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Coletivo Shireen Abu Akleh realiza seu primeiro evento em livraria de São Paulo

10 de julho de 2025, às 17h39

Vigília no primeiro aniversário da morte da repórter palestino-americana Shireen Abu Akleh, em frente à Casa Branca, em Washington DC, Estados Unidos, em 11 de maio de 2023 [Mostafa Bassim/Agência Anadolu]

O Coletivo Shireen Abu Akleh de Jornalistas Contra o Genocídio conduzirá nesta sexta-feira, 11 de julho, seu primeiro evento público, com debate sobre as condições de vida das mulheres palestinas sob genocídio israelense, em São Paulo, capital.

A roda de conversa, com sete especialistas, todas mulheres, ocorrerá na Livraria Ponta de Lança, na Rua Aureliano Coutinho, 26, no bairro central de Vila Buarque, das 19h às 21h, com entrada gratuita.

Dentre as participantes, estarão as cofundadoras do coletivo Dani Avelar — mestre em jornalismo de conflito pelo programa Erasmus Mundus —; Gizele Martins — repórter e pesquisadora com enfoque nas similaridades entre o genocídio contra o povo palestino e a militarização das favelas no Brasil —; e Letycia Bond, jornalista de direitos humanos e não humanos, artista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP).

Estarão presentes também Amyra El Khalili, beduína palestino-brasileira, professora de economia e editora do Movimento Mulheres pela Paz na Palestina e da Aliança RECOS — Redes de Cooperação Comunitária desde o Sul Global; Francirosy Campos Barbosa, antropóloga, pesquisadora e docente da USP – Ribeirão Preto, coordenadora do Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes (Gracias); e Rawa Alsagheer, da Rede Samidoun de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos.

LEIA: Uma economia do genocídio: Israel e o Relatório Albanese

A conversa terá ainda participação da jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh, filha de um sobrevivente da Nakba de 1948 e membro da diretoria da Ciranda Internacional da Informação Independente e da Frente em Defesa do Povo Palestino.

O coletivo foi formado em 10 de junho com manifesto contra a cumplicidade midiática ao genocídio conduzido por Israel na Faixa de Gaza, coincidindo com o ataque de Israel ao barco humanitário Madleen, da Flotilha da Liberdade, em águas internacionais.

Sua declaração inaugural notou compromisso como os “princípios do jornalismo ético, antirracista e do desenvolvimento sustentável voltado ao interesse público, conforme o código de ética profissional”, ao reportar silêncio e cumplicidade de redes corporativas e públicas da imprensa brasileira. 

“Este silêncio não é neutro”, reiterou a nota. “É político. Mais do que isso, é conivente com a barbárie”.

Ao mencionar a falta de cobertura sobre o sequestro por Tel Aviv do ativista brasileiro Thiago Ávila, tripulante do Madleen, ressaltou o alerta:

A omissão desses fatos pela imprensa não é descuido editorial — é uma escolha política. Enquanto isso, milhares de palestinos continuam sendo mortos em Gaza, com corpos de crianças retirados dos escombros, hospitais destruídos e jornalistas assassinados no exercício de sua profissão.

Segundo o coletivo, veículos de mídia no Brasil, em detrimento da categoria, limitam-se “a repetir narrativas oficiais do Estado de Israel, ao criminalizar a resistência e silenciar sobre as responsabilidades de uma potência ocupante que, há décadas, viola o direito internacional”.

Constatamos com indignação que sequer assassinatos de jornalistas na cobertura direta dos fatos em Gaza bastam para mobilizar a imprensa mundial, em defesa de seus profissionais e responsabilização de Israel.

“A imprensa tem o dever de informar, de denunciar injustiças e de amplificar as vozes silenciadas”, concluiu, “e não de naturalizar o massacre de um povo”.

O coletivo foi batizado em homenagem a Shireen Abu Akleh, correspondente palestino- americana da rede internacional Al Jazeera, morta por um franco-atirador israelense na Cisjordânia ocupada, enquanto cobria uma invasão armada no campo de refugiados de Jenin, em 11 de maio de 2022.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza sitiada há quase 640 dias, com mais de 57.600 mortos, 135 mil feridos e dois milhões de desabrigados, em condições de fome, doença e miséria. A maioria das vítimas são mulheres e crianças.

Ao longo do genocídio em Gaza, forças da ocupação mataram ao menos 179 repórteres e cinegrafistas, conforme os dados do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), radicado em Haia, emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos em Gaza.

O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.