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Biden traz bons frutos aos palestinos?

Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, em Wilmington, Delaware, 7 de novembro de 2020 [Angela Weiss/AFP/Getty Images]
Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, em Wilmington, Delaware, 7 de novembro de 2020 [Angela Weiss/AFP/Getty Images]

Fontes em Ramallah, Cisjordânia ocupada, recentemente revelaram que a Autoridade Palestina manteve contato com a campanha democrata de Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos. Canais diretos de comunicação foram aparentemente estabelecidos por um empresário palestino-americano. “Queremos que Biden esteja ciente de nossa disposição e prontidão para conversar”, reiterou um oficial da Autoridade Palestina.

A Autoridade Palestina, evidente, suspendeu seus contatos com o governo Trump após o presidente incumbente fechar o escritório da Organização para a Libertação da Palestina em Washington e reconhecer Jerusalém como “capital indivisível” do estado da ocupação de Israel, em 2018. A situação deteriorou-se após Trump cortar o auxílio a ongs palestinas e à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) e anunciar seu “acordo do século”, descrito pela Autoridade Palestina como “nova Declaração Balfour”.

Desde 2016, os Estados Unidos é visto como qualquer coisa, exceto mediador honesto nos esforços para solucionar a questão palestina. Trump representou de fato o presidente americano mais abertamente tendencioso a favor de Israel. A Autoridade Palestina, portanto, deverá mostrar satisfação com os resultados eleitorais nos Estados Unidos. Contudo, o que podem esperar os palestinos quando o Presidente Biden estiver enfim na Casa Branca?

“Diferente de qualquer outro presidente americano, Trump pleiteou a anexação da Cisjordânia ocupada e mostrou-se apoiador absoluto de Israel”, declarou o analista político Omar Jaara. “Desta forma, a Autoridade Palestina tem esperanças de ter em Biden um verdadeiro parceiro para trabalho conjunto”.

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O presidente eleito, acredita a Autoridade Palestina, pode ser alguém capaz de mudar a política dos Estados Unidos em relação a Israel-Palestina e ressuscitar a solução de dois estados. Embora desacreditada, morta e enterrada por muitos, a chamada solução vislumbra ainda a criação de um estado palestino independente conforme fronteiras de 1967, alguma troca de terras e Jerusalém Oriental como capital palestina.

Segundo o professor Abdul Sattar Qasim, da Universidade de Al-Najah na Cisjordânia, porém, a Autoridade Palestina de fato é “ingênua e estúpida” em crer que a única solução para o problema pode ser alcançada via Estados Unidos. “Todos os presidentes americanos demonstraram apoio absoluto e incondicional à ocupação israelense. Trump não foi particularmente extraordinário; sua abordagem foi distinta, simples assim.”

Biden já disse que não retornará a embaixada americana de Jerusalém a Tel Aviv. Como vice-presidente de Barack Obama, em 2016, ajudou Israel a obter o maior auxílio financeiro de sua história, no valor de US$38 bilhões. Sua campanha asseverou repetidamente seu apoio “robusto” a Israel e condenou qualquer esforço para instituir boicotes à ocupação. Biden prometeu também não utilizar o envio financeiro como moeda de troca por mudanças políticas em Israel. Kamala Harris, vice-presidente eleita, afirmou ao Comitê de Assuntos Públicos Estados Unidos-Israel (AIPAC), influente lobby sionista, que o compromisso de seu governo com a segurança de Israel deverá ser “absolutamente sólido”.

Qasim ainda questionou o repúdio de Biden à anexação israelense da Cisjordânia, promovida pelo governo Trump. “Mesmo sem a anexação, a Cisjordânia é controlada por Israel. Anexação ou não anexação, não faz diferença no cotidiano.”

Embora a Autoridade Palestina deposite esperanças no presidente democrata, também está ciente de que o republicano Donald Trump coordenou três “acordos de paz” entre Israel e países árabes. Entretanto, o presidente democrata Jimmy Carter mediou um primeiro tratado entre Israel e Egito; seu colega Bill Clinton alcançou ainda um acordo entre Israel e Jordânia.

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Os tratados com Egito e Jordânia foram ainda mais favoráveis a Israel do que os acordos de Trump, pois havia um conflito real entre os estados vizinhos. Israel então manteve sua ocupação sobre os territórios palestinos sob tutela dos estados árabes e assinou tratados que efetivamente protegeram a ocupação de qualquer futura reivindicação de Gaza e Cisjordânia por Cairo e Amã. Os acordos com os estados do Golfo e Sudão não possuem nenhum destes benefícios. O Sudão é um país bastante pobre sem impacto real na geopolítica da região, enquanto o Golfo mantém relações fortes, embora nos bastidores, com Israel, há décadas. Os pactos promovidos por Trump foram apressados ainda por razões puramente políticas, durante forte campanha eleitoral.

A Autoridade Palestina, argumenta Qasim, sabe que as relações com Biden dificilmente serão tão distintas das políticas de Trump. “Sobretudo, a Autoridade Palestina não quer mudar e ir adiante. Caso o fizesse, a liderança perderia seus privilégios e dinheiro”. O professor reiterou ainda sua crença de que a comunicação entre os líderes palestinos e a campanha de Biden é absurda. “A Autoridade Palestina, vale lembrar, encorajou e concedeu apoio à campanha do falecido presidente e premiê israelense Shimon Peres.”

Muqtedar Khan, professor de ciência política e relações internacionais na Universidade de Delaware, enfatizou: “Os Estados Unidos são o mais forte aliado de Israel.” Khan reiterou que todo presidente americano, desde 1973, seja democrata ou republicano, “concedeu assistência internacional substancial e tecnologia militar a Israel, além de protegê-lo de condenações internacionais sobre suas políticas em relação ao povo palestino.”

Não obstante, Omar Jaara enalteceu o contato entre a equipe de Biden e a Autoridade Palestina pelo simples fato de que “qualquer presidente americano é capaz de conter a agressão israelense contra os palestinos e solucionar o conflito.” Porém, não importa quem esteja na Casa Branca, o estado americano de fato favorece Israel em detrimento da Palestina. Conclui Jaara: “Biden não surge com presente algum ao povo palestino”.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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