Imagine uma única mordida de comida, escolhida a dedo com cuidado e oferecida como um gesto de amor; esta é a alma de Lugma: Pratos Abundantes e Histórias do Meu Oriente Médio, o livro de receitas solo de estreia da chef bahreinita Noor Murad, com lançamento previsto para esta semana. Esta coleção com mais de 100 receitas é mais do que um simples guia culinário; é uma homenagem sincera à comida, à cultura e ao povo do Oriente Médio, repleta de histórias pessoais e um inabalável sentimento de amor. Para Murad, que alcançou destaque como ex-chefe da Cozinha Experimental Ottolenghi, Lugma é um projeto profundamente íntimo que reflete suas raízes e sua trajetória, tanto como chef quanto como contadora de histórias.
O título Lugma, que significa “uma mordida” em árabe, resume a essência do livro. Em entrevista ao MEMO, Murad explica que uma lugma é mais do que apenas um pedaço de comida, é uma conexão. “Lugma é algo bastante íntimo que você tem entre pessoas queridas”, diz ela.
“No Oriente Médio, especialmente na minha região, é muito comum comer com as mãos… As pessoas costumam dizer: ‘Ah, vou fazer uma lugma do meu prato’, então escolhem com as próprias mãos o pedaço que querem para você e entregam. É uma forma de amor e carinho.”
Esse gesto de compartilhar se tornou a metáfora perfeita para seu livro de receitas.
“Há tanto amor nisso”, acrescenta.
LEIA: Raízes palestinas, espírito brasileiro: O impacto das mulheres palestino-brasileiras
A jornada culinária de Murad é tão diversa quanto a região que ela celebra. Nascida no Bahrein, ela estudou em Nova York e agora mora em Londres. Como resultado, ela traz uma perspectiva global aos sabores vibrantes de sua criação. Suas receitas se inspiram nos elaborados pratos de arroz e limas pretas do Golfo, na abundância de ervas e notas ácidas do Irã, nas especiarias ousadas e no picante da pimenta da Índia e na culinária colorida e vibrante do Levante. Pratos como Fattoush de Primavera, Berinjelas Recheadas, Cordeiro Feno-grego Cozido Lentamente com Pimentas em Conserva e Bolo de Pistache com Labneh exibem essa rica tapeçaria, combinando tradição com o toque inovador de Murad.
No entanto, Lugma não é apenas uma celebração da comida; é um testemunho de resiliência e propósito.
A criação do livro coincidiu com um período tumultuado no Oriente Médio, particularmente com a escalada da guerra de Israel em Gaza. Murad compartilha abertamente como isso moldou seu processo: “Quando as coisas realmente começaram, eu estava no meio de um processo de teste de receitas. Isso realmente mexeu muito com a minha cabeça, porque é um momento terrível para qualquer pessoa árabe, muçulmana ou da região… Há pessoas que não conseguiam comer enquanto eu testava todas essas receitas.” Essa dissonância alimentou sua determinação em destacar a beleza e a diversidade da região.
“Eu realmente quero mostrar que o Oriente Médio é diverso. É lindo. É rico em cultura e patrimônio”, enfatiza.
“Há tantas vozes vindas desta parte do mundo, e há tanto a dizer e celebrar. Nossa comida é uma dessas muitas, muitas coisas.”
Esse sentimento de celebração transparece nos elogios que Lugma já recebeu.
A escritora gastronômica Diana Henry o descreve como “pessoal, lindamente escrito”, observando que “a voz de Noor te atrai e te prende — e as receitas são absolutamente gloriosas.”
LEIA: ‘Nosso futuro passa fome’, alerta vencedor de Prêmio Basco de Gastronomia
Yotam Ottolenghi, mentor de longa data de Murad, compartilha esse sentimento: “Há uma generosidade incrível na culinária de Noor, capturando o espírito de tantos cozinheiros em todo o Oriente Médio: gestos ousados, sabores intensos, universos inteiros de comida em torno de uma única mesa. Noor também é um talento único; sua culinária reflete a essência do conforto doméstico, além de um paladar inovador incomparável.”
Para Murad, Lugma é uma forma de resgatar e compartilhar a narrativa de uma região frequentemente incompreendida.
“Isso quase impulsionou o propósito de Lugma e o tornou ainda mais forte para mim”, explica ela. O livro de receitas convida os leitores a entrar em seu mundo, oferecendo não apenas receitas, mas um pouco de sua herança, seu amor e sua esperança. É um banquete para os sentidos e a alma, um lembrete do poder da comida para conectar, curar e inspirar.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.