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Israel restringe direitos dos presos palestinos diante do coronavírus, denuncia conferência

Nesta sexta-feira (17), a Conferência Popular para Palestinos no Exterior, em parceria com o Fórum Latino-Palestino (FLP), como parte da campanha “Vocês não estão sós, estamos com vocês”, organizou um seminário intitulado “Restrições da ocupação sobre os prisioneiros palestinos sob pandemia de coronavírus”, através da plataforma Zoom. O evento marcou o Dia dos Prisioneiros Palestinos.

Parlamentares e ativistas da América Latina participaram do seminário, incluindo Julia Perié, deputada argentina e membro do partido nacional no governo; Bairon Leonardo Valle Pinargote, político equatoriano; Ahmad Said Mourad, ex-deputado brasileiro e chefe da Liga de Parlamentares por al-Quds – América Latina; Fabio Bosco, ativista do BDS – Brasi;l e Soraya Misleh, jornalista e ativista, coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino no Brasil. Também participou Adnan Al-Sabah, advogado e membro do Comitê Jurídico da Conferência Popular. Ahmad Madi moderou o seminário.

Julia Perié: Há um sistema judicial que assessora a opressão contra os prisioneiros

A parlamentar argentina Julia Perié destacou que há atualmente mais de vinte prisioneiros palestinos em condições críticas devido ao covid-19.

“As condições são precárias e há negligência médica nas cadeias de Israel, de modo que eles [os prisioneiros] não possuem os tão necessários meios para se protegerem contra o vírus, como distanciamento social ou tratamento de saúde adequado”, acrescentou Perié.

Segundo a parlamentar, prisioneiros palestinos – incluindo mulheres e crianças – estão particularmente vulneráveis à pandemia de coronavírus. Além disso, há um sistema judiciário que assessora todo um sistema opressivo.

Perié também destacou as condições desumanas sob as quais são mantidos menores de idade nas cadeias de Israel, além de violações constantes de direitos humanos e contra direitos estabelecidos pela Convenção de Genebra, cometidas pela ocupação.

“Entretanto, o isolamento na Palestina é histórico, desde a criação de Israel em 1948 e a ocupação total da Palestina, em 1967. É importante continuar a expor as violações israelenses aos órgãos internacionais, como o Comitê das Nações Unidas contra a Tortura e outros”, enfatizou a parlamentar argentina.

Perié concluiu ao reafirmar o papel de legisladores e ativistas latino-americanos em manter as denúncias em torno da verdadeira face da ocupação israelense, também durante a pandemia de coronavírus.

Bairon Valle: É importante converter a solidariedade em atividades regionais e políticas de governo

Em sua fala, o político equatoriano Bairon Valle comentou sobre o contexto histórico das relações entre países da América Latina e Palestina. Valle destacou que entre 2005 e 2006, governos locais passaram a deslocar suas políticas internacionais em aproximação clara à causa palestina. No fim da década de 1980, Cuba e Nicarágua foram os primeiros países a reconhecer oficialmente o estado palestino. Desde 2008, outros países latino-americanos o fizeram, notavelmente Brasil e Argentina, em 2010.

“É importante converter as campanhas de solidariedade em atos regionais e políticas de governo, e unificar a agenda e trabalhar com este objetivo, incluindo o papel diplomático e econômico das campanhas de boicote”, reiterou.

Valle concluiu: “É fundamental ainda fortalecer o papel popular na diplomacia ao mobilizar as comunidades [árabes e palestinas] na América Latina e, deste modo, mobilizar também a sociedade civil.”

Said Mourad: Israel deve ser responsabilizado e os prisioneiros palestinos devem ser soltos

Ahmad Said Mourad, ex-deputado brasileiro e chefe da Liga de Parlamentares por al-Quds – América Latina, reafirmou em sua fala o respeito mútuo histórico entre árabes, judeus e cristãos e o modo como a mídia tradicional tende a distorcer os fatos para manter a polarização e a opressão contra os palestinos.

Também expressou solidariedade ao comentar sobre a situação dos prisioneiros palestinos mantidos nas cadeias da ocupação sob a crise do coronavírus. Mourad enfatizou que greves de fome tornaram-se o único meio pelo qual prisioneiros palestinos são capazes de atrair alguma atenção para sua causa.

“Israel deve ser responsabilizado e os prisioneiros devem ser libertados de seu sofrimento nas cadeias da ocupação”, concluiu Mourad.

Fabio Bosco: Suposto direito de defesa de Israel não existe segundo a lei internacional

Fabio Bosco, ativista brasileiro do movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS – Brasil), argumentou que o direito de resistir à ocupação israelense sobre a Palestina é reconhecido devidamente pela Convenção de Genebra e resoluções da ONU.

