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Amor e casamento em tempos de coronavírus

Noiva e noivo se casam em meio à pandemia de coronavírus (Covid-19) em Ramallah, Cisjordânia, em 3 de abril de 2020 [İssam Rimawi - Agência Anadolu]

O amor é um sentimento natural que varre o coração de todo ser humano. Faz alguém decidir se casar e se associar a um parceiro vitalício. É parte normal da vida humana em todo o mundo! Mas o amor e o casamento podem vir a ser algo difícil ou impossível de alcançar ?!

O coronavírus mudou a forma como trabalhamos, estudamos e nos comunicamos com outras pessoas: as escolas estão fechando, muitas cerimônias foram canceladas e muitas pessoas foram convidadas a trabalhar em casa. A covid-19 se infiltrou em muitos aspectos de nossas vidas, incluindo o modo como nos apaixonamos ou nos casamos. Imagine estar separado(a) de quem que você ama, ou ficar preso(a) com quem você não ama, ou ter de ficar só?

À medida que o número de casos da covid-19 cresce globalmente, também aumenta o número de aniversários cancelados, viagens, casamentos e outras grandes reuniões planejadas para o ano.

“Cada redução no número de contatos que você mantém por dia com parentes, amigos, colegas de trabalho na escola terá um impacto significativo para reduzir a capacidade do vírus se espalhar na população”, diz o Dr. Gerardo Chowell, presidente de ciências da saúde da população na Georgia State University.

O que poderia ser o dia mais feliz da vida de muitos casais vai se tornando um dos dias mais estressantes que exige levar em consideração várias medidas e precauções. Um casamento tradicional vem com um milhão de detalhes – o local, o vestido, a lista de convidados, o bolo, as flores e, agora, estações de higienização das mãos. Após a nova pandemia de coronavírus, os casais estão ficando criativos com os preparativos para o casamento e reexaminando o que podem fazer para proteger seus convidados.

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Inicialmente, muitos países anunciaram que as cerimônias de casamento não deveriam ter mais do que a noiva e o noivo presentes, com uso de máscaras, em uma tentativa de impedir a propagação do coronavírus. Recomendaram que os casais transmitissem o evento em vídeo para amigos e familiares. Alguns gostariam de se casar mesmo com uma cerimônia menor. o mais rápido possível.Outros podem preferir adiar o grande dia ou cancelá-lo. E quando os casamentos são cancelados, as famílias podem perder muito dinheiro investido.

Durante meses, Mahmoud Asida e Sundus Othman planejaram seu casamento, que já havia sido adiado após a prisão de “Mahmoud Asida” pela ocupação israelense. No entanto, a ocasião foi adiada novamente, após o surto do coronavírus na Palestina. Mahmoud (31 anos), disse à agência da Anatólia: “Após o surto em Belém e Tulkarm, eu estava consultando minha família e noiva, então decidi adiar o dia do casamento por vários meses”. Ele acrescentou: “Esta é uma responsabilidade social e existe um medo de espalhar a doença durante reuniões em casamentos. Eu tinha duas opções: adiar o dia do meu casamento ou fazê-lo em pequena escala, mas decidi adiá-lo”

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Mesmo para aqueles entre nós com os casamentos mais felizes e estáveis, o distanciamento social para combater a disseminação do covid-19 oferece alguns sérios desafios à nossa estabilidade social. Estamos confinados a pequenos espaços com nossos cônjuges, com pouco ou nenhum alívio. Temos que equilibrar a vida profissional e pessoal, 24 horas por dia – sete dias por semana, juntar as crianças (ou até adolescentes) e isso pode ser uma receita para o desastre ou, pior ainda, o divórcio. A secretária executiva da Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental (ESCWA), Rola Dashti, disse sobre o impacto de coronavírus nos países do Oriente Médio: ” Esta é uma crise humana, uma crise de cidadãos, uma crise de vida, governos e cidadãos devem desempenhar um papel importante para obter uma solução que comece com a solidariedade de todos juntos

O que o mundo está experimentando agora com todos os aspectos da vida em suspensão, a Faixa de Gaza tem vivido há muito tempo e até agora. 2020 marca 53 anos desde a ocupação do Território Palestino e 13 anos do bloqueio de Gaza .

A Faixa é um pequeno ponto geográfico cercado desde 2007 pela ocupação israelense. Por ser um dos lugares mais densamente povoados do mundo, e um dos mais pobres, centenas de milhares de pessoas vivem em campos de refugiados em ruínas ou em prédios bombardeados. Tanto a ocupação quanto o bloqueio afetam todos os aspectos da vida dos palestinos. Eles não têm o direito de decidir onde podem morar e estudar e com quem podem se casar. Um dos efeitos menos conhecidos do cerco é o impacto que ele tem sobre os aspectos sociais e pessoais da vida, em compromissos e casamentos, por exemplo. A sitiada Faixa de Gaza tem muitas histórias ocultas que a mídia não pode acessar adequadamente. Muitas histórias de amor que não duraram devido ao fechamento de estradas e travessias, muitas pessoas envolvidas que não puderam realizar o dia do casamento devido a bombardeios contínuos e muitas pessoas casadas que foram separadas devido às difíceis condições econômicas e políticas. Gaza sempre lutou sozinha contra seu dilema fundamental na vida, mas agora enfrentará dois: a ocupação israelense e o coronavírus.

A rosa vermelha que é um símbolo do amor perdeu seu valor em muitos países e também em Gaza por causa da pandemia. É como se “amar ou ser amado” fosse proibido pelas regras do coronavírus. Os efeitos pandêmicos atingem centenas de trabalhadores que perderam o emprego como agricultores e o coronavírus demoliu a capacidade dos agricultores de flores de Gaza venderem seus produtos no exterior. Eles descobriram que a solução é descartá-las ou fornecê-las aos animais como alimento.

O coronavírus demoliu a capacidade dos agricultores de flores de Gaza venderem seus produtos no exterior [Mohammed Asad /Monitor do Oriente Médio]

Ninguém está familiarizado ainda com o “novo normal” do distanciamento social, e com as notícias sobre a pandemia mudando rapidamente, todos os dias trazem consigo uma nova realidade. Em 18 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde publicou um relatório relacionado à saúde mental e questões psicossociais, abordando instruções e algumas considerações sociais durante o surto decovid-19. O relatório sugere manter-se em conexão e nas redes sociais, fazer o máximo possível para manter rotinas diárias pessoais ou criar novas rotinas se as circunstâncias mudarem. Durante períodos de estresse, prestar atenção às próprias necessidades e sentimentos. O distanciamento social, que significa manter uma distância entre você e outras pessoas a pelo menos um metro e oitenta, afetará nossas relações, física e espiritualmente. Devemos trabalhar juntos para manter a distância física. Mas não a distância espiritual.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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