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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Para 2021, muitos desafios, mas resistência e solidariedade contínuas

Mulheres de Gaza lançam a exposição 'Coronavírus e Arte', em 12 de novembro de 2020 [Mohammad Asad/Monitor do Oriente Médio]

O ano de 2020 termina com a perspectiva da vacinação contra a pandemia de covid-19 que ceifou milhares de vidas. Se esse anseio que mobiliza a humanidade hoje, contudo, ainda está no terreno das incertezas para os brasileiros sob o governo negacionista de Bolsonaro, a situação na Palestina, como não poderia deixar de ser diante da ocupação e apartheid sionistas, é ainda mais preocupante.

O Estado de Israel encomendou 8 milhões de doses da Pfizer e já recebeu a primeira remessa. Também chegou a outro acordo para a compra de mais 6 milhões da norte-americana Moderna. Cada pessoa terá que receber duas doses. Somando, são 14 milhões de doses, e uma população de 9 milhões nas áreas ocupadas em 1948, ou seja, em Israel, incluindo os palestinos. Ao que tudo indica, estes não estão sendo considerados na conta. A se considerar a discriminação a que estão submetidos, sob o jugo de 60 leis racistas, não seria surpresa se, quando muito, ficassem no final da fila.

Para os que vivem nos territórios ocupados em 1967, então, a exclusão é declarada. “Os cidadãos israelenses em primeiro lugar”, declarou o vice-ministro da Saúde sionista, Yoav Kish, à rádio pública Israel Kan Bet, ao considerar “ajudar” a Autoridade Palestina, caso sobrem doses. Nada de novo sob o apartheid institucionalizado, que, enquanto isso, promove campanha de relações públicas anunciando que será o primeiro estado a imunizar sua população, que inclui obviamente os colonos sionistas na Cisjordânia.

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Aos palestinos, portanto, enfrentar a pandemia em meio ao apartheid ainda será parte de sua trágica realidade em 2021. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou, segundo o jornal Haaretz, que planeja fornecer o suficiente para 20% da população que vive sob ocupação até meados do ano, mas o programa está atrasado, tanto na aquisição quanto na assinatura de acordos para tanto. A Autoridade Palestina pretende adquirir o suficiente para mais 40% dos palestinos por meio de parcerias com organizações humanitárias. Complicador, contudo, conforme a RTP Notícias, é que “os palestinos têm apenas uma unidade de refrigeração capaz de armazenar a vacina da Pfizer/BioNTech, que necessita ser mantida em temperaturas extremamente baixas”. A ocupação israelense é diretamente responsável por essa situação.

Auto-organização e resistência

Certeza, portanto, em relação ao enfrentamento da pandemia na Palestina sob apartheid é que sua população vai ainda ter que fazer frente à covid-19 com a auto-organização que demonstrou em 2020. Em Gaza, os habitantes, para os quais 95% da água encontra-se contaminada, cuidavam de higienizar as ruas e garantir a quarentena, assim como nas aldeias na Cisjordânia. Isso fez com que, apesar dos esforços sionistas em contrário, conseguissem reduzir a letalidade. Até a última semana de 2020, 1.198 pessoas que vivem sob ocupação sionista morreram em decorrência da covid-19.

Outra certeza é que os palestinos vão seguir resistindo. Há pouca ou nenhuma expectativa de mudanças na política do imperialismo sob Biden, a não ser por parte da gerente da ocupação, a Autoridade Palestina, que tratou de retomar a nefasta cooperação de segurança com Israel fiando-se nisso. Como escreveu o colunista Motasem A Dalloul ao Monitor do Oriente, sua crença é de que retome a “desacreditada, morta e enterrada” solução de dois estados, que vislumbra “a criação de um estado palestino independente conforme fronteiras de 1967, alguma troca de terras e Jerusalém Oriental como capital palestina”. Na verdade, como aponta o articulista, está menos preocupada com “paz” e mais em manter seus privilégios. Não à toa 2/3 dos palestinos querem que a Autoridade Palestina se vá. A maioria não se vê representada por ela.

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Sobre sua expectativa com Biden, o irrealismo é demonstrado ao se lembrar que, quando era vice de Barack Obama, o agora presidente eleito dos Estados Unidos teve papel fundamental para garantir historicamente o maior auxílio financeiro do imperialismo a Israel – US$ 38 bilhões por dez anos. Como fiel escudeiro do estado sionista, analistas apontam que provavelmente sequer interromperá o processo de normalização das relações entre estados árabes e Israel em curso. Biden também assegurou que não recuará na instalação da embaixada americana em Jerusalém – passo que Bolsonaro prometeu seguir na campanha eleitoral e afirmou que cumprirá em 2021.

A ofensiva contra o BDS (boicote, desinvestimento e sanções) a Israel também continuará em 2021, dos Estados Unidos ao Brasil, uma mostra de sua efetividade e fortalecimento, ano a ano – contra os ataques que virão, a resposta serão mais vitórias para isolar o apartheid sionista.

Os desafios são muitos. Para alguns, o cenário que se vislumbra pode ter o signo da derrota. Não é, contudo, o caso dos palestinos, cuja resistência heroica inspira oprimidos e explorados em todo o mundo. Estes são os aliados poderosos a cercar os palestinos com solidariedade internacional ativa: trabalhadores que enfrentam a militarização e genocídio pobre e negro com armas israelenses nas favelas e periferias brasileiras, mas também indígenas que conhecem como ninguém os efeitos da colonização. E judeus antissionistas que crescem mundo afora, além dos povos árabes, que enfrentam seus regimes e se levantam contra a normalização do apartheid.

Os inimigos poderosos da causa palestina – sionismo/imperialismo, regimes e burguesia árabes – temem essa solidariedade, expressa na campanha central de BDS. Temem as “pedras contra tanques”, porque sabem que nenhuma arma é capaz de aniquilar aqueles que já não têm medo, que não têm nada a perder, que estão dispostos a dar sua vida por libertação nacional, cuja única opção é resistir. É o que os palestinos transmitem de geração a geração. Ao persistirem, gritam ao mundo que a Palestina será livre, do rio ao mar. É questão de tempo. Para além de todas as dificuldades, o ano de 2021 será mais um degrau nessa caminhada.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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