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Idlib matou as negociações de paz na Síria?

Prédios desmoronados e danificados por ataques de aviões russos que atingiram áreas residenciais em Idlib, Síria, em 30 de janeiro de 2020 [İzzeddin İdilbi/Agência Anadolu]

Em dezembro passado, Robert Malley, presidente e CEO do International Crisis Group, escreveu um artigo para a revista Foreign Affairs, abordando o tópico: “As guerras indesejadas: por que o Oriente Médio é mais combustível do que nunca”. Hoje, no auge de Na crise de Idlib, faço uma pergunta semelhante: “Por que a paz na Síria é mais implausível do que nunca?”

As negociações de Sochi e Astana foram tidas como garantidoras da paz na Síria. Porém, novos bombardeios das forças do regime sírio apoiadas pela Rússia em Idlib mostram que os dois acordos (Sochi e Astana) estão em perigo e foram violados pela Rússia.

Durante os últimos anos da crise síria, apesar de haver negatividade em suas relações – como a derrubada de um avião de guerra russo pela Turquia em 2015 – a Turquia e a Rússia mantiveram seu diálogo. Juntamente com o Irã, outro apoiador do regime sírio, eles iniciaram o Processo Astana para resolver a guerra síria, que está em andamento desde 2011. Ambos os países negociaram um acordo para criar uma “zona desmilitarizada” na região noroeste de Idlib. Isso ajudou a evitar um ataque do governo à área.

Além de expandir sua cooperação diplomática com os vizinhos imediatos da Síria, a Rússia estendeu muitos esforços para expandir as negociações do Processo Astana. Chegou ao Egito, Emirados Árabes Unidos, Emirados Árabes Unidos, Líbano e até ao Iraque devastado pela guerra, devido ao restabelecimento de relações diplomáticas com Damasco.

Sob a atenção de meios de comunicação internacionais às áreas de alinhamento e atrito no “triunvirato Rússia-Irã-Turquia”, a Rússia ampliou bastante seus esforços de divulgação sobre a Síria junto aos países árabes.

Quando olhamos para os ataques da semana passada pelo regime de Assad, a Rússia parece estar longe de sinalizar seu favorecimento a uma solução política, como antes.

Em seu voo de volta do Senegal, em 29 de janeiro, o presidente da Turquia, Erdogan, anunciou a um grupo de repórteres: “O Processo Astana se tornou moribundo”. Erdogan exigiu avaliar como a Turquia, a Rússia e o Irã podem ajudar a reviver as negociações.

Presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan em Ankara, Turquia, em 30 de dezembro de 2019 [Murat Kula / Agência Anadolu]

A declaração de Erdogan chega em um momento em que as forças do regime sírio, apoiadas pela Força Aérea Russa, avaçaram no sul rural de Idlib e estabeleceram controle sobre vastas áreas. A Turquia espera que o regime de Assad volte dos postos de observação turcos no noroeste da Síria neste mês. Se as advertências da Turquia ao regime de Assad não forem levadas em consideração, um êxodo de refugiados ressuscitará, afetando a Europa em grande parte.

A mensagem de Erdogan é clara: como Estado garantidor de Damasco, Moscou deve ser responsável por impedir ataques em zonas desmilitarizadas pelo regime de Assad e por grupos de milícias apoiados pelo Irã, que violaram repetidamente os acordos.

Um novo afluxo de refugiados de Idlib, como escrevi em outubro passado, precisa de apoio internacional para se gerenciar. A Alemanha tenta explicar a importância das negociações com a Turquia sobre a catástrofe humanitária em Idlib para seus outros parceiros europeus, especialmente a França. No entanto, as disputas internas e brigas severas entre os estados membros da União Européia causaram um longo atraso no enfrentamento desta trágica odisseia de migrantes e refugiados. A Turquia já abriga 3,6 milhões de refugiados, sobrecarregando o país. Seguindo a política de portas abertas, a Turquia percebeu que os interesses políticos ou econômicos de nenhuma nação são mais importantes que a segurança e a soberania nacional da Turquia. Portanto, a Turquia avisa os países ocidentais de que, no caso de ocupação da região de Idlib, ela não assumirá sozinha a responsabilidade de sediar a nova onda de refugiados.

Crianças sírias andam na lama depois que uma forte chuva caiu em um campo de refugiados na Síria, em 6 de fevereiro de 2016 [Bulent Kilic/AFP/Getty Images]

A Turquia tem como objetivo proteger a vida e as propriedades de civis inocentes em suas operações em Idlib, além de tentar assinar um acordo sustentável com os países europeus. Um acordo sobre refugiados é vital, via negociação, e não ameaças.

Enquanto isso, mais de meio milhão de sírios estão fugindo dos combates de Idlib. Essa é claramente uma das maiores ondas de deslocamento desde o início da guerra civil síria em março de 2011. A Turquia tem atuado de maneira equilibrada entre fornecer santuário para os que fogem da guerra na Síria e reduzir o número de refugiados que viajam para a Europa, além de estabelecer uma enorme cidades de tendas em Atme e na vila Kah, localizada no governo Idlib, para os sírios que fogem.

Por outro lado, apesar de desempenhar um papel importante, a Rússia costuma fechar os olhos aos refugiados. Portanto, a Rússia concedeu o status de refugiado a apenas um cidadão sírio desde 2011, de acordo com o Comitê de Assistência Cívica (CAC), uma ONG sediada em Moscou que presta assistência a refugiados. A Rússia quer proteger seus interesses no Oriente Médio, no entanto, quando se trata de refugiados, não quer arcar com o fardo. Idlib nos mostra que os esforços da Rússia para atender às necessidades dos deslocados pelo conflito sírio foram insignificantes, enquanto seu envolvimento diplomático e militar no conflito foi significativo. A Rússia deve usar seu poder para ajudar a enfrentar a crise global de refugiados e assumir resṕsaboçodades, de acordo com sua capacidade.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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