clear

Criando novas perspectivas desde 2019

‘Flotilha do genocídio’ some do radar e entrega explosivos a Israel

26 de junho de 2025, às 16h40

Barco de carga HC OPAL [hc-chartering.com]

Um barco com bandeira de Antígua e Barbuda, identificada como HC Opal, foi flagrado entregando explosivos de uso militar a Israel, em violação da lei internacional e mesmo diretivas do próprio país onde está registrado.

A carga clandestina destinou-se a Gaza, sob genocídio em curso, com itens essenciais à artilharia israelense.

Operado pela firma dinamarquesa Ocean 7 Projects, administrado pela alemã Marlow Navigation Co. Ltda, o cargueiro descarregou ao menos dez toneladas de hexacloretano no porto de Haifa, em 4 de junho, material químico usado pelas Indústrias Militares de Israel (IMI), subsidiária da Elbit Systems, para fabricar projéteis M150. 

Além de hexacloretano, a embarcação transportou detonadores, componentes usados em foguetes, hexogeno (T4) e TNT, segundo as informações.

Em 29 de maio, o governo de Antígua e Barbuda emitiu uma diretiva ao explicitamente proibir embarcações sob sua bandeira de exportar armas ou equipamentos militares a zonas de conflito. No mesmo dia, o HC Opal se desligou dos radares.

O cargueiro ressurgiu somente em 5 de junho, já descarregado, como evidenciado pela profundida mínima da quilha — 1.6 metros acima de seu último registro —, de modo a indicar redução considerável do peso, consistente com descarregamento.

LEIA: Albanese pede sanções imediatas contra Israel pelo genocídio em Gaza

Desligar-se dos radares é ainda violação grave de convenções marítimas internacionais, notou a iniciativa No Harbour for Genocide, campanha de organizações da sociedade civil, grupos de direitos humanos e especialistas em direito.

“Embora suas ações possam mascarar o escrutínio público sobre as movimentações do cargueiro, alicerçam o caso para responsabilizar o capitão, operadores, seguradora e os proprietários do HC Opal por traficarem materiais ilegais”, comentou a campanha.

A diretiva de Antígua e Barbuda corrobora ainda que embarcações transgressoras estão sujeitas de apreensão no exterior e revogação de registro, bem como processo legal. A política se alinha às obrigações do país sob a lei internacional, incluindo Convenção das Nações Unidas sobre as Leis dos Mares e Comércio de Armas.

Mahmoud Nawajaa, coordenador-geral do comitê nacional da campanha palestina de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), reivindicou da gestão caribenha que aplique a lei sobre suas diretivas imediatamente.

“O movimento de BDS saudou a posição inequívoca de Antígua e Barbuda em nome de suas obrigações legais sob a lei internacional”, destacou Nawajaa. “Contudo, instamos agora que traduza sua posição declarada a ações concretas, para combater essa grave infração de suas normas e sua soberania, incluindo ações legais”.

A seguradora norueguesa Gard também foi denunciada, ao subscrever a viagem do HC Opal. Ativistas advertem que a Gard carrega responsabilidade por facilitação do tráfico ilegal de armas.

Com base em dados navais e investigação técnica conduzida pelo BDS, estima-se que a embarcação tenha importado a Israel 350 toneladas de materiais bélicos, em ao menos 23 contêineres. O inventário inclui diversos itens proibidos pelas Nações Unidas.

O coordenador da Campanha de Embargo Militar do BDS, dr. Shir Hever, caracterizou a jornada como parte de uma “flotilha do genocídio”.

“O HC Opal e barcos similares não são meros cargueiros”, observou Hever. “Constituem uma flotilha do genocídio, uma linha de suprimento para os crimes de Israel cometidos contra o povo palestino. De fato, toda sua carga é matéria-prima a itens de artilharia e bombas ar-superfície”.

“Uma única bomba MK84 pode destruir todo um prédio residencial”, acrescentou, “ao matar famílias palestinas inteiras”.

A violação coincide com o contexto brutal de genocídio israelense em Gaza, com cerca de 56 mil palestinos mortos e dois milhões de desabrigados desde outubro de 2023, de acordo com estimativas oficiais. Estima-se, no entanto, subnotificação.

Mulheres e crianças compreendem a maior parte das vítimas, sob cerco absoluto, sem comida, água, medicamentos, incluindo obstruções israelenses de marchas e flotilhas humanitárias com destino a Gaza.

LEIA: Novo estudo confirma subnotificação em Gaza, com mais de 84 mil mortos