“Trata-se do mais importante direito do povo palestino para combater a opressão e a ocupação na Palestina”, reiterou, ao destacar que o chamado direito de defesa de Israel é inexistente segundo a lei internacional.

“Israel é a potência ocupante, então deve cumprir com os direitos, leis e resoluções para proteger o povo palestino. Segundo a lei internacional, Israel deve cumprir com seus deveres como potência ocupante”, declarou Bosco.

O ativista destacou ainda que um grave problema é representado pelo poder de veto do governo dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU, que obstrui qualquer resolução vinculativa que possa proteger os direitos palestinos e condenar Israel no âmbito internacional. “O Conselho de Segurança deve votar sanções contra Israel, como ocorreu antes contra o regime de apartheid da África do Sul”, enfatizou Bosco.

Bosco concluiu que o papel dos ativistas em todo o mundo e da comunidade internacional é manter as recorrentes denúncias sobre as violações de Israel e demonstrar solidariedade efetiva à causa palestina, incluindo o apoio às campanhas de boicote contra a ocupação.

Soraya Misleh: A comunidade internacional é cúmplice e sustenta a ocupação israelense

A jornalista Soraya Misleh, coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino no Brasil, destacou que há hoje em torno de 5.000 prisioneiros palestinos nas cadeias da ocupação, o que representa a continuidade da Nakba (catástrofe palestina) até os dias de hoje, desde a criação do Estado sionista de Israel, em 1948.

“Não devemos esquecer o passado porque o passado ainda é presente na Palestina, na forma de opressão, colonização, racismo e limpeza étnica”, enfatizou Misleh.

A jornalista considera a comunidade internacional cúmplice ao conceder apoio e sustentar a ocupação israelense sobre a Palestina.

“O povo palestino em Israel é vulnerável a discriminação, em particular durante o surto de coronavírus. Os palestinos não são testados e políticas de demolição israelenses são mantidas durante a crise, por exemplo, no deserto do Negev”, denunciou a jornalista.

Adnan Al-Sabah: Comitê Jurídico da Conferência Popular busca defender os presos palestinos em fóruns internacionais

O advogado Adnan Al-Sabah, membro do Comitê Jurídico da Conferência Popular para Palestinos no Exterior, discursou brevemente sobre o lançamento da conferência em fevereiro de 2017, com participação de mais de 6.000 delegados de mais de 60 países. Al-Sabah falou da missão do projeto: reviver, ativar e promover o papel dos palestinos na diáspora.

“A Conferência estabeleceu diversos comitês responsáveis ativos em certas áreas, como: articulação política, com partidos e organizações de todo o mundo; relações públicas; questões de Jerusalém; mulheres e jovens; articulação de mídia; assuntos financeiros e legais, entre outros”, detalhou Al-Sabah.

“Em cooperação com outras organizações, incluindo comunidades palestinas e entidades na Europa, lançamos uma campanha internacional em apoio aos prisioneiros palestinos nas cadeias de Israel. A campanha internacional enviou cartas a parlamentares na Europa, Sudeste Asiático, Rússia e África do Sul, reivindicando atos nos parlamentos desses países para pressionar seus governos a agir em nível internacional, em apoio aos presos palestinos”.

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Al-Sabah concluiu ao relatar que a Conferência compôs um comitê de especialistas em direito para preparar e conduzir processos legais sempre que possível, em cortes domésticas e internacionais, em defesa dos direitos dos prisioneiros palestinos contra o Estado de Israel e seus oficiais implicados em violações humanitárias.

Vale mencionar: a campanha “Vocês não estão sós, estamos com vocês”, em solidariedade aos prisioneiros palestinos nas cadeias da ocupação, busca mobilizar apoio aos detentos e denunciar a dura realidade e as violações cometidas pela ocupação de Israel, em particular, sob a pandemia de coronavírus e os riscos decorrentes da propagação da doença, devido a deliberada negligência médica.

A campanha também busca internacionalizar a luta dos prisioneiros palestinos ao levar sua causa a fóruns internacionais, a fim de pressionar a ocupação israelense a libertá-los com urgência.

O Fórum Latino-Palestino foi criado em 2019 com foco nos direitos do povo palestino sob ocupação. Segundo seus organizadores, busca apoiar os palestinos à luz das reiteradas violações da ocupação sionista e trabalha para aproximar pontos de vistas comuns entre os povos em termos de política e mobilização popular.

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Palestina: quatro mil anos de história
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