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Relembrando a troca de prisioneiros de Gilad Shalit

Neste dia, nove anos atrás, a histórica troca de prisioneiros entre Israel e o grupo de resistência palestina Hamas ocorreu, com efeitos de longo prazo até os dias de hoje.

O quê: Israel e Hamas conduziram uma troca de prisioneiros após o acordo referente ao soldado israelense Gilad Shalit, assinado uma semana antes, libertando mais de 1.000 presos palestinos em troca de um único soldado da ocupação, capturado seis anos antes.

Onde: Palestina e Egito

Quando: 18 de outubro de 2011

O que aconteceu?

Neste dia, nove anos atrás, a histórica troca de prisioneiros entre Israel e o grupo de resistência palestina Hamas ocorreu, com efeitos de longo prazo até os dias de hoje. Conhecido como “acordo de Gilad Shalit”, o pacto determinou a soltura do soldado israelense mencionado, capturado pelo Hamas perto da fronteira entre Gaza e Israel, em 2006, em troca da libertação de 1.027 prisioneiros palestinos.

O acordo foi assinado no Egito em 11 de outubro de 2011, e resultou de meses de conversas clandestinas entre a liderança do Hamas e Israel, com envolvimento de autoridades egípcias e alemãs na compilação de uma lista de prisioneiros a serem libertados.

A assinatura foi tratada como êxito tanto por palestinos, quanto israelenses. Os palestinos, por um lado, viram a ocasião como oportunidade de ouro para reaver milhares de seus cidadãos das cadeias de Israel, em troca de um único soldado. Israel, por outro lado, representou o fato como vitória moral, ao sugerir a noção de que uma única vida israelense vale mais do que mil vidas palestinas.

Ambos os lados, contudo, também consideraram certo fracasso. Alguns israelenses repudiaram a soltura de combatentes e figuras políticas palestinas – com “sangue em suas mãos” – em troca de apenas um soldado. Alguns palestinos mantiveram-se céticos sobre as promessas de Israel de que devolveria todos os prisioneiros listados.

Uma semana depois, em 18 de outubro, a troca enfim ocorreu, de forma escalonada. Shalit foi transportado pelo Hamas em sua travessia da fronteira entre Gaza e Egito, onde foi mantido pela Cruz Vermelha e autoridades egípcias por algumas horas. Então, foi levado a Israel. No mesmo dia, 27 dos presos palestinos foram libertados e mandados ao Egito, seguidos por 450 outros prisioneiros, como parte da primeira fase do acordo.

Dois meses depois, em dezembro, outros 550 presos foram libertados por Israel, encerrando assim publicamente o acordo.

De modo geral, os prisioneiros palestinos abrangiam uma multidão heterogênea, com figuras provenientes de diversos partidos e organizações, incluindo Hamas, Fatah, Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP) e Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP). Outros presos libertados não eram filiados a qualquer grupo político ou militante; alguns poucos sequer eram palestinos, mas oriundos da Ucrânia, Jordânia e Síria.

Muitos dos 1.027 presos libertados não receberam permissão, porém, para retornar às suas casas e famílias na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Não obstante, algumas centenas de presos foram libertadas sob condição de deportação ou exílio, por supostamente representar ameaça a Israel.

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O que aconteceu a seguir? A traição de Israel

Embora cumprido por Israel, ao menos no papel, após a devolução de Shalit pelo Hamas, uma série de armadilhas ao acordo de troca de prisioneiros emergiu nos anos seguintes, revelando logro e traição israelense sobre alguns termos previstos pelo pacto.

O primeiro revés apareceu logo na segunda fase da libertação dos presos, quando Israel escolheu libertar aqueles que não considerava ligados a atos de “terrorismo” ou resistência, que não tivessem “sangue nas mãos”. Revelou-se que uma quantidade significativa dos presos não possuía sequer o aval diplomático para sua soltura, dado que 300 dos prisioneiros seriam libertados somente dentro de um ano.

Israel recusou-se também a soltar algumas das mais notáveis figuras da resistência palestina, como Marwan Barghouti e Ahmad Sa’adat, ao mantê-los encarcerados. A decisão deu-se, segundo informações, para conceder a Israel alguma vantagem em eventuais negociações futuras.

Em 2014, Israel então lançou uma onda de prisões por todo o território palestino, em resposta à captura de três adolescentes israelenses na Cisjordânia ocupada. As autoridades sionistas voltaram a deter, na ocasião, 60 dos presos libertados sob o acordo de Shalit.

Todas essas ações pelo lado israelense provaram à liderança palestina, independente de facção, que a ocupação de fato rompeu os termos do acordo e essencialmente traiu o compromisso, ao longo dos anos, após a troca de prisioneiros.

Os efeitos da traição israelense ainda são sentidos hoje pelo Hamas. Em junho desde ano, o movimento palestino anunciou que não haveria qualquer outra negociação até que os presos detidos novamente, em 2014, sejam libertados mais uma vez.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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