadas foi abalada pelos levantes de 2011 e as lutas populares por mudanças continuam até hoje. Neste contexto, a normalização teria sido um veículo para paralisar o processo de mudança, salvar os autocratas e garantir a supremacia de Israel, não apenas na Palestina, mas em toda a região. Daud completa que aqueles que decidiram normalizar com Israel acreditam que esta seja a melhor maneira de “garantir a sua sobrevivência e impedir a mudança desse processo, que começou há dez anos. Eles temem que a mudança resulte no surgimento de sistemas democráticos de governo”.

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Para Abdullah, a paz não pode ser imposta, precisa partir do povo, porque as pessoas da região são “os dispositivos permanentes no cenário político da região”. Pela sua perspectiva, os acordos de normalização, na melhor das hipóteses, são essencialmente de segurança e economia, não têm conteúdo político; “Entretanto, eles não refletem as aspirações do povo ou suas esperanças de justiça social e liberdade da ocupação estrangeira”.

“Não é apenas a ocupação que representa ameaças e causa mal-estar em toda a região, mas é a adesão de Israel a noções de supremacia. Há uma noção de privilégio e excepcionalismo, o Estado enxerga a si mesmo como a exceção à norma. Por isso, e não adere às normas internacionais de direito. Este é um problema fundamental, um obstáculo para a paz na região”, completa.

Para Hanady Halawani, apenas a ocupação israelense está se beneficiando com os acordos de normalização, que “foi o sinal verde para que(Israel)  prosseguisse com suas ações de violações aos direitos dos palestinos.”. Em sua fala, ela descreveu como é para uma palestina viver em Jerusalém sob o regime de uma ocupação racista. Ela é professora de Jerusalém e ativista, foi presa e proibida de entrar na Mesquita Al-Aqsa pelas forças israelenses.

O jornalista do Monitor do Oriente, Ahmad Hweidi ,  relatou suas pesquisas sobre a expansão dos assentamentos dentro do território palestino, afirmando que hoje 300 mil colonos israelenses vivem na Cisjordania ocupada e 160 mil na Jerusalém ocupada. São 121 assentamentos reconhecidos oficialmente pelo governo e mais de uma centena dos “postos avançados”, que não são reconhecidos oficialmente.  “Embora a área construída ocupada pelos colonos seja cerca de 2,5% da área total da margem oeste, não menos que 45,5% dela é proibida para os palestinos. Israel destinou estas terras para estradas entre assentamentos – utilizadas exclusivamente por colonos – e bases militares e terras agrícolas para assentamentos e áreas de segurança. Isto significa que a área restante para os palestinos na Cisjordânia é de 54,5%.”, diz Hweidi.

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Em sua fala, a pesquisadora Yafa El Masri falou sobre a situação dos refugiados palestinos. Ela resume o início do problema com a declaração do historiador Walid Alkhalid: “O único problema com o estabelecimento de uma pátria para os judeus na Palestina, é que a terra já era habitada”. Yafa completa citando os autores Illan Pape e Benny Morris, que afirmam que a população palestina sofreu uma limpeza étnica.

“Devido a esta violência, 750.000 palestinos foram deslocados à força das suas casas na Palestina para uma área mais segura, dentro da Palestina, como Gaza e a Cisjordânia, e também foram para países vizinhos, o maior número foi para o Libano (14%), 10% foram para a Jordânia, e outros 10% dos palestinos deslocados foram para a Síria. Nas suas novas comunidades de acolhimento, estes grupos deslocados tornaram-se conhecidos como Refugiados Palestinos sem Estado.”

O problema dos refugiados palestinos levou à criação da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos;  antes, “nunca havia sido criada uma agência da ONU para uma população específica e para funcionar durante um período de tempo tão longo. A UNRWA fornece aos refugiados palestinos do Médio Oriente assistência humanitária, educação, serviços de saúde, e até mesmo oportunidades de emprego.”, diz Yafa.

Ao contrário das outras agências da ONU, a UNRWA não tem orçamento fixo e depende da contribuição dos Estados membros, que decidem se, quando e quanto irão financiar a organização de ajuda humanitária.

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“Isto significa que se estes países decidirem financiar a UNRWA, os palestinos podem comer e as crianças vão à escola; se não o fizerem, assistimos a um cenário como o atual, em que a UNRWA enfrenta uma escassez de fundos e não pôde sequer pagar os salários dos seus funcionários nos últimos meses. A UNRWA emitiu uma chamada de emergência pedindo doações, deixando os refugiados palestinos com falta de dinheiro e serviços essenciais, como saúde, durante a pandemia de covid-19.”, explica Masri.

Para a pesquisadora, a ajuda humanitária é ineficaz e somente o direito ao retorno conseguiria acabar com essa crise de refúgio. “Os refugiados palestinos precisam mais do que ajuda, eles precisam de uma solução justa.”, diz.

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